Seguindo a tradição dos filmes de ação de outrora, novo filme de Chris Hemsworth agrada pela violência e escapismo durante a pandemia
Uma das coisas que mais li em referência ao longa Resgate, do diretor Sam Hargrave, com Chris Hemsworth (conhecido por interpretar o Thor), era de que se tratava de uma empreitada no melhor estilo John Wick, franquia protagonizada por Keanu Reeves. Ocorre que, ambas bebem diretamente da fonte dos "filmes de brucutu" (sub-gênero que o Poltrona POP criou para identificá-los, somos ousados para tanto ; )) que foram popularizadas nos anos 80, mas que já rolam no cinema desde o final dos anos 60, na época em que os grandes filmes de western foram perdendo popularidade para os dramas de guerra.
Os "exércitos de um homem só", "verdadeiros heróis americanos" ou "brucutus" são recorrentes nas telonas, especialmente representados por heróis como Paul Kersey (Charles Bronson), Braddock (Chuck Norris) e, o mais popular de todos, sem sombra de dúvida, John Rambo (Sylvester Stallone). Até mesmo as mulheres tiveram seu espaço, como vimos (e adoramos) em diversas produções de Hong Kong, como Angel Enforces, Lethal Panther, entre outros.
A história era quase sempre a mesma: Homem (ou mulher) injustiçado, traído ou amargurado decide se armar até os dentes para fazer justiça com as próprias mãos, se vingar ou resolver um problema pessoal qualquer. A ambientação era em um cenário de front de guerra ou urbano, nos casos de filmes com pegada mais policial. A costumeira falta de roteiro ou bons diálogos era compensada com quotes lacradores e muito tiro, porrada e bomba. Foi uma receita de sucesso até metade dos ano 90, quando o formato ficou enfadonho e o público um pouco mais exigente.
Porém, nos últimos anos, vimos o surgimento de várias produções dedicadas a ressuscitar este sub-gênero dos filmes de ação, como a própria franquia Os Mercenários, que traz diversos atores das antigas, Machete (2010), Plano de Fuga (2012) e Sabotagem (2014). Todos recheados de violência e fanfarronice. John Wick, como já disse, até bebe dessa fonte, mas em alguns pontos se diferencia pela trama inteligente e mundo secundário bem criado. Mas Resgate, definitivamente, mergulha de cabeça na velha fórmula dos filmes de brucutu.
A direção de fotografia, de Newton Thomas Sigel (X-Men: Apocalipse), é incrível, um dos pontos altos do longa e contribuem com o ritmo do filme, em cenas que tiram o fôlego. Alguns ângulos, em certas situações, são incômodas por realçar a violência apresentada. Requinte seria uma palavra, estranha, mas adequada ao trabalho de de Sigel neste filme.
O roteiro, assinado por Joe Russo (que co-escreveu a graphic-novel original com o irmão Anthony Russo e Ande Parkes) é legal e traz todas as referências do sub-gênero. Temos as frases de impacto que tanto amamos ouvir sendo escarradas na cara dos vilões pelo herói e palavrão é vírgula. Nunca senti o sub-gênero tão bem representado, desde de Os Mercenários, de 2010. Não posso deixar de falar da previsibilidade do roteiro, uma bola fora, mas o final ousado quase nos faz esquecer desse deslize. Os Irmãos Russo, produtores do filme, já trabalharam com Hemsworth nos filmes da Marvel Studios.
A produção, rodada na Índia, usa um recurso que era comum em filmes do sub-gênero dos anos 80, que é utilizar casting e locações baratas de fora dos EUA. No caso em tela, a vantagem foi ter usado a estrutura de Bollywood, a industria cinematográfica indiana, que vem destacando-se nos últimos anos pelo apelo pop de suas produções.
Chris Hemsworth é a única estrela de primeira grandeza do filme. Os demais são talentos indianos que foram muito bem aproveitados. Destaque para Randeep Hooda, um galã experiente do cinema indiano, com 20 anos de carreira e muito requisitado. O ator deu ao personagem, Raju, uma profundidade e carisma raramente testemunhados em filmes de ação. Um ator desconhecido por aqui, mas que chama a atenção pelo talento.
O novo talento apresentado, Rudhraksh Jaiswal, é uma boa aposta. Inexperiente, com apenas cinco créditos na carreira, tem potencial para alçar vôos maiores, agora que figura (na semana da publicação desta crítica) entre as 500 celebridades mais populares do IMDb, popular site de registro cinematográfico. Levo fé, uma vez que, foi de Bollywood que surgiu meu ator preferido atualmente: Dev Patel. É uma estrada longa e o rapaz terá que comer muito arroz com feijão pra chegar lá, mas não é impossível.
Já o protagonista, aclamado ator de Hollywood e personificador do Thor no cinema, Chris Hemsworth, demonstra que vem estudando o ofício que pratica e tem melhorado muito sua atuação. Muito seguro em cena e claramente empenhado no trabalho em grupo, foi um bom companheiro de tela de Rudhraksh Jaiswal, deixando o inexperiente menino bem à vontade para nos entregar sua personagem, apesar de estar dividindo o palco com um astro consagrado.
Apesar de toda violência, Resgate é uma boa opção até para os mais sensíveis, pois é muito bem realizado, o que deixa toda a gratuidade das cenas mais perturbadoras um tanto quanto mais interessantes. É entretenimento, não é arte, mas vale à pena como uma opção escapista durante a pandemia que vivemos nos dias de hoje.