Dirigido por Josh Boone e estrelado por Blu Hunt, Maisie Williams, Anya Taylor-Joy, Alice Braga - além de vários rostos desconhecidos -, "Os Novos Mutantes" finalmente estreia nas salas de cinema brasileiras após uma espera de três anos desde seu anúncio e divulgação. Mas... vale a pena? Vamos descobrir... 

A curiosidade (mórbida) matou os 'mutunas' 
Desde que o primeiro trailer de "Os Novos Mutantes" estreou internet afora, muitas pessoas se empolgaram com a possibilidade deste ser o primeiro filme do gênero terror com personagens vindos das histórias em quadrinhos publicadas pela Marvel Comics. Assim como o primeiro filme do  Deadpool (e "Logan") girou o parafuso pro outro lado em relação à criatividade na já desgastada seara de filmes de super-heróis - gostemos ou não, este misto de ação / aventura ainda é bem popular e o será por mais alguns anos -, talvez fosse a hora de tentar esse mesmo estratagema com um time de personagens desconhecidos do grande público (aquele povo adorado que realmente gasta dinheiro assistindo esses filmes indiscriminadamente, uma vez que não tem relação afetiva suficiente para saber o que realmente está errado ou mal adaptado - taí a bilheteria de "Venom" que não nos deixa mentir, mesmo recebendo pesadas críticas).

Mas o principal problema de "Os Novos Mutantes" não foi o atraso de vários anos para o lançamento nos cinemas - ou estrear timidamente em poucos cinemas em meio a uma pandemia mundial. Quem diria que o azar deste filme viesse justamente de seus próprios defeitos...

A trama se passa num hospital isolado, onde um grupo de jovens mutantes está sendo mantido para monitoramento psiquiátrico após suas manifestações de super-poderes matarem outras pessoas. Quando ocorrências estranhas começam a acontecer, suas novas habilidades mutantes, e suas amizades, serão testadas enquanto eles lutam para tentar sobreviver.



Josh Boone - que, além de "dirigir", também auxiliou no roteiro ao lado de Knate Lee - se diz fã dos quadrinhos originais e quis adaptar a "saga do Urso Místico" (ou "Urso Demoníaco", dependendo da tradução), criada por Chris Claremont e Bill Sienkiewicz. Nos quadrinhos, já não é uma grande história. E no filme, bem, temos todos os problemas de escolher a história errada para se adaptar, tudo de uma vez. Lembrando que Boone levou para os cinemas a adaptação de "A Culpa é das Estrelas", que foi um grande sucesso - e isso já faria com que seu nome fosse, talvez, o mais indicado para levar problemas adolescentes mutantes às telas com maestria. Porém, não foi o caso.

A começar pela escalação do elenco. A trama trata esses jovens como se tivessem menos idade do que aparentam. E nem adianta dizer que os jovens em Hollywood tem de parecer mais velhos para poder interpretar melhor - e o figurino e cortes de cabelo certos dão conta do recado, e tal (desculpa para cinéfilo dormir) - pois o resultado das rasas interpretações com algumas das piores falas escritas para serem ditas por "adolescentes" torna o resultado risível, pra dizer o mínimo.

Quem se destaca, pelo grande esforço em cena - e tirando "leite de pedra" com o material que tem - são Anya Taylor-Joy, Maisie WilliamsCharlie Heaton (suas cenas são honestas e não destoam da proposta da trama). Alice Braga, mais uma vez, faz uma escolha de carreira beeeeeeeeeeem errada (a anterior foi a participação em "A Cabana", num resultado no mínimo canhestro) mas alguém tem que pagar o aluguel. Já o brasileiro Henry Zaga - que interpreta um brasileiro e até solta um "obrigado, gatinhas" em português - é uma negação em cena. Nada do que faz vai além do operacional e mesmo os poucos momentos dramáticos que sua personagem tem são completamente desperdiçados - isso sem falar do "white washing" que seu personagem (um negro no original) carrega em si. Mas quem decepciona mesmo é Blu Hunt - um "talento" descoberto na internet em sua própria web-série -, uma vez que o roteiro lhe dá o protagonismo e ela não aproveita praticamente nada de suas cenas - ok, quando ela divide cena com Maisie Williams, até funciona, mas o restante é bem lastimável...



Porém, nem mesmo o elenco mal escalado deve ser considerado culpado pelo que vemos na tela grande. Se o diretor Josh Boone entregasse um texto melhor elaborado e exigisse de seu elenco atuações dignas do que um filme desse porte mereça, talvez o resultado seria bem diferente. E também não adianta dizer que o filme possa ter sido mutilado na sala de edição - apesar de haver evidências disso, visto que algumas cenas são interrompidas sem mais nem porque, sem quaisquer unidades entre elas - e que uma "versão do diretor" (tão em voga hoje em dia) provavelmente salvasse o produto. Se a base começa equivocada, dificilmente o resultado será positivo.

(a trama tem um furo GIGANTE em relação à personagem de Joy que mesmo quem não leu os quadrinhos entende que tudo poderia ter se resolvido na primeira vez que ela usa seus poderes em cena)

A verdade é que o filme dos Novos Mutantes deveria se passar no futuro e seguir aquelas crianças e pré-adolescentes do final do filme "Logan", mostrando o "fim" do universo mutante, com Laura (ou X-23) e seus novos amigos se virando para sobreviver enquanto são perseguidos pela tal Corporação Essex - até tem uma cena que remete a esse filme, mas totalmente desconexa e sem relevância.

Destaque negativo também para a desastrosa e escura direção de fotografia de Peter Deming, além da surpreendentemente nada inspirada trilha sonora de Mark Snow (habituado ao terror e suspense por criar composições fantasmagóricas na TV em "Arquivo X" e outras séries). Além dos péssimos efeitos especiais, com imagens geradas por computador que lembram seriados como "Witchblade" e afins...

"Os Novos Mutantes" é um filme de pouquíssimos acertos - alguns por pura sorte - e diversos erros (o principal é existir), lembrando equívocos do passado como "Geração X" (filme para TV com personagens da Marvel que tinha trama similar e o mesmo tipo de problemas). É terror, mas não assusta. Tem super-heróis mas não empolga. É cinema mas poderia passar na TV aberta encerrando a programação de domingo. Um filme apático e totalmente descartável. Resumindo: faça um favor a si mesmo e vá ler os gibis...



Kal J. Moon não entende porque produtores que não leem quadrinhos se metem a fazer filmes baseados em quadrinhos...