Dirigido pelo veterano ator William H. Macy, estrelado por Billy Crudup e Anton Yelchin - com participações especiais de Selena Gomez e Lawrence Fishburne - "Força para Viver" é uma grata surpresa na seara dos streamings da vida...


Todo mundo é filho de alguém

Cada dia deveria ser tratado como um dia do evento "Setembro Amarelo". Afinal, sempre deveria haver tempo para falar sobre depressão e os efeitos de doenças psicossomáticas nos chamados "jovens adultos" e até mesmo a quem a sociedade trata como adulto - exceto quando alguém se declara estar "deprimido". E é nessa tecla que o filme "Força para Viver" bate insistentemente: não é somente sobre a superação (ou não) do processo do luto mas também sobre como a depressão pode levar as pessoas a extremos terríveis, se não adequadamente tratadas como qualquer pessoa que passa por uma doença.


Na trama, dois anos após a morte de seu filho adolescente num tiroteio no colégio, Sam (Billy Crudup), um ex-executivo de publicidade, desiste da carreira para viver num veleiro ancorado enquanto se embebeda e trabalha como faz-tudo numa obra. Até que descobre uma caixa cheia de CDs e letras de músicas do filho, revelando um inesperado talento musical com canções completas e poesias admiráveis. Sam resolve apresentar essas canções num bar local e é "descoberto" por Quentin (Anton Yelchin), um jovem músico na plateia que é cativado pelas músicas e o convence a formar uma banda de country-rock (a tal "Rudderless" do título original - algo como "Sem leme"), que acaba se tornando relativamente popular nas redondezas. Mas nem tudo é o que parece...


"Força para Viver" é a estreia do ator William H. Macy como diretor e ele já demonstra tanto sensibilidade como pleno domínio do mister de alguém que precisa conduzir o elenco a alcançar as emoções propostas no roteiro escrito por Casey Twenter e Jeff Robison (com auxílio do próprio Macy). E também tem a "visão" de como o filme deve se parecer visualmente falando, indicando boas transições na montagem de John Axelrad, ou mesmo na correta direção de fotografia comandada por Eric Lin. E mesmo sendo um filme de 2014 que não fez muito sucesso, é admirável o que se fez por aqui...


O elenco está esforçado e, mesmo que não haja atuações dignas de prêmios, podemos destacar os trabalhos feitos pela dupla Crudup e Yelchin, que esbanja a dualidade do equilíbrio entre a energia dos jovens e a descoberta dos adultos em relação a um projeto tão arriscado quanto ambicioso. É curiosos ver que o roteiro reserva falas que revelam a inocência dos adolescentes da banda em querer se apresentar num grande festival para tocar por apenas 15 minutos mas que será ótimo pois estarão no mesmo palco que bandas como Wilco ou Death Cab (quem já assistiu seriado adolescente sabe que essas bandas sempre faz parte da trilha sonora). O entusiasmo dessas cenas é bem realista.


(vale ressaltar que as canções originais compostas por Eef Barzelay, Ben Limpic, Selena Gomez, Ben Kweller e Fink agregam ainda mais valor à proposta do filme)


Porém, mesmo que a trama faça essa curva mais ascendente para mostrar a leveza de jovens radiantes - e um senhor que tenta alcançar um objetivo além de beber e urinar ao ar livre - descobrindo a força da amizade e como é fazer parte de uma banda de rock, o terceiro ato volta com uma revelação que não passa pela cabeça do espectador mais atento à trama, botando em cheque o objetivo dos protagonistas e levando a audiência ao mais puro questionamento (ou julgamento) - personificado na atuação de Selena Gomez. E aí reside a única deslizada do roteiro, por estender demais uma situação que poderia ser resolvida de forma mais prática.


"Força para Viver" é o típico filme que se assiste num sábado à noite na TV aberta pois não exige muito do espectador mas nem por isso deixa de entregar um bom entretenimento, além de fazer com que sua audiência pense sobre um assunto que muitas pessoas tratam como frescura. Depressão é uma doença séria e deveria ser tratada como tal pois atinge a todos os membros de uma família. Afinal, todo mundo é filho de alguém...


(Se você terminou de ler essa crítica e sente sintomas de depressão ou está passando por uma situação difícil de encarar, procure ajuda médica como psicólogos ou psiquiatras, ou mesmo o CVV - Centro de Valorização da Vida - no telefone 188 ou através do chat no site oficial. É difícil, eu sei, mas é mais fácil com mais pessoas te ajudando. Vai passar. Eu acredito em você...)



Kal J. Moon conhece a dor do luto e não quer imaginar o que é passar pela dor da perda de um filho...