Estrelado por Anthony Mackie e Damson Idris, "Zona de Combate" mostra como será a guerra na era dos drones. Spoiler: não é filme de terror mas dá um medo...


Anti-belicismo ianque para iniciantes
Mesmo que atualmente as ameaças de uma guerra iminente estejam um pouco longe de se cumprirem, elas sempre estão à espreita, prontas para um ataque de oportunidade. E com toda a tecnologia desenvolvida após a última grande guerra - aquela envolvendo diversos países -, é de se pensar que o futuro imaginado em filmes distópicos e/ou apocalípticos esteja cada vez mais perto de se tornar realidade. E é nessa tecla que "Zona de Combate" bate insistentemente enquanto entrega um filme B de ação como aqueles que pegávamos nas videolocadoras nos anos 1990 ou assistíamos aos sábados na TV aberta.


Na trama, num futuro próximo, após desobedecer a ordens diretas - e causar mortes consideradas desnecessárias por seus superiores -, um piloto de drones (Damson Idris, foto) é enviado para uma perigosa zona militarizada para treinamento, onde precisa trabalhar em conjunto com um oficial androide (Anthony Mackie, foto) enquanto levam vacinas no meio do conflito armado. E isso foi só o início da encrenca em que estava se metendo...


O fato de "Zona de Combate" ser um filme B de ação com um pouco mais de tutano tem mais a ver com o roteiro escrito pela dupla Rob Yescombe e Rowan Athale (advindos dos games e de curta-metragens, respectivamente) do que com a direção burocrática de Mikael Håfström (de "Rota de Fuga", aquele filme que reuniu Stallone e Schwarzenegger numa prisão 'impossível' de fugir que não empolgou ninguém). Mesmo que Håfström não se esforce nem um pouco para tirar algum conteúdo dramático decente de seus atores - e o roteiro de Yescombe e Athale separou alguns momentos específicos que poderiam ser melhor explorados pelo diretor -, o filme abraça sua ideologia anti-ianque com uma força tamanha que muitos dos diálogos parecem gritar a plenos pulmões que a culpa de vários países terem sido reduzidos a trincheiras eternas é da "Terra da Liberdade" (o que não está assim tão longe de ser verdade, se pararmos para pensar um pouquinho...).


Mas essa dicotomia é perniciosa quando percebemos que, por se tratar de um produto numa grande plataforma de streaming, o discurso apresentado aqui pode ser utilizado por essas pessoas que não pesquisam melhor um assunto antes de discutir e são negativamente influenciados, passando para frente algo dito num filme como se fosse a mais pura verdade.


"Zona de Combate" é um filme "okay" e funcional, na melhor acepção dessas palavras. As cenas de ação são bem coreografadas - apesar de não empolgarem tanto quanto deveriam, mas talvez seja pelo fato de que, tirando a franquia "John Wick", a maioria desse tipo de filme faz um ~"mais do mesmo" básico e tal -, os efeitos especiais parecem saídos de seriado dos anos 1990 (aliás, a trama inteira parece um episódio piloto, o famoso "filme que deu origem à série") - alguns convencem e outros são "feinhos" mas não comprometem - e a mensagem no final ainda coloca o imperialismo ianque como grande salvador do mundo, apesar dos pesares.


O filme começa emulando a dinâmica de "Dia de Treinamento" e "Filhos da Esperança" mais encerra como uma versão genérica de uma cruza entre "Exterminador do Futuro" e "Capitão América: O Soldado Invernal" - e as motivações do vilão reverberam no tema da graphic novel "Watchmen". Mas o medo mais premente é de que o vilão do filme possa ser ~"copiado" pela vida real, cujo roteiro é sempre imprevisível e nem sempre merece aplausos.


Anthony Mackie segura bem o coprotagonismo, assim como Damson Idris, seu antagonista em cena. Nada que mereça prêmios ou lembranças no futuro mas a química funciona. O mesmo pode ser dito do trabalho de Michael Kelly, ainda que como um militar que serve apenas para movimentar a trama. Já Emily Beecham (foto) e Pilou Asbæk (foto) estão canastríssimos a ponto de transformar algumas cenas em algo risível, uma vez que a intenção claramente não fosse essa.


"Zona de Combate" entretém e faz o espectador pensar em assuntos que normalmente não imaginaria assistindo um filme como esse. Que bom.



Kal J. Moon usa filtro solar Fator 1 milhão, mesmo dentro de casa, por via das dúvidas...