Dirigido por Sam Liu e com um elenco original de dublagem composto por nomes como David Giuntoli, Mark Dacascos, Kelly Hu, Michael Jai White, James Hong e Jamie Chung, "Batman - Alma do Dragão" celebra a mística da arte marcial como se estivéssemos novamente nos anos 1970 (e não houvesse amanhã)...



Pódiscrê, amizade!

Apenas imagine uma época em que Batman é apenas um iniciante em sua luta contra o crime, sem a ajuda de seu parceiro Robin - ou de seu mordomo Alfred -, sem recorrer ao Comissário Gordon e sem a tradicional galeria de vilões que tanto amamos odiar. Agora imagine que um jovem Bruce Wayne treinou secretamente com um mestre oriental para descobrir as utilidades das artes marciais com outros alunos tão bons - ou até melhores - quanto ele próprio. Termine imaginando que um pesadelo vindo do passado desses alunos força-os a unir suas habilidades a fim de impedir que um mal maior se espalhe. 

Simples e objetivo, com algumas surpresas, "Batman - Alma do Dragão" é o que deveria ser investido no já combalido ~"cinema baseado em quadrinhos", trazendo frescor mesmo tendo como base todo o imaginário POP dos anos 1970. E aí reside seu principal ~"problema": não vai agradar a todo mundo, principalmente ao público mais jovem. Ainda que a trama seja honesta como descreve o parágrafo acima, depende MUITO do espectador para captar as diversas referências do roteiro e acabar se divertindo com o que é oferecido - desde as mais óbvias como os filmes estrelados pelo saudoso Bruce Lee, passando por "Rocky - O Lutador" além de muitos filmes B de ação que só passavam na TV aberta em horários específicos. Repare na cena do "dedinho"...



O estelar elenco de dublagem original faz jus a seus papeis - ainda que estereótipos ambulantes mas o roteiro de Jeremy Adams utiliza bem todos os clichês presentes nestas interpretações (você tem noção que conseguiram James Hong, o David Lo Pan do clássico oitentista "Aventureiros do Bairro Proibido", para fazer a voz de O-Sensei?). Este longa animado reinterpreta personagens obscuros da DC Comics e joga nuances bem mais sombrias do que se costuma ver numa obra do gênero. Em determinado momento, um debate sobre fanatismo religioso parece algo estranhamente atual, mesmo vindo de um personagem que mais parece vilão de... desenho animado. É DISSO que tô falando!

Destaque também à belíssima trilha sonora original composta por Joachim Horsley, advindo da TV, com um enorme talento para emular o que era feito em filmes produzidos naquela época. Horsley fez o dever de casa com louvor e alguns detalhes bem específicos saltam aos ouvidos como se fosse algo saído de seriados como "Shaft" ou "Chumbo Grosso"...

Outro fato que chama a atenção é de que esta é uma animação voltada a um público mais maduro, talvez nem tanto pela trama em si mas pela violência explícita apresentada: muito sangue espirrando e até CABEÇAS sendo arrancadas de corpos durante uma perseguição automobilística.



Mas, no fim das contas, com um final surpreendente, "Batman - Alma do Dragão" é uma história sobre amizade. Aquele mesmo tipo de história que vemos Hollywood contar sobre como soldados tem seus laços afetivos reforçados após uma escruciante batalha. Ainda que o começo seja um pouco claudicante, com algumas situações bizarras - mesmo para um desenho animado - o ritmo ~"pega no tranco" e as cenas de luta ganham vitalidade (como se tivessem filmado lutas reais, o que é bem possível).

"Batman - Alma do Dragão" é aquele tipo de animação que vai colocar um sorriso na boca do fã clássico e o fará gritar ao final da exibição. Não perca se curte escapismo da forma como era feito antigamente - ou seja: melhor.




Kal J. Moon não tinha um visual estiloso nos anos 1970 pois usava... fraldas.