Decepcionante, novo filme da franquia Invocação do Mal traz trama preguiçosa, personagens exagerados e subtítulo brasileiro equivocado

O subtítulo traduzido para o português na versão nacional do filme "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" me levou a crer de que teríamos no longa metragem uma "Ordem" ou "Conselho", nos mesmos moldes das sociedades secretas, que seria neste caso relacionada ao demônio, com diversos membros, conspirações e ações que demandariam a interferência do casal de demonólogos mais querido do mundo, os Warren, que conhecemos nos últimos dois longas da franquia.

Mas não era nada disso. A tal "Ordem do Demônio" era uma adaptação de "The Devil Made Me Do It", que a tradução literal seria "O Diabo que me Fez Fazer Isso".

Minha expectativa, que era ver as repercussões das ações da tal Ordem do Demônio e como os Warren iriam se virar para derrotar a organização demoníaca, foi pro ralo.

Porém, não é só o subtítulo brasileiro que é equivocado. O roteiro do filme em si é ruim. O caso da vez é importante por ter aberto um precedente legal inédito que foi a aceitação do argumento de que uma pessoa possuída por demônios poderia ter sua pena atenuada, o que é muito importante quando o estado norte-americano onde você será julgado tem leis que condenam à pena de morte. Porém, "o núcleo legal", vamos chamá-lo assim, que seria formado pela advogada do Réu, a promotoria, o juiz e os jurados, foi totalmente ignorado e mostrado en passant

James Wan e David Leslie Johnson-McGoldrick, roteiristas do longa, preferiram dar ênfase aos "superpoderes" de Lorraine e Ed Warren, em detrimento de uma trama mais cerebral. Seria muito mais interessante termos acompanhado as audiências de julgamento do rapaz demoniado do que o casal cinquentão agindo como X-Men em sequências ridículas, para dizer o mínimo. O filme é baseado em fatos reais e o Réu, que assassinou um amigo nos anos 80, teve sua pena de morte atenuada para uma condenação de prisão de cinco anos justamente por causa de argumentos que convenceram os jurados de que o rapaz estava de fato possuído. 

Ora, isso abriu um precedente importante na justiça penal americana, mas os roteiristas acharam que talvez isso não rendesse um bom filme. Apostaram então em cenas espetaculares de sessão espírita que transformaram Lorraine Warren em uma Jean Grey de meia-idade e Ed Warren, que servia como guarda-costas paranormal, em um brucutu que combate o mal na marretada. Ridículo, o roteiro é raso por pura preguiça, afinal, argumento para um script melhor havia, porque o caso teve cobertura da imprensa na época.


Aliás, a única linha de roteiro que toca no assunto é mal escrita. Tão boba que eu achei que o ator Patrick Wilson ia rir assim que terminou de dar seu texto.

No mais, o filme é bem realizado, a trilha sonora é bacana, o som também, mas um roteiro tão abobalhado não permite um bom aproveitamento do que está em tela. O elenco parece esforçado, são bons atores, mas nem mesmo Patrick Wilson e Vera Farmiga conseguem salvar o longa.

A direção do longa é de Michael Chaves, que já tinha cometido um filme de terror ruim, A Maldição da Chorona, de 2016, sendo Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio seu segundo filme. O diretor apenas copia a assinatura de James Wan, que dirigiu os dois primeiros filmes, e não traz nada de novo.

A franquia Invocação do Mal vem se tornando, à cada filme, spinoffs inclusos, uma galhofa surreal que não dá medo ou entretém.



Marlo George assistiu, escreveu e não seria convencido a acreditar no diabo por causa de uma boneca enjaulada