Escrito e dirigido por Zach A. Parish, o curta-metragem animado "Juntos Novamente" é a dose exata de ânimo que falta para quem está completamente desestimulado desde que o mundo como o conhecíamos ~"acabou"...


Dignidade já

Isto está bem longe de ser uma crítica, sabe...? Eu odeio filmes musicais. Mesmo. Os minutos iniciais de "La La Land", para mim, foram uma tortura só. Se não fosse um filme escrito e dirigido por Chazelle, eu nem teria assistido - que bom que o filme tinha muito mais do que números musicais e passinhos alegres e tra-lá-lá... Ainda que eu entenda perfeitamente que os filmes musicais sejam uma herança de Hollywood para óperas ou teatro de revista, nenhum deles me agradam como espectador - com exceção de "La La Land" e, agora, de "Juntos Novamente". 

Na trama, um idoso rabugento e sua jovial esposa reacendem a paixão pela vida após uma noite de chuva, hã, "mágica" que faz com que rejuvenesçam. A referência clara entre a alegria e paixão pela vida misturada com a "chuva mágica" é óbvia: o clássico "Dançando na Chuva" (o senhorzinho usar chapéu de feltro é só uma pista). Mas o filme foge rapidamente da paródia para usar a dança moderna e a chuva como metáfora, contando sua história a partir da inspirada (mesmo que simples) coreografia dos premiados Keone e Mari Madrid - e da contagiante composição musical de Pinar Toprak -, promovendo um paralelo entre os movimentos energéticos da juventude e a limitação de movimentação da velhice como elementos narrativos poderosíssimos. E isso tudo sem emitir uma palavra sequer!


É como se o filme - com quase apenas sete minutos de duração - gritasse a plenos pulmões que "todo mundo deveria ter direito a envelhecer com diginidade" - como diria a estrela de "E Deus Criou a Mulher". A "chuva mágica" e a dança pode representar qualquer coisa que o espectador imaginar para que idosos possam se sentir mais jovens, desde carros do ano até pílulas de estimulação sexual. E o comentário é pertinente pois, nesta história, quem se importa em ser mais vigoroso é o senhorzinho rabugento, denotando que esta é uma preocupação genuinamente masculina.

Embora o encerramento seja um clichê que já vimos em diversos filmes, aqui serve para postergar a jornada de aceitação dos protagonistas e adaptação às suas atuais condições. Simples e eficaz, um verdadeiro alento para quem precisa de apenas uma mensagem de apoio em tempos tão difíceis e um lembrete para diversos profissionais de cinema que deveriam saber para que de fato serve a dança num filme musical. Porque se a dança e a música não servir para ajudar a contar uma boa história, então é melhor que nem tenha...



Kal J. Moon usa chapéu de feltro, tinha mãe afrodescendente e pai descendente de portugueses. Eles devem estar dançando no céu neste exato momento...