Com animação impecável nova produção de Kevin Smith, baseada na série dos anos 80, peca pelo roteiro fraco

He-Man e os Mestres do Universo, ou apenas He-Man, foi um fenômeno da TV no mundo todo. No Brasil a série era exibida, pela primeira vez, na faixa das 11:30 da manhã, quando ainda existiam programas infantis na TV aberta. Lógico que a molecada (eu incluso) ficou fascinada com as aventuras fanfarronas do grandalhão defensor dos segredos do Castelo de Greyskull e a indústria de brinquedos licenciadas e piratas, faturaram muito vendendo bonequinhos oficiais e espadas de plástico nos camelôs.

A série original não teve um encerramento e os fãs nunca souberam qual era o final daquela história que misturava magia e tecnologia em um mundo fantástico simples, porém encantador. Após alguns reboots animados e até mesmo um filme live-action muito ruim, o diretor e produtor Kevin Smith, em parceria com a Netflix, decidiu lançar uma nova série do He-Man, porém esta série não rebootaria a original e sim seria uma continuação dos eventos da animação dos anos 80. Finalmente saberemos o que aconteceu com nossos personagens favoritos, sob a visão de Smith que é um dos cineastas mais nerds que já pisaram em um estúdio de cinema. Oriundo do cinema independente e tendo liberdade criativa, Mestres do Universo: Salvando Eternia tinha tudo para ser a realização dos sonhos dos fãs.

Mas Smith, que além de criador é também editor de roteiro da animação, acabou nos apresentando, nesta primeira parte da primeira temporada, uma história inconsistente. Preocupado em chocar logo no primeiro episódio, Smith fez escolhas equivocadas, que resultaram em episódios enfadonhos. Sim, Mestres do Universo: Salvando Eternia é um desenho chato. 


E eu nem estou me referindo ao fato de que o desenho destaca bastante a personagem Teela que é a protagonista desta primeira parte da aventura. Eu adorei a forma como usaram a personagem, que ressoava ecos de personagens legais como Red Sonja e Xena: A Princesa Guerreira. Quando digo que o desenho é chato, me refiro à formação daquele grupo disfuncional que foi formado para cumprir a missão proposta à heroína. Não darei spoilers e por isso não citarei os membros da intrépida equipe, mas direi que, infelizmente, não funcionou. Assim como não funcionou a sanha em matar personagens importantes, reflexo de uma possível ressaca de Game of Thrones.

De toda a história, a única coisa que achei tocante, em meio ao turbilhão de inconsistências, foi a relação estabelecida em Mestres do Universo: Salvando Eternia entre dois magos poderosos e conhecidos do público. A forma como passaram a respeitar-se entre si foi o ponto alto do roteiro. Gostei muito da maneira como essa relação improvável foi mostrada em tela. Foi lindo.

Aliás, as personagens da animação foram bem trabalhadas, aprofundadas e bem desenvolvidas. O problema é a história mesmo.

Quanto à animação e character design, preciso reconhecer que foram muito bem feitas. A equipe que animou a aventura é a mesma de outra série animada da Netflix, Castlevania, e deste modo, a qualidade do trabalho dos animadores, editores e CGi já era esperada. Inesperada foi a decisão de Smith em definir que o character design dos personagens foi o mais próximo dos action figures clássicos quanto fosse possível. O cuidado com o qual os designers desenharam cada personagem, veículo e até mesmo cenários, preocupando-se em deixá-los mais parecidos com os brinquedos do que com suas versões do desenho animado da Filmation. Até mesmo a paleta de cores foi inspirada na coleção Masters of the Universe. Um exemplo é a própria protagonista, Teela. No desenho animado original ela era branca, enquanto a figura de ação era bronzeada. Vê-la "da cor do pecado" nesta animação foi muito gratificante.


Por fim preciso elogiar o trabalho de dublagem brasileiro. Mesmo com muitas estrelas internacionais no elenco da versão original, comparando as versões em inglês e brasileira comprovei, novamente, que os nossos dubladores, até pelo fato de serem em muitos casos artistas dedicados à este segmento das artes cênicas, apresentaram um trabalho muito melhor.

A Netflix ainda não anunciou a data de lançamento da segunda parte desta primeira temporada, mas já estou ansioso para retornar à Eternia para acompanhar o final desta aventura, apesar de não ter gostado muito do que vi até aqui. Que venham os episódios restantes.



Marlo George assistiu, escreveu e tem a força!

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