Dirigido por Jaume Collet-Serra, estrelado por Dwayne Johnson, Emily Blunt, Jesse Plemons, Jack Whitehall, Edgar Ramírez e grande elenco, "Jungle Cruise" é mais um filme baseado numa das atrações da Disneyland a chegar às telas do cinema. Mas funciona? Bem...


O samba do aventureiro doido
Inúmeras propostas de roteiro já imaginaram Indiana Jones visitando a selva amazônica ou partes do Brasil no início do século 20 indo em busca de tesouros escondidos e vivendo desventuras que, contando, até Deus duvida. Nenhuma dessas propostas chegaram de fato a serem filmadas. Muito provavelmente algumas dessas ideias podem ter sido reaproveitadas em "Jungle Cruise".

Na trama, Lily (Blunt) viaja de Londres até a selva amazônica ao lado de seu irmão e recruta o misterioso Frank (Johnson) para guiá-la pelo rio Amazonas no seu La Quila - um velho e charmoso barco. Lily quer descobrir uma antiga e incomparável árvore curandeira, com o poder de mudar o futuro da medicina. No caminho, a dupla enfrenta inúmeros perigos e forças sobrenaturais, todos à espreita na enganosa beleza da exuberante floresta tropical. Mas os segredos da árvore perdida se revelam, e os riscos só aumentam para Lily e Frank. O destino deles - e o da humanidade - está em jogo.


É espantoso ver que cineastas norte-americanos ainda pensam que nosso tão sofrido e amado Brasil teve alta influência da cultura espanhola em suas raízes históricas. OK, sabemos que existiram expedições de diversos países para Terra Brasilis por séculos após a "descoberta" de Pedro Álvares Cabral mas, com um pouquinho de esforço e estudo histórico, vemos que muitos lugares neste país de dimensões continentais não virou uma "América espanhola" como muito ianque gosta de imaginar.

No Brasil do início do século 20 imaginado por QUATRO roteiristas (!), Porto Velho (RR) tem bares e estalagens com letreiros em inglês e português de turista (?), muitos falam inglês fluentemente (??) - mesmo sendo pessoas de aparente pouco estudo -, mas a grande maioria parece falar uma mistura de português brasileiro e espanhol (quase como um "mini-México"). Sério?!

Tirando o insistente equívoco e preguiça da Terra de Tio Sam de querer achar, de qualquer maneira, que latino-americanos são todos iguais, "Jungle Cruise" é para a geração atual o que "A Múmia" (o clássico com Brendan Fraser e não aquele com Tom Cruise) foi para quem viveu para assistir no cinema em 1999: um Indiana Jones genérico, simpático como o original, mas que deveria estrelar apenas um filme e não uma franquia.


Sem muitas ideias originais, os roteiristas John Norville, Josh Goldstein, Glenn Ficarra e John Requa parecem ter sido forçados a copiar diversos elementos do já citado "A Múmia" (projeto de galã "rústico" e bonachão + donzela aparentemente indefesa mas especialista em arqueologia + irmão medroso que embarca na aventura por acaso) com muitos outros elementos da bacana animação "O Caminho Para El Dorado" (cultos obscuros na floresta + expedições espanholas que podem ameaçar o "paraíso sagrado" + acesso somente por caminhos submersos secretos + vilões que enlouquecem sem motivação aparente). O resultado é algo que pode agradar fãs de uma montanha-russa de emoções frívolas mas escapista, é verdade - porém, pode acabar irritando o cinéfilo mais atento cuja suspensão de descrença foi pro vinagre.

O "problema" - que não pode deixar de ser mencionado - é o tamanho homérico do carisma do Sr. Dwayne "The Rock" Johnson, senhoras e senhores! Mesmo a premissa mais complicada e absurda parece se diluir frente ao jogo de cintura daquele que há alguns anos parece ser o verdadeiro herdeiro de Arnold Schwarzenegger nas telonas. E em "Jungle Cruise" não é diferente.

A cinematografia teve alguns problemas em cenas que se passam no barco La Quila pois foram filmadas em fundo verde e mesmo o olhar menos atento perceberá que trata-se de um fundo gerado por justaposição computadorizada. E a trama rocambolesca deixa de aproveitar diversos bons nomes como Emily BluntPaul Giamatti e Jesse Plemons como coadjuvantes de luxo, sem explorar o potencial dramático ou cômico que esse elenco podem oferecer - e olhe que Blunt ainda se esforça para que sua personagem seja mais do que a "mocinha indefesa" mostrando-se boa de briga, inteligente e tudo mas que, no frigir dos ovos, torna-se um mero acessório para que a trama da personagem de The Rock tenha ainda mais relevância E restou apenas a Jack Whitehall interpretar um homossexual assumido num autêntico filme Disney. Quem diria...?


O que temos, no fim das contas, é uma aventura pueril, digna de um game estilo plataforma, com diversas etapas e que conta sua "real" história próximo do fim da última fase - estranhamente ao som de uma cultuada canção da banda Metallica. Funciona? Depende do ponto de vista e da expectativa. Tem potencial para virar uma franquia ao estilo "Piratas do Caribe"? Não, nem de longe. Passa de ano? Passa. Com louvor? Não. E que isso não se repita, ok?

Resumindo: não contrarie The Rock, é batalha perdida. Não leve a sério. Junte a família pra comer pipoca - em casa ou no cinema -  e divirta-se por quase duas horas. Após a exibição, você esquecerá tudo mesmo. Exceto, talvez, as piadas infames ditas junto com o sorriso de The Rock. Aquele maldito sorriso...



Kal J. Moon aparenta ter 10 anos de idade mas já tem 45. E não é amigo da onça... Ha!