Favorita do Emmy 2021 - com indicações em diversas categorias - e estrelada pela veterana Jean Smart e a talentosa novata Hannah Einbinder, "Hacks" é uma série dramática que mostra o lado negro por trás de quem deveria trazer sorriso aos nossos lábios.
Problema de gente branca (ou dispensável microcosmo)
Raramente reassisto filmes ou séries que não gostei totalmente - exceto para investigar os motivos pelos quais me desagradaram ou não me satisfizeram integralmente. "Hacks" foi um desses casos.
Baby Jane. Odete Roitman. Cruella DeVil. Miranda Priestly. Patty Hewes. E, agora, Deborah Vance. Todas essas personagens são incondicionalmente consideradas megeras pelo público, que amam odiá-las. Mas o que aconteceria se, por alguns instantes, descobríssemos o que move essas mulheres e o que enfrentaram para chegar ao precioso patamar que a sociedade tanto almeja alcançar? Não, não é essa a trama principal de "Hacks" - nem chega perto disso, aliás - mas essa "premissa Smallville" (de investigar origens) tem se tornado popular com o passar dos anos evidenciando a já notória falta de criatividade em Hollywood. E "Hacks" tenta se desvencilhar da ~"jornada da vilã" o máximo que pode para mostrar o bom e velho choque de gerações. E um pouco mais, claro.
Na trama, Deborah Vance (Jean Smart) - uma veterana ex-comediante da TV - ganha sua vida fazendo shows de stand-up comedy em Las Vegas (além de constrangedores comerciais e aparições em inaugurações de estabelecimentos de gosto duvidoso) recebe a notícia de que não poderá mais se apresentar no teatro onde esteve por quase 2500 vezes e que vai precisar se reinventar para conseguir reverter a situação. Enquanto isso, Ava (Hannah Einbinder) - uma jovem roteirista de 25 anos de idade - foi demitida por conta de um tuíte com uma piada considerada homofóbica e implora a seu agente para lhe arranjar outro trabalho. O agente (Paul W. Downs) vê uma oportunidade de acertar dois coelhos com uma cajadada só fazendo uma trabalhar com a outra. E aí temos o início da nossa história... Quer dizer, mais ou menos.
E aí começam os problemas. Todos, de uma vez só - e um atrás do outro. O que era ótimo por conta da atmosfera mordaz apresentada previamente acaba perdendo o brilho por CINCO episódios, deixando tudo melodramático ao extremo, estranhamente sentimental e incrivelmente irritante, dando muito espaço a personagens periféricos, que estão ali apenas para orbitar em torno do magnetismo das protagonistas - além dessas narrativas paralelas não serem nem um pouco interessantes (o tipo de coisa que roteiristas fazem muito em telenovelas para ganharem tempo para resolverem a trama principal por alguns dias ou semanas).
Daí, depois de um festival de obviedades e "probleminhas Notre Dame" - daqueles que não precisam de tanta atenção que se resolverão com um ou dois telefonemas -, o texto parece "acordar" e voltar aos embates que não deveriam ter sido abandonados, trazendo conflito e situações bem mais convenientes do que o romance do assistente pessoal de Vance estar interferindo em seu comprometimento com o trabalho ou os motivos pelos quais a filha de Vance se comporta como uma criança mimada mesmo já sendo uma balzaquiana.
"Hacks" não é a melhor série de comédia de 2021. Até porque é um drama e um estudo de comportamento que beira a meta-linguagem sobre como megeras se comportam quando colocadas sob uma lente de aumento. Diversas perguntas foram deixadas no ar e o gancho do último episódio pode gerar ótimas oportunidades de narrativas num futuro próximo. Isso se não botarem tudo a perder novamente... Vale a pena? Sim, se o espectador tiver um pouco de paciência e boa vontade durante a jornada.
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