Dirigido por Shawn Levy e estrelado por Ryan Reynolds, Jodie Comer, Joe Keery, Lil Rel Howery e participação especial de Taika Waititi, "Free Guy - Assumindo o Controle" explora o mundo xóven dos games numa trama que, de moderna, não tem nadinha...


Copia, não faz igual e simplifique, mas não muito...
Um mundo completamente novo, com regras bem específicas e população que fica a par de invasores por estarem sem saber que seu mundo não é o único (isso é a premissa de "Avatar", aquele do James Cameron). Viver um personagem ultra-violento que obedece ordens de um inescrupuloso magnata de sucesso, se rebelar e lutar contra o vilão para recuperar sua dignidade (essa é a sinopse de "Gamer", obscuro filme estrelado por Gerard Butler e Michael C. Hall). Buscar um item secreto que pode mudar sua vida financeira dentro de um game ultra-realista, recheado de personagens dos mais diversos tipos e um monte de participações especiais ("Jogador Nº 1", né?). Descobrir que o mundo "real" assiste suas façanhas, "enlouquecer" e fazer o que lhe der na telha para não fazer parte do sistema ("O Show de Truman", alguém?). Um personagem que vive sua rotina todo santo dia e até gosta do que faz mas tenta mudar após ter determinada informação ("Feitiço do Tempo", sério?). E, claro, colocar um romancezinho pueril estilo "friendzone" para gerar interesse do público feminino - mas não com quem se imagina (ou não, pois é tão óbvio que chega a ser patético). 

O roteiro de "Free Guy - Assumindo o Controle" - escrito por Matt Lieberman e Zak Penn - parece "pegar emprestado" diversas premissas, bater no liquidificador e jogar no forno para servir sem o prazo correto de cozimento pois os convidados estão chegando e não há tempo suficiente para isso. OK, esse "empréstimo" de inspiração nem é o principal defeito do filme. Mas é parte dos seus variados problemas...


Na trama, um simplório caixa de banco preso a uma entediante rotina tem sua vida virada de cabeça para baixo quando descobre que é somente um irrelevante personagem secundário num brutalmente realista game de mundo aberto. Agora, além de ter de aceitar sua condição, ele também precisa lidar com o fato de que é o único que pode salvar o mundo.

"Free Guy - Assumindo o Controle" é um filme que tenta atirar pra todos os lados, acerta algumas vítimas incautas mas não consegue um dano crítico contra espectadores mais experientes. A trama, além de óbvia, tenta explicar - de forma quase didática - como é a rotina dos gamers, de alguns programadores e de uma inteligência artificial que acha que é "real". Para isso, temos diversos personagens se explicando sem parar, dizendo por quais motivos fazem o que fazem e por que cada coisa acontece e como "deveria ser". E não basta ter os personagens discursando a todo momento pois até mesmo gamers da vida real aparecem no filme para "validar" o que fazem em seus canais do YouTube para marcar a repercussão na "vida real" das ações dos personagens. Em algumas vezes, até acerta. Na maioria, parece uma palestra.


O principal erro desse roteiro não é se apropriar da ideia de outros filmes nem mesmo ter diversos personagens rasos feito um pires mas sim algo intrínseco à trama que pode ser chamado de "plot idiota". Demora muito tempo para que desenvolvedores / programadores de alto nível e muita experiência de mercado descobrirem que Guy (Ryan Reynolds) é um NPC - personagem de game não-jogável - e está agindo por conta própria (eles acham que é um jogador da vida real que está mascarando seus movimentos e sabotando o jogo). Mesmo que este NPC desenvolvesse inteligência artificial própria e passasse a agir por sua conta e risco, os programadores saberiam que ele era um mero personagem não-jogável e deletariam-no, resolvendo o problema - e o filme terminaria com menos de quinze minutos de de exibição.

Mas, claro, alguém deve ter pensado nessa hipótese e, para invalidar isso, temos uma trama paralela entre os personagens Millie (Jodie Comer) e Keys (Joe Keery), que eram programadores de um game de mundo aberto comprado pelo janotinha Antwan (Taika Waititi) e que pode ter utilizado os códigos-base em seu novo game sem pagar por isso - tudo muito mal explicado pois se ele comprou os direitos do jogo, a princípio pode utilizar tudo o que nele contém para o que bem entender, certo? Por isso, apagar esse NPC pode significar perder a única pista para rastrear o tal código...

Entre a busca por identidade de diversos NPCs, a friendzone da antiga dupla de programadores, a incessante corrida contra o tempo para que o atual dono lance uma atualização - que não está pronta nem testada - que pode eliminar completamente qualquer pista referente ao antigo game, temos uma trama anabolizada, em todos os sentidos. Pode até parecer novidade no começo mas com cinco minutos já torra a paciência. Até o visual hiper-colorido e cheio de objetos neon "cansa" depois que se acostuma com o "ambiente".


Claro, tem uma ou outra piada que pode agradar a um público menos exigente, participações especiais bem pontuais de Chris Evans (uma cena muito surpreendente) e de Channing Tatum (uma cena que celebra o humor constrangedor que está tão na moda), além de vozes conhecidas como as de Hugh Jackman, Dwayne Johnson, Tina Fey e John Krasinski em alguns momentos bem específicos (não dá pra perceber de primeira e nem tem nada de engraçado nas participações). E o protagonista cai como uma luva em Ryan Reynolds por conta de sua eterna cara de bobo.

Talvez os gamers de plantão se identifiquem e até curtam algumas piadas. Talvez o público em geral até goste de algumas cenas com efeitos especiais pois praticamente tudo pode acontecer naquele mundo virtual. Talvez alguém até ria do exagero de Taika Waititi em cena e até torça por um romance que tá na cara mas que o roteiro jura pro espectador que não é bem assim - as pistas estão todas lá e dá pra saber no início da exibição. E, talvez, o espectador pode até achar "Free Guy - Assumindo o Controle" uma descompromissada diversão de fim de semana. Mas dificilmente achará um filme memorável.




Kal J. Moon está vivendo e aprendendo a jogar. Uns dias ganhando, outros perdendo mas aprendendo a jogar...


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