"Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça"

Essa máxima é atribuída ao gênio do cinema Glauber Rocha, como a síntese de tudo que é preciso para que seja realizada uma produção cinematográfica. Em tempos de TikTok essa frase soa ultrapassada. Assim como, ultrapassada é a ideia de que um bom filme, fruto de uma boa ideia e de dezenas de câmeras estrategicamente posicionadas no set, não precisaria de sequências.

Faz uns trinta anos que continuações de qualquer filme de ação são a regra. Não basta apresentar um bom plot, um universo coeso, personagens interessantes e subtextos que levam à reflexão. É preciso sugar tudo isso até quase não restar nada.

Matrix, de 1999, não tinha ganchos, mas mesmo assim rendeu duas sequências, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, ambas lançados em 2003. O primeiro filme da franquia é tão extraordinário que os dois filmes posteriores sofreram, e ainda sofrem, muita rejeição por parte dos fãs. Agora, após quase 20 anos de gosto amargo na boca, que foi levemente adocicado pela excelente antologia de animação Animatrix, também de 2003, Lana Wachowski lança o quarto longa metragem live-action, Matrix Resurrections em mais uma tentativa frustrada de me agradar. Não funcionou e a diretora falhou miseravelmente.

Numa tentativa patética de recontar a mesma história do filme original, Matrix Resurrections tem roteiro digno de uma fanfic, pelo modo como trata as personagens e o mundo criado. O filme faz referências e homenagens ao filme original ao ponto de explorá-lo como um produto pop fabricado em seu próprio universo. Parece inovador, mas a novidade foi tão mal explorada que ficou apenas cafona mesmo.

Nossos heróis, Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Ann Moss), parecem deslocados nas situações nonsense sem fim que são apresentadas, uma após a outra, no longa. Morpheus e Smith foram interpretados por atores diferentes que inocentemente não convencem. Além disso, todos os novos personagens parecem fãs abobalhados e deslumbrados por estarem participando de aventuras ao lado de seus ídolos de infância. 

Eu nunca, NUNCA, me incomodei tanto ao assistir um filme como me incomodei assistindo essa porcaria desnecessária.

Enquanto assistia Resurrections, fiquei fazendo um paralelo obrigatório com o filme de 1999, e isso gerou algumas perguntas que, ao final, tiveram todas a mesma resposta:

Onde estão as cenas inovadoras capazes de mudar os paradigmas do cinema atual, algo que o primeiro filme apresentou e é referenciado até hoje?

Cadê os efeitos práticos especiais que irão influenciar os filmes de ação daqui pra frente?

Em que canto eles esconderam conceitos filosóficos que irão explodir a cabeça do expectador mais espertinho?

A resposta: Não sei. Afinal, Matrix Resurrections repetiu as mesmas fórmulas de 20 anos atrás, em todos os aspectos criativos e técnicos, de forma tão descarada como um jovenzinho querendo abalar as estruturas da moda usando calça boca de sino.

Tudo que fez Matrix ser o que é não foi sequer tocado pelo novo filme da franquia. Aliás, com exceção de Animatrix, nenhuma de suas sequências conseguiu tal proeza. Como Highlander: O Guerreiro Imortal, Matrix poderia ter sido poupada  de continuações absurdas e desnecessárias.

E ao final dos créditos ainda é exibida uma cena extra que nada mais é do que um insulto.

Passe longe.



Marlo George assistiu, escreveu e não se sente reloadado, revolucionado ou ressuscitado. Se sente revoltado

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