O novo filme da atriz de Crepúsculo está em cartaz. E sim, nós precisamos falar sobre Kristen Stewart.

Kristen Stewart é uma atriz virtuosa. Sei que muitos torcerão o nariz para esta afirmação, mas eu irei explicar o motivo dessa minha constatação.

Ela ficou famosa, uns 15 anos atrás, por causa de Crepúsculo, uma série cinematográfica que ninguém mais assiste, baseada em livros que ninguém mais lê. E justamente por causa disso, Stewart carregará o fardo de ser a "Bela", protagonista daquela tragédia, pelo resto de sua carreira. Ter interpretado o papel da frágil menina apaixonada por um vampiro feérico trouxe-lhe fama, mas ao mesmo tempo, tornou fácil vincular a sua imagem à da personagem.

Porém, não acho que ela tenha se tornado uma atriz marcada por um único papel, visto que já atuou em diversas produções e sempre mostrou desenvoltura e profissionalismo. Ela parece ser focada e dedicada, algo que a destaca entre as ex-ídolos adolescentes dos anos 2000.

Isso se dá por uma das virtudes de Stewart, que é a compreensão, personificação e interpretação de suas personagens. Ela consegue incarnar nas personagens. Lembra-se dela em The Runaways: Garotas do Rock, de 2010, no qual interpretou a rockstar Joan Jett? 

Então. Ela simplesmente se tornou a guitarrista e vocalista das Runaways. Ela era Joan, da mesma forma que era Bela, em Crepúsculo. A diferença entre estas duas personagens é sua profundidade. A primeira é abissal, enquanto a segunda é bem rasa. 

Deste modo, o problema, da franquia Crepúsculo, nunca foi a atriz. Sempre foi a fonte, que é muito ruim.

O mesmo ocorre agora com Spencer. Ela não está em cena interpretando a Princesa Diana. 

Ela se tornou Diana. 


Enquanto está na personagem, Stewart se transforma na personagem. Além disso, parece que Stewart tem talento especial para interpretar personagens reais, como foi o caso em The Runaways: Garotas do Rock. Muitas atrizes já interpretaram Diana em séries, documentários e filmes, mas o próprio ex-guarda-costas de Diana, Ken Wharfe, disse que Stewart é a atriz que melhor captou os trejeitos e maneirismos da Princesa.

Se ele, que conheceu a própria Diana, disse isso, quem sou eu para contrariá-lo.

O filme tem cenários amplos, como grandes campos privados e castelos enormes, mas a interpretação de Stewart é tão arrojada e inspirada, que podemos sentir toda a aflição da personagem com a atmosfera sufocante e a pressão da realeza que torna tudo à sua volta pequeno, sufocante. Não importa o quão espaçoso seja o salão ou o jardim, um sentimento claustrofóbico salta da alma da personagem para a nossa, fazendo-nos compartilhar com ela sua aflição. Não há privacidade para a Princesa e, por conexão, sentimo-nos expostos com ela. E todas as sensações que sentimos assistindo o longa é fruto do trabalho de Stewart e da direção de fotografia, que conseguiu captar toda a violência travestida de gentileza que é oferecida por cada uma daquelas pessoas inconvenientes e cenários esplendidos e assustadores. 

A direção de fotografia é de Claire Mathon, de Retrato de uma Jovem em Chamas, de 2019.


Todo o elenco está maravilhoso, mas, para além da performance de Stewart, que domina o filme de ponta a ponta, posso destacar Timothy Spall, como Alistar Gregory. Spall é magnífico, sempre foi e sempre será, mas Spencer é o filme de Stewart. Nada, nem mesmo o talento de astros de primeira grandeza, como Spall, podem ofuscar sua presença.

A história é bem simples, não passa de um final de ano em família (neste caso, a família real inglesa), quando as relações estão abaladas. Quem nunca. Porém, por se tratar de Diana, as peculiaridades de sua vida "glamorosa" ganham contornos assustadores. Porém, o filme é um pouco arrastado, o que o torna, de certa forma, cansativo. O roteiro é de Steven Knight, de Coisas Belas e Sujas, de 2002 e Senhores do Crime, de 2007.

A direção é de Pablo Larraín. Em 2017, por seu trabalho em Jackie, cinebiografia bem ruinzinha de Jaqueline Kennedy, o acusei de ter mão fraca na direção, mas parece que o tempo sanou este problema. Spencer é um filme bem dirigido, com decisões criativas e belas. Assisti-lo é um deleite, por seus diálogos interessantes e visual extraordinário.

Spencer é um filme silencioso, contemplativo e marcante. Kristen Stewart é minha aposta para Melhor Atriz no Oscar.



Marlo George assistiu, escreveu e tem nome de príncipe

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