Tom Cruise estrela novo filme de Top Gun como o intrépido piloto Maverick, papel que o tornou um ídolo pop nos anos 80



A nostalgia é, parafraseando Sweet Child O´Mine, do Guns n´Roses, aquele lugar, quente e seguro, onde nos refugiávamos, quando crianças, esperando os trovões e a chuva passarem. Esta citação ao sucesso do Guns é proposital. Tom Cruise me lembra a banda, por causa de Dias de Trovão, filme chato pra dedéu que tinha outro hit da banda em sua trilha sonora. Além disso, por ter sido um ídolo teen na época em que eu mesmo era teen, sua figura sempre me traz lembranças antigas. Nostálgicas.

Agora, o ex-colírio da revista Capricho está de volta para mais uma aventura. Mas não se trata de um filme novo, com um personagem novo e trama inédita. Trata-se de uma sequência. 

Top Gun: Maverick é uma continuação tardia de Top Gun: Ases Indomáveis, filme de Tony Scott de 1986, e, como todas as produções semelhantes, como Rambo 4, por exemplo, retorna aos cinemas espalhando nostalgia para todos os lados.

Porém, a nostalgia que o filme proporciona não pode servir como uma cortina de fumaça que nos impeça de enxergar os graves problemas da trama do mesmo. 

Diferentemente de Rambo 4, que atualizou a personagem principal, trazendo-o mais maduro e contestador, e contextualizou a trama, que mostrava um fim mais digno para as suas ações, Top Gun: Maverick nos mostra que Pete 'Maverick' Mitchell (Tom Cruise) não amadureceu nada, após quase 40 anos desde a última vez que o vimos. Ele continua o mesmo militar irresponsável e pseudo-rebelde do primeiro filme. Além disso, o filme tenta disfarçar sua temática, claramente imperialista norte-americana, acenando para a "galera do politicamente correto". A coisa toda é tão absurda que, se formos levar em consideração de que o filme foi produzido antes das recentes ocorrências no leste-europeu, a não menção de que o inimigo são os russos é uma forma velada de requentar um assunto que julgávamos superado, neste caso, a guerra fria.

Maverick e sua turma, desta vez diversa em gênero e em raça, invadem sorrateiramente o espaço aéreo de um outro país para bombardeá-lo, sem ao menos se dar ao trabalho de nos dizer que país é esse.


O roteiro inconsequente de Top Gun: Maverick foi escrito por Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie, baseado na história escrita por Peter Craig e Justin Marks, e nos personagens criados por Jim Cash e Jack Epps Jr., e me fez formular algumas perguntas:

Será que, se eu começar a desenvolver uma atividade que possa ser considerada perigosa para a turminha do Capitão Pete, ele e sua trupe se acharão no direito de vir aqui e soltar bombas em meu quintal sem sequer anunciar o ataque?

A falta de questionamento sobre o que é certo e o que é errado é fruto de um patriotismo desvairado, da imaturidade das personagens ou apenas cinismo mesmo?

Requentar a guerra fria é entretenimento em pleno século XXI?

Deixando todos os aspectos narrativos que são problemáticos de lado, o roteiro é fraco, tem diálogos vazios, nenhuma frase ou momento memorável e é uma tentativa patética de replicar o filme original. O ápice disso se dá ao remontar a clássica cena esportiva na praia. Dá vergonha alheia assistir aquilo. A tensão sexual que existe em praticamente todas as relações que são travadas pelas personagens no primeiro filme é ampliada nesta sequência. Desnecessário.

O filme é ruim em muitos aspectos e só tem como destaque o elenco de dublês e a montagem. Os dublês e pilotos responsáveis por fazer as manobras aéreas para as tomadas de ação fizeram um ótimo trabalho. Já o montador do filme tornou-o fácil de digerir e menos insuportável de aturar.

Top Gun: Maverick é o quarto longa-metragem do diretor Joseph Kosinski, sendo o primeiro de sua filmografia que me desagradou. Kosinski trouxe alguns atores que já tinham trabalhado com ele em Homens de Coragem, de 2017, sendo eles Miles Teller e Jeniffer Connelly.

Teller é um bom ator e desempenha bem no filme, apesar de todos os problemas do script. Ele interpreta o filho de Goose (Anthony Edwards) e é muito parecido com ele. 


Connelly
é o novo interesse romântico de Cruise, substituindo Kelly McGillis, que não foi convidada para o elenco. Segundo o diretor, McGillis não está no filme porque era importante introduzir novos personagens. Bem, os tais novos personagens não são bem desenvolvidos, como o de Connelly, por exemplo, que não passa de um adorno nas cenas em que contracena com Cruise

Não irei cometer o erro de chamar a produção de etarista, mas tudo indica que McGillis não está lá por ser quatro anos mais velha que Cruise, que tem 60 anos, e não estar "em forma", como Connely. McGillis está na ativa, trabalhando como atriz, e nada justifica sua ausência. Sua personagem, Charlie, salvo engano ou eu ter perdido a referência, sequer é citada no filme. 

Val Kilmer retorna como Iceman e, se o filme tem um momento emocionante, este é protagonizado por Iceman. Mais pelo fato de que o ator teve realmente câncer do que pelo roteiro. Aliás, Cruise disse que só retornaria ao papel de Maverick se Iceman estivesse no filme.

E por falar nele, Tom Cruise é um excelente ator, dublê e fotografa muito bem. Parece ter a receita da juventude eterna e é simpático. Mas o filme é tão ruim e seu personagem tão detestável que não vale o ingresso.

Para olhares mais apurados, a nostalgia promovida por este novo filme de Ases Indomáveis não nublará todos os contextos errados que o filme traz. Tudo nele é equivocado, desde a estética, passando pelo discurso, até a proposta. São tantos problemas narrativos e de natureza ideológica que nem mesmo as boas cenas de ação aérea ficam divertidas.

Acione o mach 10 e fuja desse fiasco.



Marlo George assistiu, escreveu e preferia um nova sequência de Top Gang


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