Reboot do famoso seriado estrelado por Will Smith, "Bel-Air" recebe agora o estreante Jabari Banks no papel que já pertenceu ao mais recente ganhador do Oscar de Melhor Ator e precisa provar que está à altura de ser o novo "príncipe" da TV. Se consegue (ou não) é o que vamos descobrir...


Dinheiro, poder, respeito...
É necessário contextualizar antes de analisar. "Bel-Air" é um reboot (ou uma reimaginação) de "The Fresh Prince of Bel-Air" (aqui, "Um Maluco no Pedaço"), seriado cômico estrelado por Will Smith e que se tornou um fenômeno de audiência no mundo inteiro, alavancando a carreira do então rapper Smith, que hoje é um dos atores afro-americanos mais poderosos da indústria audiovisual.

Mas vale lembrar que "Bel-Air" é livremente inspirado no curta metragem homônimo escrito e dirigido por Morgan Cooper (hoje, roteirista e produtor da nova série - ele dirigiu um episódio também), com Jerry Madison no papel de Will. O curta viralizou online e acabou chamando a atenção da plataforma paga de streaming Peacock, que se juntou ao próprio Will Smith e diversos profissionais ligados a "Fresh Prince" para providenciar uma temporada da reimaginação da jornada do jovem pobre no mundo dos ricos. 

Na trama, acompanhamos a jornada de mudança de vida de Will (Jabari Banks), deixando a Filadélfia por conta de um crime em andamento, por uma segunda chance num lugar desconhecido - por conta da ajuda de seu tio milionário e sua família que o recebe -, onde ele vê sua vida ir mudando aos poucos ao morar em Bel-Air - um dos bairros mais luxuosos de Los Angeles -, encontrando novos desafios e preconceitos num mundo de riqueza e aspiração. 


Se a premissa pode fazer o incauto poltronauta se lembrar de outro sucesso teen da TV mundial - "O.C - Um Estranho no Paraíso", né? -, talvez não seja à toa. A série inteira pode ter, propositalmente, situações que, comparadas, apresentam muitas similaridades entre si. Os temas são iguais e nem mesmo a visão "afrodescendente" disfarça as semelhanças. Por um lado, isso é positivo pois mostra que a mesma história pode funcionar para qualquer ser humano, independente da cor de sua pele. Por outra prespectiva, há um problema de abordagem que funciona lá mas que não é bem engendrada aqui... Porém, temos sempre de lembrar que "Fresh Prince" chegou à TV quase quinze anos antes de "O.C.", certo?

Mesmo com toda comparação que possa haver, a série cumpre medianamente seu papel de entretenimento. Começa pegando pesado, com o jovem Will sendo jurado de morte e fugindo para Bel-Air para casa de seu severo tio Phil (Adrian Holmes), com a desculpa de que precisava de um local melhor para estudar. Uma trama se formou onde Will estaria sendo espreitado para ser morto pelos informantes do criminoso que o perseguia em Filadélfia mas essa parte é abandonada com uma solução providenciada por Geoffrey (Jimmy Akingbola), mordomo e braço direito de Phil - com todas as implicações que possam haver quando se fala em "braço direito" (e sim, esqueça toda a fleuma inglesa e comentários sarcásticos - aliás, a série tem pouquíssimos momentos de humor). 

O roteiro de T.J. Brady, Morgan Cooper, Henry 'Hank' Jones, Rasheed Newson, Ephraim Salaam, JaSheika Ashel James, Carla Banks-Waddles, Nicole Delaney, Paul Eriksen e Yolonda Lawrence se apropria de diversos detalhes das seis temporadas de "Fresh Prince" e pulveriza-os pelos dez episódios da primeira temporada de "Bel-Air", o que torna até divertido ver o quê é o quê nesse novo ~"universo". 


Algumas soluções são boas para inserir personagens como fazer Jazz (Jordan L. Jones) ser o motorista de táxi que leva Will até Bel-Air (substituindo o "motorista fedorento" da abertura de "Fresh Prince") e introduzindo-o como personagem recorrente. Outras não acrescentam praticamente nada à trama, como a jovem Ashley (Akira Akbar) se revelar bissexual sem fazer com que esse fato seja relevante em algum momento. Já transformar a outrora fútil Hilary (a lindíssima e talentosa Coco Jones) numa "chef instagrammer" em busca do sucesso financeiro - uma vez que largou a faculdade para "viver o sonho" e é frequentemente cobrada pelos pais por conta disso - e Vivian (Cassandra Freeman) numa artista plástica frustrada que largou a pintura para apoiar os projetos do ambicioso marido Phil (Holmes), que está numa ferrenha campanha para ser promotor público são "meios-acertos" (funciona mas não como deveria).

Até mesmo a mudança mais radical na construção de Carlton (Olly Sholotan) - agora um viciado em drogas invejoso e ambicioso, vítima de ansiedade, que anda com a ala branca de Bel-Air por conta de sua influência e riqueza, mas tem problemas de relacionamento com o próprio pai - é deixada de lado por conta dos imbróglios que tem com seu primo Will, que se apaixonou por Lisa (Simone Joy Jones) - ex-namorada adivinha de quem? Pois é... Até mesmo Lou, pai ausente de Will, ganha destaque no último episódio - vivido por Marlon Wayans, num raro papel dramático - mas o que poderia ser um grande momento cênico (uma vez que o motivo para abandonar a família é mais interessante que o que vemos na série original - mas não trabalhada de forma atraente), vira uma bagunça narrativa, resultando numa briga que faz sentido na trama mas leva a soluções no mínimo controversas, gerando um gancho bem esquisito para uma segunda temporada. Resumindo, é muita coisa para uma temporada curta de dez episódios que poderia ser melhor aproveitada cortando algumas subtramas desnecessárias ou retrabalhá-las para ficar a contento. O real problema é que todo conflito é apresentado de forma pesada mas com uma abordagem cada vez mais leve conforme passam os episódios...


Tecnicamente, é uma série "bem feitinha", sem arroubos visuais na direção de fotografia de James Hawkinson e companhia mas ainda assim utilizando de modernidades das linguagens das redes sociais em alguns momentos, porém com parcimônia e bastante bom senso. Os figurinos da dupla Blair Levin e Dion Demetries são muito apurados, com destaques aos deslumbrantes vestidos de Vivian e Hilary. A direção de arte comandada por Ava Dishian também é interessante, trazendo todo o glamour e riqueza para o universo de Will e cia como nunca poderíamos imaginar há 30 anos... As canções escolhidas para a trilha sonora tem predominância no rap mais atual com Easy McCoy (feat. Tyus) na bela "Deja Vu" - que foi utilizada na nova abertura - além de nomes como J. Cole, Philly Freeway, Thundercat, dentre outros. Já a trilha sonora original supervisionada por Jen Ross é fraca e nada emotiva, praticamente imperceptível.

"Bel-Air" não reserva qualquer surpresa para quem assistiu a série original e muito menos para quem assistiu qualquer seriado teen nos últimos vinte anos. Mas entretém e dá vontade de continuar assistindo, talvez por conta do carisma de Jamari Banks - que até imita os trejeitos do outro Will Smith em diversos momentos - ou por qualquer outro atrativo. Assista com expectativa baixa e tire suas próprias conclusões. 



A mãe de Kal J. Moon o chamava de "príncipe". Ele sente falta dela...


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