Baseado num conto escrito por Joe Hill, dirigido por Scott Derrickson, estrelado por Mason Thames, Madeleine McGraw e Ethan Hawke, "O Telefone Preto" é um filme que traz de volta a atmosfera quase independente do terror feito nos anos 1970.

O passado em tom de sépia
Há quem diga que as lembranças adquirem cores vívidas em nossa memória enquanto que o presente é impresso em tons neutros, próximos do cinzento. Independente da verdade, as fotografias impressas nos anos 1970 e começo dos anos 1980 sempre tendiam para uma paleta de registro avermelhado, quase terroso, mesmo aquelas que eram coloridas - pois fotos em branco e preto envelheciam mal, transformando em auri-branco o que outrora era alvo-ocre. É essa sensação de ~"coisa velha" que o filme "O Telefone Preto" tenta passar ao espectador, de uma forma mais realista do que hiper-coloridos seriados possam tentar nos enganar como era a "década do 'nós'".

Na trama, em 1979, após Finney ter sido raptado e trancado num porão à prova de som, começa a receber chamadas num telefone preto das vítimas anteriores de um perigoso assassino. Sendo que o telefone está com os fios cortados. Enquanto isso, a polícia investiga o desaparecimento de diversas crianças e sua jovem irmã Gwen decide investigar por conta própria após ter uns sonhos estranhos que podem ser a única pista para encontrar seu irmão antes que o pior ocorra...


O roteiro do próprio Derrickson com C. Robert Cargill (que trabalhou com o diretor em "A Entidade"), além de mostrar uma época sem qualquer glamour visual, também procura elucidar, de maneira efetiva, como era uma delicada operação policial numa cidade pequena e sem tecnologia de rastreamento para ajudar na investigação. O principal mérito desse roteiro é ser bem enxuto, resultando numa obra com pouquíssimo mais que uma hora e quarenta minutos de duração, sem firulas narrativas e nem tomadas para massagear egos cinéfilos. Mesmo com todos os elogios, a trama é muito simples e descobrir o mistério é mais fácil do que aparenta a princípio. E algumas soluções propostas causam algum desconforto mesmo a quem estiver totalmente engajado com a história.

Embora o elenco esteja bem operante, existe apenas três grandes destaques. O primeiro e mais óbvio é o veterano Ethan Hawke, que mais parece uma versão setentista e mais realista do vilão Coringa - nada contra, mas as semelhanças são impressionantes em sua performance.


Outro destaque positivo vai para o ator egresso da TV Brady Hepner, que interpreta uma das vítimas - o fato do personagem ser um apreciador de heavy metal traz um registro diferenciado desde a primeira cena em que aparece (e ajuda a mostrar como os "espíritos" reagem à sua própria morte - no caso dele, de forma bem violenta). 

Por último mas não menos importante, temos a inspirada interpretação de Madeleine McGraw, cuja personagem serve não somente de parte do fio narrativo de um pedaço da investigação mas também como âncora emocional da parcela de uma família que talvez não tenha mais esperanças de resgatar um ente querido sequestrado. A jovem atriz equilibra muito bem momentos de bom humor por conta de suas falas cheias de palavrões (até mesmo em suas orações!) com excertos de sofrimento e dor (repare na cena em que seu pai conversa com ela sobre seus dons premonitórios). É um nome que, se escolher bem seus próximos papéis, deve brilhar num futuro próximo.

(o ator Mason Thames até funciona em cena mas nada realmente digno de destaque, até porque seu personagem é mais operativo do que emotivo)


A direção de fotografia comandada por Brett Jutkiewicz (do recente "Casamento Sangrento") tenta mesclar o "ar" setentista ao misturar influências visuais que emulam bem como um filme feito na época, principalmente nas sequências mais oníricas, tentando traduzir imagens lavadas e quase documentais vindas da cabeça de uma criança que não tinha nenhum acesso a cinema... Já a trilha sonora original composta por Mark Korven (do recente "O Farol") é apenas funcional mas beira o irritante em momentos que busca à força o jump scare barato.

"O Telefone Preto" não tenta reinventar o cinema setentista mas sim homenageá-lo com o que há de mais difícil hoje em dia: a simplicidade. É um filme reto, objetivo e quase cru, com uma ou outra gordura mas nada que prejudique o paladar cinéfilo. Mas não é a melhor invenção desde a lambada e a capa plástica de controle remoto... Assista sem expectativas (e sem nem ver o trailer ) e aproveite a experiência.




Kal J. Moon não sentiu medo, teria resolvido o problema em menos de meia hora e denunciaria aquele pai por maus tratos antes de fugir de casa...

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