Com um custo de cerca de 700 milhões de dólares, a primeira temporada da maior aposta da Amazon para seu serviço de streaming, Prime Video, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder acerta onde precisava e falha em pontos que podem ser corrigidos nas temporadas vindouras.
Baseada na obra de J.R.R. Tolkien, que dispensa apresentações (se você for nerd, claro), o famoso professor de Oxford, falecido em 1973, que escreveu livros considerados clássicos como O Silmarillion, O Hobbit e, lógico, O Senhor dos Anéis, a série teve oito episódios impecáveis em termos de produção, porém, alguns erros cometidos pelo roteiro deixaram um leve gosto amargo na boca dos fãs.
O grande acerto da série foi ter ousado ao inspirar-se na trilogia O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, filmes de sucesso que estão muito gravados na memória e coração da audiência. Muitos dos cenários, criaturas e personagens lembram, esteticamente, o trabalho que Jackson desenvolveu 20 anos atrás. Acredito que de nada adiantaria todo o gasto com a produção, se nos fosse apresentadas novas versões de balrogs, cidades élficas ou até mesmo da espada Narsil, arma usada por Elendil durante a derrota de Sauron durante a segunda era, e que foi reforjada na terceira era para ser usada por Aragorn, durante a batalha que resultou em sua segunda queda.
Os valores de produção, altíssimos, tendo em vista o gasto que a Amazon teve para realizar a série, garantiram que tudo fosse muito bem realizado. Cenários belíssimos (Khazad-Dûm, a mina dos anãos, é algo simplesmente impressionante), locações muito bem escolhidas, maquiagem impecável e figurinos ricos e detalhados são vistos nos oito episódios, criando uma visão da Terra-média de Tolkien digna da obra que a inspira.
O elenco é muito bem escalado. Desde as personagens mais conhecidas dos fãs dos livros, como Tar-Míriel (Cynthia Addai-Robinson), passando por aquelas conhecidas por fãs dos filmes de Peter Jackson, como Galadriel (Morfrydd Clark), até as criadas exclusivamente para a história da série, como o elfo Arondir (Ismael Cruz Cordova), todas foram muito bem representadas pelos profissionais que assumiram os papéis.
Porém, o grande destaque do elenco é o ator Joseph Mawle, conhecido dos fãs de Game of Thrones, onde interpretou Benjen Stark. Ele vale a série. Sua personagem, não darei spoilers, é profunda de tal monta que poderia muito bem ter sido escrita pelo próprio J.R.R. Tolkien. Parece, em profundidade, com aquilo que temos em Gollum/Sméagol. Complexa e envolvida em um dilema terrível, a personagem se destaca em meio à dicotomia intrínseca ao universo de Tolkien, que foi tão bem respeitada pelos roteiristas.
Mas a série tem um problema de roteiro que, quase, colocou tudo à perder.
Os roteiristas decidiram incluir um recurso ruim na história conhecido como "mistery box", ou "caixa surpresa". Duas personagens misteriosas, criadas para a série, mas que tem relação estreita com eventos dos livros, são apresentadas e acabam revelando-se no episódio final de forma anticlimática. Cozinharam durante tanto tempo, deixando tantas pistas, que quando o segredo é revelado ele não surpreende.
De qualquer maneira, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder é uma boa série e que vale a pena ser assistida. Serve como introdução ao universo criado por Tolkien, assim como os filmes, 20 anos atrás, e tem muito potencial para gerar novos fãs do Professor. Tomara que a segunda temporada, que também terá orçamento milionário, resolva os problemas de roteiro.
Marlo George assistiu, escreveu e quer uma adaga igual a da Galadriel
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