Uma das atrações mais aguardadas para este início de temporada pós-carnaval, "Luther - O Cair da Noite" chega à plataforma paga de streaming Netflix trazendo Idris Elba de volta ao icônico personagem que contribuiu para a sua fama internacional quase quatro anos após o término da série da emissora britânica BBC. Valeu a espera?

Lá e de volta outra vez
Dando continuidade aos eventos da quinta temporada da série "Luther" (2010-2019), o filme agora acompanha o personagem título tendo que lidar com um criminoso do passado que não conseguira capturar e a própria condenação por infringir a lei para conseguir justiça ao longo das cinco temporadas do programa. Porém, o fato de não ter acompanhado a série não é empecilho para o entendimento da trama, uma vez que de forma dinâmica e breve o conhecimento de eventos prévios é apresentado nos primeiros minutos de exibição principalmente através do recurso da imprensa. Isso proporciona ao espectador "não iniciado" um entretenimento agradável sem a frustração de quem pega uma história no meio do caminho.

Inclusive, este é um ponto extremamente positivo num tempo de universos interligados que exigem do público o acompanhamento de uma série para a compreensão da trama de um filme e vice-versa. Mérito da dupla formada pelo roteirista Neil Cross (criador da série original) e o diretor Jamie Payne (que, além da quinta temporada de "Luther", também dirigiu a série "Outlander") pois, sendo profundos conhecedores da trama pregressa do personagem, souberam apresentá-la aos neófitos.

A atuação do elenco também está impecável. Além de Elba (do recente "A Fera"), a produção também conta com Andy Serkis ("The Batman"), Cynthia Erivo ("Harriet"), Dermot Crowley ("Star Wars - Episódio VI: O Retorno de Jedi") e Hattie Morahan (do live-action "A Bela e a Fera"). Todos entregam personagens muito bem construídos e totalmente críveis pelos os quais é possível nutrir simpatia ou desprezo.

A parte técnica em sua maioria também é bem competente em conduzir a imersão do espectador na trama. A trilha sonora de Lorne Balfe ("Adão Negro"), a fotografia de Larry Smith ("O Perdoado"), a edição de Justine Wright ("A Negação") e a direção de arte de Andrew Ackland-Snow ("A Casa do Dragão") proporcionam toda a ambientação necessária a uma experiência inesquecível.

O ponto baixo fica por conta dos efeitos visuais que, embora sejam poucos e não tão significativos para a história, deixam a desejar no quesito realismo, parecendo uma versão atualizada dos efeitos de séries cômicas como "Chaves" e "Chapolin" - com a grande desvantagem de que para uma narrativa séria o recurso deva ser totalmente crível, enquanto que nos humorísticos a tosqueira pode ainda temperar a graça. Mesmo que a equipe encabeçada por Maxwell Alexander ("Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore") seja composta por um grande número de profissionais, parece não terem sido o bastante para dar conta do recado.

As pouco mais de duas horas de exibição valem a pena por trazerem mais uma obra de qualidade para o gênero de suspense investigativo, equiparando-se a produções como "O Silêncio dos Inocentes", "Na Teia da Aranha" e "O Colecionador de Ossos". Mas eis aí a questão: é mais uma entre várias outras já conhecidas do público sem trazer qualquer grande novidade ou surpresa. Na verdade, em certos pontos, até parece um tanto genérico fazendo com que o espectador mais experiente antecipe os acontecimentos e revelações quase como um déjà vu - experiência que pode ser frustrante inclusive para os fãs da série que tenham expectativas de uma conclusão épica para a jornada de John Luther.

E, por se tratar de uma continuação da série, óbvio que não podiam faltar referências para agradar os apreciadores da obra original. Elas ficam por conta de detalhes que os iniciados perceberão com facilidade e brilho nos olhos mas que não atrapalham o entendimento da história para quem assiste apenas ao filme. Outras duas referências também vão agradar à parcela do público que torce para que Idris Elba seja o novo 007. Outra curiosidade também é o fato de que o ator principal e Andy Serkis atuaram em filmes do Universo Cinematográfico Marvel, mas seus personagens jamais se encontraram, ainda que tenham aparecido em "Vingadores - Era de Ultron".

O recomendável é que se assista a "Luther - O Cair da Noite" na boa companhia de ao menos um balde de pipocas e com baixa expectativa, uma vez que não é surpreendente mas digno de atenção. Além disso, é sempre bom lembrar que o público está em constante renovação e como diz um ditado muito repetido no meio das histórias em quadrinhos, "qualquer gibi pode ser o primeiro gibi de alguém". Então, pode ser que este filme seja o primeiro "Se7en'" de alguém.


Antonio Carlos Lemos segue em sua busca incansável por atrações dignas audiência e pelos melhores quitutes para apreciá-las.

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