Dirigido pela dupla John Francis Daley & Jonathan Goldstein, estrelado por Chris Pine, Michelle Rodriguez, Justice Smith e Sophia Lillis - com participação especial de Hugh Grant, Regé-Jean Page, Daisy HeadChloe Coleman, "Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes" é o típico "filme-pipoca" para relaxar e curtir num fim de semana entre amigos.


Mais uma vez, do começo...
Um amigo da adolescência sempre reclamava em nossas costumeiras conversas que uma certa revista dedicada ao RPG (Role Playing Games) só ainda fazia sucesso - na época - por conta de sempre ter como público-alvo "o eterno iniciante" - ou seja, era feita para aqueles que estavam começando a prática do tal "jogo de interpretação de personagens" - e deixava de lado os jogadores veteranos, com quase nenhuma matéria com conteúdo "melhor elaborado". Se isso era verdade ou não, somente o tempo pode responder. Mas, pelo menos vinte anos depois daquelas animadas conversas, dá pra imaginar que o processo de produção de "Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes" seguiu um caminho de foco de público-alvo parecido com o daquela revista, para o bem e para o mal.

Na trama, um ladino com um trauma do passado (a morte de sua esposa e a perda de sua filha) e seu improvável bando de aventureiros embarcam numa jornada para recuperar uma relíquia perdida para trazer sua esposa de volta à vida, mas as coisas nunca saem conforme o planejado e o destino de um reino pode estar em sério risco se algo não for feito a tempo.

O roteiro escrito a seis mãos de Jonathan Goldstein, John Francis DaleyMichael Gilio (baseado na história de Chris McKay e do próprio Gilio) segue reto em sua narrativa, ainda que haja espaço para alguns mini-flashbacks a fim de contextualizar uma ou outra informação que necessita de explicação para quem não está habituado com este novo universo. Sim, existe claramente o desejo de se criar uma franquia com esses personagens mas não se revela tudo sobre a trupe (muito menos sobre os coadjuvantes e vilões), o que pode deixar parte da audiência insatisfeita pela aparente falta de desenvolvimento.


Porém, quem está reclamando disso, talvez tenha se esquecido que três outros filmes foram realizados entre 2000 e 2012, onde pouco (ou praticamente nada) lembrava o mundo medieval-fantástico de "Dungeons & Dragons" e a tal falta de desenvolvimento de personagens também estava lá. Porém, independente disso, uma coisa é certa: tanto naquela época quanto nessa, a audiência está cada vez mais impaciente para narrativas mais densas em produtos POPs. Se "Batman Begins" (2005) fosse lançado hoje em dia, talvez não teria sido sucesso nem de público muito menos de crítica, só para se ter uma ideia. Atualmente, o povo quer "menos livro e mais TV", como se dizia antigamente e "Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes" tem de sobra esse tipo de simplificação de trama, além de trazer um quase perfeito recomeço de franquia, com tudo muito bem explicadinho - até demais em determinadas partes (o que gera umas piadas que quem já jogou com mestres obcecados com detalhes desnecessários vai pescar imediatamente).

Para apreciar esse filme, é necessário ter em mente que, talvez, não seja um filme feito exclusivamente para jogadores veteranos mas muito mais para um público mais amplo, aquele que nunca jogou uma partida de RPG e só quer uma diversão frívola, com bom timing de piadas, além de algumas cenas de ação com visuais bem elaborados de criaturas fantásticas - e não há nada errado com isso. Mas para quem jogava partidas com dados feitos com cera de vela e planilha xerocada em inglês, ainda existe uma boa quantidade de citações e elementos de cena que fazem menção direta ou indireta a este amado universo de fantasia.

Entre o elenco, o destaque óbvio vai para o personagem de Chris Pine, cuja história meio que domina a narrativa, ainda que as outras personagens de sua trupe tenha importância em alcançar seus objetivos. Pine está confortável no papel, embora não seja nada desafiador em termos dramáticos - mesmo quando há oportunidades para tal - e nada inovador em relação a seus papeis na trilogia "Star Trek" ou nos dois filmes da Mulher-Maravilha, por exemplo.


O restante do elenco está operante, sem grandes destaques, apesar da boa participação de Hugh Grant, com a "canastrice" necessária à sua personagem (embora seja bem parecido com o que Jeff Goldblum fez em "Thor - Ragnarok"). Regé-Jean Page está correto mas interpreta um personagem meio sem sal (tem até uma piada sobre isso, evidenciando que paladinos tendem a serem enfadonhos). Pena que Daisy Head (da série "Sombras & Ossos") tem pouquíssimo destaque (apesar de boas cenas de ação) e Chloe Coleman (do recente "65 - Ameaça Pré-Histórica") não tenha muitas cenas que possam realmente justificar sua presença no filme.

Já Michelle Rodriguez - que meio que divide o protagonismo do filme - é uma negação. Ok, as cenas de ação são ótimas e empolgantes mas em todas as tomadas onde há a necessidade mínima de atuação dramática - é, talvez, a personagem que mais existe possibilidades de entrega -, não "alcança a nota" e nada do que fala ou faz é minimamente crível. Ainda que sua personagem não seja nada complexa em matéria de composição - uma guerreira que demonstra alguns sentimentos por quem preza -, Rodriguez só mostra a faceta "badass", quando poderia oferecer um pouco mais, só para variar dos trabalhos que fez na saga "Velozes & Furiosos", por exemplo.

A direção de fotografia comandada por Barry Peterson (de "Jumper") é bem competente, buscando ângulos diferenciados de cena, tomadas cromáticas e insistindo numa narrativa circular em alguns momentos-chave da trama, emulando bem o que é realizado em ilustrações de capas de livros de "Dungeons & Dragons". Já a trilha sonora original composta por Lorne Balfe (do recente "Luther - O Cair da Noite") é apenas funcional, sem nenhum grande destaque - mas também não atrapalha.


Para quem estava esperando uma nova franquia nível "O Senhor dos Anéis", com personagens maiores que a vida e trama instigante a ponto de querer um novo filme logo ao fim da exibição, bem, baixe essa expectativa aí pois "Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes" não é nada disso nem nunca pretendeu ser algo parecido. Na verdade, é um filme bem feitinho, honesto, com trama simples e objetiva, celebrando a verdadeira amizade e passando uma mensagem positiva à audiência mais jovem.

Precisamos de filmes mais simples como esse para que toda uma nova geração volte a frequentar salas de cinema "como faziam os maias e os astecas". Se "Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes" será o primeiro exemplar de uma nova franquia que pode mostrar todo o potencial narrativo do RPG às novas gerações, só o tempo vai dizer - mas não faz feio em sua primeira investida. Assista e tire suas próprias conclusões...




Kal J. Moon gostaria de ter a "Pedra da Ressurreição" para trazer sua mãe de volta para, pelo menos, passar um último Natal...

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