Após 30 anos de espera, eis que temos uma adaptação oficial em live-action de Os Cavaleiros do Zodíaco. Uma pena que o resultado final lembra tudo, menos a obra de Masami Kurumada.


Genérico, repleto de soluções simples, com um elenco incrível e mal aproveitado, Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya - O Começo é um dos piores filmes que eu tive o desprazer de assistir na vida.

O roteiro, nem de longe, se parece com a obra adaptada.

Enquanto o mangá de Masami Kurumada, e até mesmo o anime dos anos 80, tem diálogos interessantes e profundos, temas filosóficos, e personagens cativantes e inesquecíveis, a trapalhada assinada por Josh Campbell e Matt Stuecken, de Rua Cloverfield, 10 e Kiel Murray de Raya e o Último Dragão, Carros e Carros 3, da Disney/Pixar. é um trabalho porco e paupérrimo. 

Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya - O Começo é um filme sem vida. Sem alma. Sem cosmo.

Não irei ficar aqui dizendo que o roteiro é um desrespeito com os fãs da obra original, porque roteirista não tem obrigação nenhuma de respeitar fãs. Roteiristas precisam pegar uma obra e adaptá-la usando aquilo que a obra tem de melhor. Neste caso, tudo que Saint Seiya tem de bom foi ignorado. Os temas que tornaram esta obra tão famosa (motivo pelo qual temos hoje esta adaptação) foram simplesmente ignorados. 

Os Cavaleiros do Zodíaco é sobre amizade, união e trabalho em grupo, e no filme temos Seiya, um rapaz solitário, que é jogado em uma missão solo de proteger uma garota que ele acabara de conhecer. 

O Seiya de Kurumada tinha um relacionamento com Saori desde que eles eram crianças. As personagens não se davam bem, cresceram em ambientes bem diferentes, sendo ela uma menina mimada e rica, enquanto ele acabou indo parar na Grécia para um treinamento penoso, vivendo em condições de pobreza. Porém, ambos cresceram, amadureceram e entenderam que faziam parte de uma missão muito maior que qualquer rusga infantil. No final, quando chegou a hora dele se provar como merecedor de ostentar o título de Cavaleiro de Pégaso, ele tinha motivos para se importar com ela. E esta amizade só se fortaleceu durante a série.

Porém, no filme, tudo que temos é um bobalhão que é convencido por um ricaço a proteger sua "filha" por motivo algum. Tudo, lógico, através de diálogos ridículos. Para piorar, o filme ignora personagens importantes como Shun, Shiryu, Hyoga, entre outros. Dá pra acreditar?


Como não bastava ignorar o mangá original, o trio de roteiristas decidiu que seria uma boa ideia (isto, se foi mesmo ideia deles e não uma imposição da produção) usar o anime 3D, que está atualmente disponível na Netflix e Crunchyroll, como inspiração. O exército de Guraad e seus cavaleiros tecnológicos são ruins na animação, que dirá no filme. Não funciona de jeito nenhum.

Como citei este desenho animado em terceira dimensão, o compositor da trilha sonora original de Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya - O Começo é Yoshihiro Ike, que também trabalhou na animação. Ele tem muita experiência em animes, mas sua trilha sonora tem uma concorrente muito forte, que é a composição do anime original, dos anos 80 que é belíssima. Ike fez um trabalho genérico, como o do roteiro, e os temas não chamam atenção ou emocionam, algo que era comum nos episódios que assisti na década de 90, na Rede Manchete.

Para não dizer que nada se salva nesta tragédia, o figurino da Marin de Águia está incrível. A opção de usar um rosto de estátua grega como molde para a máscara da amazona é a única solução interessante da produção inteira. Ficou muito bonito e condizente. 

Posso falar bem também das lutas, pois todas as coreografias são bem realizadas e tem ritmo frenético. Bem melhor que todas que vimos em Shang-Chi: A Lenda dos Dez Anéis, da Marvel Studios. Se vale à pena assistir este filme, por um aspecto, é pelas lutas.

As locações reais são bonitas, especialmente a mansão do Sr. Kido, porém as digitais deixam a desejar e parecem cenários de jogos de luta.

Falando em Sr. Kido, Sean Bean (O Senhor dos Anéis, Game of Thrones) interpreta o milionário que encontra Atena, ainda bebê e decide reunir cavaleiros para protegê-la. Dá pra sentir o constrangimento do ator ao dar suas falas, mal escritas, durante todas as cenas. 

Temos Mark Dacascos (Cruing Freeman: Lágrimas do Guerreiro) que é um grande artista marcial sendo totalmente mal aproveitado como Tatsumi. A personagem de Dacascos é um alívio cômico no mangá e anima, mas a versão bad-ass do filme seria mais bem retratada se Tatsumi trocasse a metralhadora que usa por uma espada de kendô. Não dá pra acreditar que, mesmo a mudança mais justificada do roteiro, tenha sido realizada de forma tão imbecil.

Nick Stahl, de O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas e Sin City, está maravilhoso como Cassius, mesmo sendo bem diferente, visualmente, da personagem do anime, mas sua história ´tão deturpada que mesmo sua acertada escalação para o elenco se torne algo sem importância.

O filme traz também uma outra velha conhecida do público da cultura POP, Famke Janssen, que interpretou a Garota Marvel, Jean Grey ou Fênix da trilogia clássica dos X-Men, de Brian Singer. Ela dá vida, infelizmente, à Guraad, a vilã da história. Mais uma visivelmente constrangida em cena.


Diego Tinoco, Madison Iseman e Mackenryu (acima)
,  interpretam Nero, Sienna e Seiya, respectivamente. É impossível avaliá-los sem conhecer seu trabalho prévio, só tendo como base de avaliação de seu trabalho este filme horrendo. Cumprem seu papel, apresentam suas personagens e só. Eu não irei meter o pau neles, seria irresponsável de minha parte.

O longa-metragem é dirigido pelo polonês Tomasz Baginski, sendo este seu primeiro filme com destaque internacional. A direção não é ruim. Como já disse, o roteiro é péssimo, mas o produto final é bem dirigido, quando estamos tratando de um filme de ação. As lutas, já mencionei, são maravilhosas. As cores usadas são excelentes e é possível notar que Baginski se inspira, bastante, em Zack Snyder (Sucker Punch, O Homem de Aço), pois tem um estilo de direção muito similar ao do amado e odiado diretor do vindouro Rebel Moon da Netflix.

Ocorre que, direção boa não salva roteiro ruim e a exposição de Baginski com este filme tão medíocre, pode prejudicá-lo no futuro.

Se tiver estômago, assista Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya - O Começo. Se estiver motivado a assistir por nostalgia, afaste-se. Vá por mim. E o que falar deste título? Tomara que seja mesmo "o começo"... Do fim!




Marlo George assistiu, escreveu e não irá comparar esta coisa estúpida com Dragon Ball Evolution

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