Inspirada nos livros do escritor Matthew Quirk, a série O Agente Noturno é uma das mais recentes apostas da plataforma paga de streaming Netflix no gênero da espionagem. Mas quem sai ganhando com essa jogada?


168 horas
Após frustrar um atentado a bomba no metrô de Washington, o agente do FBI Peter Sutherland (Gabriel Basso, de “Era Uma Vez Um Sonho”) passa a monitorar uma linha de emergência no subsolo da Casa Branca, mas que nunca recebe chamadas. Porém, certo dia, ao atender uma ligação, ele acaba se envolvendo numa trama cheia de intrigas e conspiração que podem abalar o governo americano.

Típica premissa de um thriller de espionagem repleto de tensão, suspense, ação e reviravoltas que poderia facilmente cair no clichê previsível, tornando-se assim uma entediante experiência para o público que busca novidades. Contudo, a atração consegue trazer um renovado frescor ao ocultar providencialmente as respostas dos segredos e mistérios que propõe, sendo capaz de surpreender até mesmo o espectador mais experiente.


Criada por
Shawn Ryan (da versão atual da série "S.W.A.T." e showrunner da clássica "The Shield - Acima da Lei"), adaptando a franquia de livros de Quirk lançada em 2019, traz muitos elementos narrativos que rementem à aclamada “24 Horas”. Um ponto positivo, pois além de atrair uma nova audiência, também é capaz de conquistar os mais nostálgicos. Inclusive, o nome do protagonista parece uma homenagem ao intérprete de Jack Bauer, tendo até o mesmo nome do pai. No caso do ator Kiefer Sutherland, o nome é diferente de seu pai, Donald, mas durante certo tempo era comum que ele fosse mais lembrado como “o filho de Donaldo Sutherland”, até que finalmente alcançasse o devido reconhecimento pelo seu próprio trabalho. Isso também permeia a biografia de Peter, que é assombrado pelo passado do pai.

Mas as semelhanças não se limitam aos homônimos, também sendo notadas na composição e na condução da própria da história. Por exemplo, são apresentados personagens ambíguos que ora parecem confiáveis, ora passíveis de desconfiança total. Ou, ainda, apresentando eventos aparentemente sem qualquer relação, mas que no fim das contas revelam-se totalmente interligados. Além do protagonista que, de última esperança de salvação da pátria, passa a ser perseguido como possível suspeito.


Contudo, engana-se quem pensa ser uma mera cópia de uma outra série de sucesso. O programa tem sua própria identidade, já que Peter é um jovem agente que deseja se provar ao máximo devido ao histórico do pai. Além disso, ele não tem uma família que precisa proteger ao mesmo tempo em que cumpre seu dever. Esses elementos dão lugar à jovem especialista em cibersegurança
Rose Larkin (Luciane Buchanan, da recente série Sweet Tooth), cuja ligação de emergência para Peter é o estopim para o desenrolar dos eventos. A princípio, a tarefa do agente é proteger a moça, mas com o passar do tempo um laço mais forte vai se estabelecendo entre eles.

Ainda que fosse apenas uma ode à obra de Joel Surnow e Robert Cochran, não seria demérito algum. Basta lembrar que há obras aclamadas justamente por prestarem homenagem abertamente às de outros realizadores. Um significativo exemplo recente é o “Coringa”, de Todd Phillips, que muitos enaltecem exatamente por suas referências à filmografia de Martin Scorsese.


A narrativa dosa o drama, o suspense e a ação de forma muito bem equilibrada. Nenhum desses elementos se estende desnecessariamente, o que poderia tornar a série arrastada demais em alguns momentos, ou parecer excessivamente pirotécnica e descerebrada em outros. Mérito da competente equipe composta pelos escritores
Corey Deshon (de "Daughter"), Tiffany Shawn Ho (da série "Debris"), Rachel Wolf (estreando na função), Seth Fisher (da série "O Alienista"), Munis Rashid e Imogen Browder (ambos também de "S.W.A.T.")além do próprio showrunner. Mas isso não seria possível sem a direção de Adam Arkin (da minissérie "The Offer"), Guy Ferland (da série "Chicago P.D.: Distrito 21"), Seth Gordon (de "Cidade Perdida"), Ramaa Mosley (da série "Manifesto") e Millicent Sheldon (de "Fim da Estrada").

E assim como o time de roteiristas e diretores tem mais integrantes por se tratar de uma série, a edição também fica a cargo de uma equipe. No caso, composta por Natasha Gjurokovic (da série "CSI: Vegas"), Anthony Pinker (da série "Sobrenatural"), Lilly Urban (de "Lock and Key") e Peter S. Elliot (de "Thor: Amor e Trovão"), sem os quais a coesão narrativa não seria alcançada.


Claro que também é indispensável o trabalho de outros departamentos como a direção de fotografia feita por Michael Wale (de "Pacificador"), Simon Chapman (de "Space Force"), François Degenais (do recente "Peter Pan e Wendy") e David Hennings (de "A Maldição de Bridge Hollow"). Além das contribuições da música de Robert Duncan (da série "Sem Misericórdia"), a maquiagem encabeçada por Leah Ehman (do telefilme "Harry & Meghan: Escapando do Palácio") e Rita Mooney (de "Jurassic World: Domínio"), os efeitos especiais de Tony Lazzarowich (de "Imperdoável") e os efeitos visuais da equipe de Sonia Kung (do recente "John Wick 4: Baba Yaga"). Todos empenhados em proporcionar a melhor imersão do público na cruzada de Peter 
Sutherland para salvar o dia.

Durante os dez episódios, o espectador acompanha a missão do agente que tem apenas sete dias para tentar impedir um novo ataque. A consistência homogênea da narrativa faz com que o público se mantenha atento a cada detalhe, aguardando ansiosamente pelo episódio seguinte para descobrir mais um segredo e saber que rumo a trama vai tomar.


Obviamente que parte do resultado também se deve ao elenco que conta com nomes bem experientes em
séries, como Sarah Desjardins (de “Yellowjackets”), Eve Harlow (de “Titãs”), Fola Evans-Akingbola (de “Agência”), Phoenix Raei (de “Clickbait”), Enrique Murciano (de “Ela Dança, Eu Danço”), D.B. Woodside (de “Lúcifer”), Hong Chau (indicada ao Oscar pelo premiado longa “A Baleia”), Christopher Shyer (de “Paper Girls”), Ben Cotton (de “Resident Alien”), Kari Matchett (de “Supergirl”), Andre Anthony (do recente longa “Pânico VI”), Hiro Kanagawa (de “Star Trek: Discovery”) e Robert Patrick (de “Pacificador”), além, claro, do casal protagonista já citado. Um destaque interessante para a participação de Adam Tsekhman (de “Lendas do Amanhã”) como o líder político Omar Zadar, que requer certa atenção do público e acaba sendo surpreendente, mesmo que não seja de forma grandiosa.

A qualidade de “O Agente Noturno” é inegável, haja vista não apenas sua permanência por várias semanas entre as dez séries mais assistidas da plataforma, mas por ter alcançado a nona posição entre todas as séries mais assistidas até hoje. Fato que ajudou o programa a ter sua segunda temporada confirmada antes mesmo do segundo mês de exibição. E pelo que foi mostrado no fim da primeira, a próxima missão de Peter Sutherland promete ser ainda melhor. Com certeza é garantia de bom entretenimento para apreciadores de obras do gênero.

Antonio Carlos Lemos aguarda ansiosamente por outras séries tão boas assim da mesma forma que o Agente Sutherland esperava por uma ligação.

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