Com mais de meio século de carreira como ator, Arnold Schwarzenegger estrela uma série pela primeira vez. Agora nas telinhas através da plataforma paga de streaming Netflix com "Fubar", que, apesar de estrelada pelo "governator", chegou sem muito alarde trazendo o astro dos filmes de ação em uma nova aventura.

De volta
Schwarzenegger não só retorna à ação nessa trama explosiva de espionagem, como o seu próprio personagem Luke Brunner se vê obrigado a retornar às atividades de campo como agente da CIA, adiando sua aposentadoria. O que acaba o levando a descobrir que sua filha Emma (Monica Barbaro, de "Top Gun - Maverick") também é uma espiã e que ambos terão que atuar juntos para impedir os planos do criminoso internacional Boro Polonia (Gabriel Luna, mais conhecido por séries como a recente "The Last of Us" e "Agentes da S.H.I.E.L.D."). Além do típico conflito de gerações (aqui intensificado pela diferença de gêneros), Luke se vê às voltas com suas tentativas de reatar com a ex-esposa Tally (Fabiana Udenio, da série "Jane The Virgin"), enquanto tenta manter as vidas duplas dele e da filha em segredo.

Às missões dos Brunner, se juntam ainda os agentes de campo Roo (Fortune Feimster, mais conhecida por seus espetáculos de stand-up) e Aldon (Travis Van Winkle, da série "Você"); os "nerds da cadeira" Barry (Milan Carter, de "Meu Nome é Dolemite") e Tina (Aparna Brielle, da minissérie "Boo, Bitch"); todos sob o comando da Diretora Dot (Barbara Eve Harris, da série "Star Trek - Picard") com o apoio do psicólogo Dr. Pfeffer (Scott Thompson, da série "Hannibal"). Todos muito bem afiados contribuindo para o andamento da trama, não apenas nos intensos momentos de ação, mas também nos momentos dramáticos e os cômicos.

E um dos pontos extremamente positivos da série é justamente o equilíbrio entre essas abordagens. A impressão do espectador é de estar assistindo a um verdadeiro compilado das obras estreladas por Arnold durante toda sua carreira. Não faltam situações, cenas e frases que lembrem "True Lies", "Comando para Matar" e até mesmo "Um Tira no Jardim de Infância" ou "Irmãos Gêmeos". Uma boa oportunidade de ver o grandalhão austríaco (que interpreta justamente um compatriota) transitando por essas diferentes nuances de interpretação - mesmo que não signifique exatamente que suas habilidades de atuação tenham se tornado extraordinárias... Ao menos, é uma chance de vê-lo no frenesi de ação, na tensão dramática (com direito até a momento de fofura) e na divertida comédia. Tudo numa mesma produção!

Mas mesmo com sua enorme compleição física, Schwarzenegger não carrega o programa nas costas pois os demais integrantes de elenco contribuem com suas atuações em todos os aspectos. Se engana quem pensa que, por exemplo, Feimster está lá para ser alívio cômico ou que Harris serve apenas como um bastião de seriedade. A agente Roo também é capaz de momentos bem sérios, da mesma forma que Dot também chega a fazer piadas. E todos os demais dividem esse trabalho de forma muito igualitária e uniforme, sem exageros ou carências, contando também com os reforços de outros integrantes como Andy Buckley (o eterno David Wallace da icônica série "The Office") e Jay Baruchel (notório pela voz original de Soluço da franquia "Como Treinar Seu Dragão"), que ajudam a movimentar o núcleo pessoal dos protagonistas no qual eles representam, respectivamente, o namorado da ex de Luke e o namorado de Emma.


É claro que todo o talento e empenho do elenco por si só não é capaz de todo o trabalho. Para o bom resultado, foi fundamental o texto de Nick Santora (criador da série), Cait Duffy, Michael J. Gutierrez, Lillian L. Wang, Adam Higgs, Scott SullivanPenny Cox, todos colegas nos roteiros da série "Reacher", com exceção de Higgs, que trabalhou ao lado de Santora em "Scorpion: Serviço de Inteligência". Soma-se a isso a direção competente de Phil Abraham (da recente série "Jack Ryan"), Steven A. Adelson (de "Riverdale"), Holly Dale (de "Batwoman") e Stephen Surjik (de "The Witcher"). A consequência é uma trama coesa e muito bem conduzida, que leva o público a uma experiência imersiva capaz de fazer qualquer um maratonar o programa em apenas um dia. 

Essa qualidade se deve à vasta experiência das equipes de roteiro e direção, não apenas com obras do gênero, mas com várias outras produções. Nenhuma ponta solta é deixada ao final, que termina com um forte gancho para uma próxima da temporada - que provavelmente acontecerá, visto o sucesso no primeiro fim de semana de exibição. É curioso notar que a história está repleta de clichês, mas que, ao contrário do que possa parecer, não deixam a série com um ar de mais do mesmo. Na verdade, isso desperta ainda mais interesse, mesmo que parte do público consiga prever algumas consequências de certas ações. Além disso, ainda que siga o formato contemporâneo de um arco durante toda a temporada, a maioria dos oito episódios têm histórias com início, meio e fim, proporcionando uma experiência mais tradicional, muito comum em produções do passado.

A área técnica é bem competente na maior parte do tempo contando com a música de Tony Morales (também de "Reacher"), a cinematografia de Colin Hoult (da recente antologia "O Gabinete de  Curiosidades de Guillermo Del Toro"), Michael McMurray (de "Shadowhunters") e Craig Wrobleski (de "Umbrella Academy"), além da edição de  J.J. GeigerAnthony MillerEric Seaburn (também oriundos de "Reacher") e Sang Han (de "Elementary"). A ressalva fica por conta dos efeitos visuais da equipe encabeçada por Fawn Fletcher (da série "A Diplomata") que, em vários momentos, deixa a desejar justamente em cenas de ação, nas quais o chroma key parece ter a qualidade de um episódio de "Chapolin". Entretanto, não chega a estragar a experiência, mas afasta a obra da excelência que poderia alcançar.

No fim das contas, "Fubar" é diversão garantida para os apreciadores de tramas de ação. Tanto os mais tradicionais quanto os neófitos, uma vez que traz na figura do Luke de Schwarzenegger o típico herói de ação dos clássicos filmes e na Emma de Barbaro uma forte figura feminina sem parecer um "brutamontes de saia" (muito comum no passado), mais afinada com a audiência mais jovem. Ainda tem a vantagem de ter tempo e espaço para o desenvolvimento e aprofundamento de tramas e personagens que geralmente passam despercebidos nos longas-metragens. Certamente, ao contrário dos personagens, o público não vai se ferrar de verde e amarelo.


Antonio Carlos Lemos também tem que se desdobrar em dividir seu tempo em seu trabalho e assistindo a filmes e séries para poder bater ponto como crítico.

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