Muito aguardado desde o seu anúncio com o sucesso do primeiro filme, Resgate 2 estreia com toda a pompa e circunstância, prometendo mais uma aventura eletrizante estrelada por Chris Hemsworth (o eterno Thor dos filmes da Marvel).


Reflorescer
Anthony e Joe Russo (da recente série "Citadel") retornam com a continuação do filme que foi uma das maiores sensações de 2020 na plataforma paga de streaming Netfilx. Novamente atuando como produtores (e Joe também atuando como roteirista), tendo, mais uma vez, Sam Hargrave (da série "O Mandaloriano") na direção para esta nova aventura - livremente baseada na graphic novel “Ciudad”, do autor Ande Parks (de "Capote in Kansas").

Na trama, depois de nove meses numa cama de hospital vivendo com ajuda de aparelhos, Tyler Rake (Hemsworth) desperta pensando em nunca mais se envolver em uma missão mortal de resgate como a última. Mas em meio a sua tranquila aposentadoria, um misterioso homem o convoca para mais uma missão, na qual terá que resgatar uma família que parece ter uma forte ligação com o seu passado.

Embora com um ritmo mais empolgante e eletrizante que seu antecessor, a trama deste volume abre espaço para um maior aprofundamento no passado do protagonista. Também estrutura a narrativa de um modo em que não é imperativo que se tenha assistido ao primeiro filme, mas sem descuidar de ambientar o espectador aos acontecimentos anteriores. Algo muito semelhante ao recurso empregado nas séries atuais, com um trecho de “anteriormente” no início do episódio para que o público possa compreender as conexões necessárias ao entendimento da trama em questão.

Há também momentos em que flashbacks são devidamente empregados para a compreensão das motivações tanto do protagonista quanto do antagonista. O que serve de resgate (sem trocadilhos) ao quase esquecido embate ideológico do bem contra o mal. Além disso, as sequências de ação são muito bem dosadas e entrecortadas por momentos mais dramáticos para o bom desenrolar da trama.

Depois de uma abertura dramática, preparando a audiência para a história que se anuncia, a narrativa mergulha numa espiral de ação de tirar o fôlego, que prende a atenção do público proporcionando uma imersão inebriante. Então, uma nova sequência dramática prepara terreno para mais ação e, finalmente, o ciclo é aplicado mais uma vez ao ato final.

O roteiro de Joe Russo é muito bem desenvolvido pela condução competente de Hargrave, resultando numa trama bem enxuta e honesta, dispensando falsas aspirações a uma obra de maior profundidade intelectual, mesmo que parte do drama de alguns personagens acabe dando a impressão de servir como paralelo para a atual tensão política e militar no leste europeu. Ainda assim, reserva diversos momentos surpreendentes e muito bem articulados, com cenas repletas de referências, tanto às realizações dos produtores e do protagonista no Universo Cinematográfico Marvel, quanto a clássicos de ação como "Rambo II: A Missão" e a outras franquias (como “Star Wars”, por exemplo).

Novamente, a parte técnica se mostra fundamental na composição da obra. A edição de William Hoy (de "The Batman") e Alex Rodríguez (do recente "Slayers") dialoga muito bem com os efeitos especiais coordenados por Lucie Dolezalova (de "Nada de Novo no Front") e Timothy Giessauf (de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis"), além dos efeitos visuais da equipe de Mickael Bec (de "Uncharted - Fora do Mapa") para um resultado impressionante, principalmente na tomada de plano-sequência, um recurso que, nos últimos anos, tornou-se uma vedete entre vários apreciadores da sétima arte.

Obviamente, para um melhor engajamento do espectador numa trama de ação é fundamental o trabalho da equipe de maquiagem de Matteo Silvi (de "Thor - Amor e Trovão"), bem como a cinematografia de Greg Baldi (de "Agente Oculto"), dando o aspecto necessário de realismo. Sem deixar de mencionar a trilha sonora original envolvente da dupla Alex Belcher (da série "Citadel") e Henry Jackman (de "Mundo Estranho") dando o tom exato para o acompanhamento da narrativa.

O elenco composto por Golshifteh Farahani (da recente animação "O Dragão do Meu Pai"), Adam Bessa (de "Harka"), Tinatin Dalakishvili (de "Abigail e a Cidade Proibida") e Andro Japaridze (estreante em grandes produções) também desempenha bem seu papel - com exceção de Tornike Gogrichiani (de "Redenção - Lutando pela Fé"), que, na maior parte do tempo, parece estereotipado e apático, talvez na tentativa de sua interpretação faça o vilão parecer frio e insensível.

Mas há pequenos inconvenientes que distanciam a obra da perfeição... Algumas facilitações do roteiro são questionáveis justamente pelo fato de poderem causar inquietação ao espectador, mesmo não sendo exatamente empecilhos para a apreciação da trama. Além disso, para os que esperam maior profundidade, talvez os personagens secundários pareçam não estar bem desenvolvidos o bastante para gerar empatia no público.

Com certeza, “Resgate 2” é um prato cheio para fãs de filmes de ação, gerando potencial para que a franquia figure no rol dos clássicos do subgênero. Prova disso é a estratégia certeira da plataforma que, ao lançar a continuação, alavanque a audiência do primeiro filme, mantendo ambos nos primeiros lugares no fim de semana de estreia. Além disso, o final traz uma surpresa muito agradável e a promessa de mais missões para Rake, levantando inclusive a hipótese de um possível crossover com outra franquia. Agora, é aguardar mais um pouco até o próximo resgate.

Antonio Carlos Lemos não é russo, mas às vezes também gosta de contar boas histórias repletas de referência friamente calculadas e também tem um irmão chamado Zé.

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