Em comemoração aos 90 anos de sua primeira aparição nas telas de cinema, King Kong recebe de presente uma nova série animada chamada “A Ilha da Caveira”, que apresenta uma aventura ambientada em meio aos perigos e mistérios do habitat do célebre gorila gigante.

Arenque grego
Ao longo de seus oito capítulos, esta produção é repleta de diálogos que não ajudam a contar a história, ataques de criaturas que deveriam ser ameaçadoras - mas não são - e com personagens vagando pelo lugar (que deveria ser extremamente perigoso) convenientemente seguros até que o roteiro decida criar alguma ameaça. Chega ao ponto de o espectador se perguntar como alguns dos seres da ilha podem sobreviver, dada e sua enorme incompetência em capturar presas. Alguns dos supostos enigmas acabam sendo facilmente dedutíveis graças à demora na condução da narrativa. Ou seja, o público é vencido pelo cansaço e consegue facilmente adivinhar o mistério depois de horas de enrolação...

Na trama, uma expedição em busca de provas da existência de criaturas marítimas extraordinárias é violentamente atacada, indo parar na misteriosa Ilha da Caveira. Em meio a seus próprios problemas, os sobreviventes da tripulação do barco “Era uma Vez no Mar” se envolvem com uma enigmática jovem em fuga, enquanto também precisam lidar com os perseguidores dela.

A premissa da trama da animação é interessante, porém é possível adiantar que bastaria assistir ao primeiro e aos dois últimos episódios para se ter a compreensão necessária do que é efetivamente entregue pela narrativa. Com pretensões a uma história densa em mistérios quase insondáveis, com personagens cujos passados são igualmente misteriosos e valendo-se da grife King Kong, o que realmente é visto são episódios que não agregam informação relevante à história, numa tentativa vã de construir um suspense que culminaria em um clímax revelador.

É terrivelmente impressionante notar que Brian Duffield (criador e roteirista da série e responsável também pelo bem sucedido longa "Amor e Monstros") não consegue criar suspense, pois não são deixadas pistas para que a audiência tente montar o quebra-cabeças e desvende os mistérios da trama - algo que acontecia de forma organicamente simples ainda na primeira versão de "Scooby-Doo".

Não fosse pela violência gráfica, pareceria uma história infantil. O que ainda assim seria questionável, uma vez que outras franquias cinematográficas como "Jurassic World" e "Velozes e Furiosos" conseguiram realizar seus respectivos derivados animados com qualidade satisfatória para o público mirim. Além disso, as várias tentativas de momentos de humor falham miseravelmente, principalmente por serem inapropriadas.

A direção de Willis Bulliner (do "anime" "Seis Mãos"),  Daniel Araya, Amanda Sitareh B., Julie Olson  (estes três últimos de "Castlevania") e a edição de Justin Howe (do recente curta "Miles to Go") não fazem muita diferença, talvez tendo um trabalho melhor se a produção fosse um longa em vez de uma série.

As poucas qualidades não são o bastante para salvar a atração. Tanto o visual - que lembra sucessos como "Avatar" ou "As Aventuras de Jackie Chan" - quanto diversas referências a acontecimentos em outras produções da franquia são muito agradáveis. Porém, a carência de uma trama mais atraente (e melhor desenvolvida) faz com que a experiência quase pareça com o método de reeducação aplicado no clássico "Laranja Mecânica"...

Mesmo a presença de Kong é bem frustrante para os fãs do régio primata gigante - que tem pouquíssimo tempo de tela, sendo praticamente uma participação especial. Para piorar, muitos questionamentos levantados ao longo da obra ficam sem qualquer resolução, mostrando a pretensão de seguir com a história em uma nova temporada - que pode deixar o espectador bem furioso, como se tivesse sido enganado por vigaristas num típico golpe de rua.

E o investimento na produção não foi pequeno... Além da qualidade gráfica, o elenco de vozes originais é composto por figuras de peso como Benjamin Bratt (da recente série "Poker Face"), Darren Barnet (da série "Eu Nunca..."), Betty Gilpin (de "A Guerra do Amanhã"), John DiMaggio (do recente "Transformers: O Despertar das Feras"), Phil LaMarr (de "Star Wars: The Bad Batch"), Mae Whitman (da série animada "A Casa Coruja") e Nicolas Cantu (de "The Walking Dead: Um Novo Universo").

Já a versão brasileira traz Cadu Paschoal (o Miles Morales de "Homem-Aranha no Aranhaverso"), Pablo Argôllo (dublador de Owen em "Sex Education"), Mauro Horta (dublador de Chris Hemsworth), Jeane Marie (a voz da Pérola da Diamante Amarelo em "Steve Universo: O Filme") e Daniel Müller (o Archie de "Riverdale").

No fim das contas, "A Ilha da Caveira" pode ser uma perda de tempo para quem estiver procurando um bom passa tempo. Vale mais a pena revisitar (ou conhecer) outras produções da franquia, o que pode ser interessante para o público, mas bem prejudicial à plataforma paga de streaming Netflix, que já vem sofrendo à sombra das questões envolvendo as políticas de assinatura. Para quem procura diversão, assistir à animação pode ser tão arriscado quanto se embrenhar na própria ilha.


Antonio Carlos Lemos ficou uma verdadeira fera depois de passar horas assistindo à animação.

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