Concebido e dirigido por Zack Snyder, estrelado por Sofia Boutella, Djimon Hounsou, Ed Skrein, Michiel Huisman, Doona Bae, Ray Fisher, Charlie Hunnam, Staz Nair, Anthony Hopkins - como a voz do robô 'Jimmy' -, dentre outros, "Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo" é uma alegoria belicista em tempos de polarização ideológica - independente disso ser algo bom ou ruim...


Museu de velhas novidades
Depois de grande pompa e massiva divulgação (inclusive tendo sido exibido mundialmente primeiro no Brasil), eis que o novo trabalho de Zack Snyder chega a seus súditos mais leais - e também à uma verdadeira turba de detratores. A saga "Rebel Moon" é, provavelmente, o projeto mais ambicioso do diretor, com ares de super produção que todo blockbuster deveria ter. E, por isso mesmo, deveria ter havido mais "carinho" com a execução deste curioso exemplar de aventura escapista...

Na trama, quando uma pacífica colônia na lua de uma galáxia muito, muito distante se vê ameaçada por uma colossal e tirana força militar, a misteriosa Kora passa a ser a única esperança de sobrevivência daquele povo. Com a missão de encontrar guerreiros para enfrentar o inimigo, Kora reúne um pequeno bando de insurgentes, deslocados, camponeses e órfãos de guerra de vários mundos, que tem dois objetivos em comum: redenção e vingança. Enquanto a sombra do poderio militar avança sobre a lua mais improvável de todas, começa a batalha pelo destino daquela galáxia, que depende deste novo exército de heróis. 


Este filme é um enorme esforço em agradar. Mas, a quem, afinal? Com um ritmo claudicante, ora lento e sem pressa, ora celerado e urgente, dificilmente alcançará o público jovem. E, mesmo quem curte as peripécias narrativas de "SnyDeus", pode se cansar com a chuva de referências... Essa primeira parte oferece homéricas cenas de ação, figurino e cenários elaborados, elenco numérico e multi-étnico para não afastar a patrulha de plantão... Então, o que diabos deu errado, afinal? Como diria o jargão de um antigo programa educativo televisivo, "vamos pensar um pouco"...

Fazendo uma analogia rasa e esdrúxula apenas para efeitos de simples comparação (e que pode até parecer blasfêmia do ponto de vista de qualquer cinéfilo), o processo de criação de Snyder tem muito a ver com o de Tarantino (dadas as devidas proporções, óbvio) pois ambos sempre pensam em grandes cenas, frases de efeito e aquele senso de que qualquer coisa pode, de fato, ocorrer em suas histórias - claro que cada um com suas características especiais. Porém, o que mais aproxima esses dois realizadores é que ambos entregam obras melhores quando tiveram críticas desfavoráveis em seus trabalhos anteriores... Eles não lidam bem com elogios pois isso é prejudicial a seus processos de criação. Estar na (tão em voga) zona de conforto deixa-os "preguiçosos" do ponto de vista criativo...


Os créditos de roteiro de "Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo" são divididos entre Kurt Johnstad, Shay Hatten e o próprio Snyder, baseado numa ideia que ele deixou arquivada há anos - geralmente, isso não dá muito certo com frequência. Aparentemente, com total liberdade para fazer "um Star Wars que não é bem lá um Star Wars", o que vemos é uma custosa colcha de retalhos de alguma marca de renome, que pode até ser bem bonita e vistosa, mas ainda assim é um produto que dava para se pagar um preço bem menor do que o que está exposto na vitrine.

O primeiro capítulo da saga "Rebel Moon" destila diversas referências - e reverências - à cultura viking e também da revolução bolchevique mas, curiosamente, bem pouco de "Star Wars" - exceto pelo "tropo" principal. A audiência encontrará ecos de cultuadas sagas cinematográficas como "Harry Potter", "Avatar", "Matrix", "Blade Runner"... Mas também de sagas de quadrinhos como "A Casta dos Metabarões", além de algumas citações visuais a animes como "Yamato" (ou "Patrulha Estelar"), "Ghost in the Shell" e até, surpreendentemente, ao gênero hentai - dentre muitas outras influências que pululam aqui e ali - pululam, não... Poluem. O filme aponta tanto para os lados que fica difícil não perceber que há bem pouca - ou quase nenhuma - originalidade ali. Quando se aponta para diversos lugares, o que sobra de original e criativo?


A trama de "Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo" é derivativa em demasia e, por muitas vezes, apresenta-se genérica e sem imaginação. Para se reciclar ideias, é necessário algum talento para revisitar todas as referências de um "novo" ponto de vista, apresentando uma abordagem relativamente inédita sobre o objeto estudado. Este filme não apresenta nada disso e nem mesmo seu equivocado contexto sócio-político convence por sua ingênua e maniqueísta amostragem. Isso sem falar de diversos diálogos sem a menor imaginação, como, por exemplo, alguém terminando uma frase dizendo "e disse isso tudo somente para responder sua pergunta sobre meu passado". Como alguém aprovou essa frase como a melhor opção de finalização de um diálogo...?! Ninguém tá exigindo nada profundo ao nível do que o "velho bardo" publicou mas burilar um pouquinho que seja não faria mal...

Já disseram, num remoto passado, que Snyder, por conta de sua inabilidade em extrair emoções de seu elenco, cerca-se de veteranos nomes da indústria afim de, por si só, ~"alcancem" o que está tentando dizer em sua lavra. Mal comparando, é como na feitura de quadrinhos, quando o arte-finalista "completa" a nanquim o desenho a lápis do famoso desenhista. Mas quem leva todo o crédito é somente quem tem fama, não quem fez o obscuro "trabalho corretivo" - que já trabalhou com quadrinhos, sabe.


Porém, se em outros filmes, Snyder tinha nomes de peso ou mesmo um elenco menos laureado mas que ~"captou a mensagem" do guru, na saga "Rebel Moon" é uma profusão de profissionais que sequer se esforçam para trazer dignidade a seus papeis. Começando por Sofia Boutella, (que, sim, fez a maioria das cenas de ação) bastante limitada - ainda que sua personagem não lhe entregue muito com o que trabalhar, há alguma coisa ali para desenvolver. Porém, falta-lhe o carisma necessário para que a audiência torça por ela e embarque em sua jornada. E o que dizer do ~"vilão" - ou ~"sub-vilão" - interpretado por Ed Skrein?! "Loucura... É a única palavra para descrever".

E aí, voltamos ao problema da direção: quando a personagem não está muito clara à atriz e ela não tem material emocional decente com que se expressar, resta ao diretor "guiar" e mostra-lhe sua "visão". E fica bem claro que Snyder não fez seu trabalho da forma mais adequada aqui. E quando o elenco ~"não acredita", isso fica claramente estampado no produto. É muito difícil de defender essas escolhas equivocadas... A principal pergunta é: por quê?!


(o restante do elenco chega a dar alguma vergonha alheia, com simulacros de alhures, um bando de interpretações que poderiam até funcionar se alguém ali estivesse suficiente investido, reverberando nos colegas - prestem atenção na interpretação de Charlie Hunnam, que está ali somente para pagar o aluguel... Sorte do vencedor do Oscar Sir Anthony Hopkins, que foi responsável apenas pela voz do robô Jimmy, a coisa realmente mais interessante na trama)

Quanto aos aspectos técnicos, não há o que reclamar. Design de produção elaborado (comandado por Stefan DechantStephen Swain), figurino interessante (projetado por Stephanie Portnoy Porter), maquiagem e penteado idem (com diversos nomes responsáveis), trilha sonora incidental decente (cortesia de Tom Holkenborg, velho colaborador do cineasta). E, claro, direção de fotografia do próprio Zack Snyder - com composições criativas, ângulos de cena instigantes e buscando imagens belas, além de bom uso de iluminação para composição...


Mas falta algo. Por mais que se assista esse filme de coração (e mente) aberto, é uma experiência singular e um tanto incompleta - mesmo com a promessa de uma vindoura segunda parte dessa epopéia. Outra pergunta é: precisava?

Sabe quando, no primeiro "Avatar", tem uma cena na qual claramente parece o fim do filme, com direito até a tela escurecendo, mas, por algum motivo, o filme continua? A sensação é exatamente essa ao fim da exibição da primeira parte de "Rebel Moon". Se vai ser um sucesso de público - o único êxito que de fato interessa -, só o tempo vai dizer. Para o bem ou para o mal, Zack Snyder fez de novo um filme "velho" em sua concepção. Mas, para agradar a quem? Vai saber. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos...




Kal J. Moon nunca estudou na escola Elite, nem usou colete com gravatinha mas sempre foi rebelde... (tu-dum-pish!)

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