Quando a primeira temporada de A Casa do Dragão foi lançada, muitos se perguntaram se o mundo de Westeros ainda tinha lenha para queimar. Mas, infelizmente, e em parte, os novo episódios não cumpriram as expectativas deste crítico que vos escreve. Se a primeira temporada foi um sopro de ar fresco para os fãs de Westeros, após a desastrosa temporada final da série principal, Game of Thrones, a segunda se revelou uma neblina densa que sufoca a narrativa, desperdiçando o potencial construído anteriormente.
A narrativa não logrou êxito em equilibrar as principais características da franquia, que são as intrigas políticas e as batalhas épicas.
O problema começa com a trama, que parece ter se perdido em suas próprias intrigas. Ao invés de evoluir as histórias dos personagens centrais, os roteiristas optaram por uma abordagem arrastada e repetitiva. A sensação de déjà vu é constante, com cenas de conspirações e traições que não agregam em nada à trama principal, mas apenas a prolongam de maneira artificial. A promessa de um conflito épico se transforma em uma série de eventos previsíveis e sem impacto, onde o drama político perde seu peso e se torna enfadonho.
Se na primeira temporada o foco era a construção das tensões que culminariam na inevitável guerra civil, agora assistimos uma prolongada montagem de peças no tabuleiro, com uma pequena amostra de movimentação, ocorrida no meio da trama, mas que não culminaria em nenhuma batalha importante no encerramento. Deprimente.
Porém, o desenvolvimento dos personagens não deixa a desejar. Apesar de figuras que antes eram fascinantes e complexas agora possam parecer caricaturas de si mesmas, presas em ciclos de decisões irracionais e motivações superficiais, isso não ocorre com todas as peças que estão se movimentando no tabuleiro do "jogo". Algumas delas tiveram conflitos internos aprofundados e não foram diminuídas pelos constantes, e inconvenientes, diálogos expositivos em cenas mal construídas, que poderiam acabar por diluir qualquer empatia que o espectador pudesse ter por eles. Comentarei abaixo, apenas, sobre os atores que, acredito, tenham se destacado.
Emma D'Arcy (acima), por exemplo. Mais uma vez, a atriz brilha intensamente como Rhaenyra Targaryen. A maturidade e a profundidade emocional que D'Arcy traz para a personagem são notáveis. Nesta temporada, Rhaenyra enfrenta desafios ainda maiores, e D'Arcy consegue transmitir com maestria o peso das responsabilidades que recaem sobre sua personagem. A evolução de Rhaenyra, de uma jovem idealista para uma líder complexa e dividida, é expressa com uma sutileza que poucas atrizes conseguem alcançar. As cenas de confrontos verbais e os momentos de introspecção revelam a habilidade de D'Arcy em explorar as nuances da personagem.
Já Matt Smith, ator britânico que já incarnou o incrível Doctor Who, continua a entregar uma performance fascinante como Daemon Targaryen, um personagem que navega entre o carismático e o sombrio com uma facilidade impressionante. Nesta temporada, Smith se aprofunda na dualidade de Daemon, explorando suas ambições, sua lealdade e, por vezes, sua natureza brutal. A química entre Smith e D'Arcy, em seu encontro derradeiro na temporada, é um dos pontos altos da série, criando momentos de tensão e cumplicidade que prendem o espectador.
Como Alicent Hightower, Olivia Cooke oferece uma interpretação poderosa. A transição de Alicent de uma mulher controlada e submissa para uma figura de poder, manipuladora e determinada, é feita de forma convincente por Cooke. Sua atuação traz uma complexidade moral para a personagem, evitando que ela seja vista apenas como uma antagonista (por mim). Cooke trabalha bem com as camadas de dor, ressentimento e determinação que Alicent carrega, entregando uma performance que é ao mesmo tempo trágica e imponente.
Embora Viserys I tenha um papel menor nesta temporada, Paddy Considine continua a impressionar com sua interpretação do falecido rei. Considine traz uma sensibilidade e vulnerabilidade ao personagem, que luta para manter a paz em um reino à beira da guerra, apesar de estar morto e sem condições reais de interferir nos eventos vindouros. Sua interação com Daemon é carregada de uma tristeza contida, refletindo o peso de suas decisões. A performance de Considine é um lembrete constante de que, em Westeros, até os reis são vulneráveis às forças que eles próprios desencadeiam.
Eve Best retorna à pele de Rhaenys Targaryen na segunda temporada de "A Casa do Dragão" com uma presença que só pode ser descrita como majestosa (apesar dela ser a Rainha que nunca foi...). Desde sua primeira aparição, fica claro que Best domina completamente sua personagem, capturando a essência de uma mulher que, mesmo em um mundo dominado por homens, nunca perde sua força e dignidade.
No geral, Eve Best entrega uma performance memorável na segunda temporada de "A Casa do Dragão". Sua interpretação de Rhaenys Targaryen é poderosa, carregada de nuances e profundamente humana. É um prazer assistir a uma atriz de seu calibre trazer à vida uma personagem tão rica e complexa. Sem dúvida, Rhaenys Targaryen é um dos pontos altos da temporada, e grande parte desse mérito se deve à sua atuação impecável e do texto, que foi bastante generoso com a personagem.
No vasto e intrincado universo de Westeros, onde os personagens são esculpidos com camadas de complexidade e intrigas, surge uma nova adição que não só se destaca, mas também acrescenta uma dose de imprevisibilidade e emoção à trama. Estou falando da surpreendente atuação de Gayle Rankin como Ally Rivers, a bastarda que desafiou as convenções e se infiltrou nos bastidores do poder em "A Casa do Dragão".
Rankin entrega uma performance que é, ao mesmo tempo, crua e sofisticada. Sua Ally Rivers é uma personagem de origem humilde, mas que carrega consigo uma presença e uma ferocidade dignas de qualquer nobre da série. Ela mergulha de cabeça em seu papel, trazendo à tona as nuances de uma mulher que, apesar de sua condição, não se curva aos poderosos, mas sim os manipula com uma astúcia digna dos maiores jogadores de Westeros.
Os demais atores que já tinham atuado na primeira temporada apresentam trabalho similar, ou não-notável, daquele que já tínhamos testemunhado na primeira temporada. As novidades do elenco não impressionaram, como, por exemplo, Freddie Fox que interpretou Ser Gwayne Hightower. Serviu como coadjuvante para Fabien Frankel (Ser Criston Cole), em uma das melhores cenas da temporada, mas nada além disso.
Visualmente, a série continua impressionante, mas a beleza das paisagens e dos efeitos especiais não consegue esconder, conforme as semanas iam passando, e os episódios sendo disponibilizados na Max, a falta de substância do roteiro. A única batalha relevante (e as cenas de batalha deveriam ser o ponto alto da temporada) foi confusa e mal coreografada, com uma direção que falha em transmitir a grandiosidade do evento. O excesso de CGI em momentos chave também compromete a imersão, tornando tudo artificial e desprovido de tensão.
Em suma, a segunda temporada de "A Casa do Dragão" é uma decepção. O que poderia ter sido uma continuação épica de uma história rica em potencial se transforma em uma narrativa cansativa e sem alma. Para uma série que prometia trazer de volta a glória dos melhores momentos de "Game of Thrones", em seus áureos tempos, o resultado final é, no mínimo, frustrante. Se a terceira temporada não corrigir os rumos, Westeros pode se tornar um reino de promessas vazias.
Marlo George assistiu, escreveu e continua acreditando que tudo dará certo...
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