Mirando no hype de distopias, como Jogos Vorazes, Insurgente e Os Instrumentos Mortais, e acertando em paródias do tipo Todo Mundo em Pânico e Deu a Louca em Hollywood, Feios, nova atração da Netflix, é uma tentativa frustrada de capitalizar o sucesso de distopias juvenis, resultando em uma comédia involuntária que se leva a sério demais para o seu próprio bem.
Irei pegar emprestada a sinopse que foi publicada na matéria de divulgação do trailer desse filme abaixo da média aqui no Poltrona POP, porque ela resume bem: "Na trama - baseada no livro homônimo de Scott Westerfeld -, num universo distópico, jovens, ao completarem 16 anos, passam por um procedimento estético obrigatório para se enquadrarem nos padrões estéticos da sociedade, até que Tally decide ir contra esse sistema e se juntar aos... Feios."
A premissa de 'Feios' é promissora, mas o filme não consegue entregá-la. A trama se perde em um único aspecto: a obsessão por beleza. Diálogos pobres e personagens estereotipados tornam a história rasa e previsível. A crítica social potencial, sobre a futilidade da beleza, é desperdiçada. O roteiro, baseado em um livro de sucesso, demonstra preguiça em explorar a fundo um universo rico e complexo.
Se há algum fiapo de crítica social nesta distopia, tema obrigatório do gênero, a encontrei, pasmem, na escalação de elenco. Todos os ditos "bonitos" são extremamente feios e não-maturais, efeito da tal cirurgia de embelezamento, enquanto os chamados "feios" são belos, por serem pessoas normais, sem alterações estéticas agressivas. Porém, o que poderia ser um cutucão nas indústrias dos procedimentos estéticos e de cirurgia plástica, acaba não sendo discutido no texto, não transbordando da escolha dos atores, ou de sua caracterização, para as linhas do roteiro. Um erro "feio".
Pretensiosos, os roteiristas Jacob Forman, Vanessa Taylor e Whit Anderson, ainda se permitiram deixar pontas soltas, que podem servir para justificar futuros filmes que expandirão o universo dos "bonitos". A obra original conta com três livros e uma série spinoff.
O elenco também não "mandou bem" em 'Feios'. Joey King, apesar de carismática em outros trabalhos, como O Ato, minissérie televisiva de 2019, não consegue transmitir a complexidade emocional de Tally. Sua interpretação se limita a uma adolescente ansiosa pela cirurgia, sem profundidade ou nuances. A transição de Tally de uma garota conformista para uma rebelde não é convincente, e a atriz não consegue transmitir a força e a determinação necessárias para liderar a rebelião.
A amiga rebelde de Tally, Shay, é interpretada por Brianne Tju, que apresenta uma atuação unidimensional. A personagem é estereotipada como a amiga "badass" e não evolui ao longo do filme. A atriz não consegue transmitir a força interior de Shay e a complexidade de suas motivações.
Keith Powers, no papel de David, o interesse amoroso de Tally, entrega uma performance bastante genérica. Sua atuação é previsível e não acrescenta nada de novo à história. A química entre ele e Joey King é pouco desenvolvida, o que prejudica a credibilidade do romance.
As atuações em "Feios" são, em geral, decepcionantes. Os atores, com a "ajuda" do roteiro atrapalhado, não conseguem transmitir complexidade às personagens, resultando em interpretações superficiais e estereotipadas. Tudo, neste quesito, contribui para a sensação de que "Feios" é uma produção genérica e previsível.
Os efeitos de CGI parecem ter sido feitos por alunos recém-formados de um curso técnico de processamento de dados dos anos 90, visto que são datados e dignos de produções como Mortal Kombat: A Aniquilação, de 1997. A fotografia, por Xiaolong Liu (Sonhos Perigosos), não é inspirada e os figurinos são genéricos.
A maquiagem, que transforma pessoas já belas, em suas próprias versões "harmonizadas", é um caso à parte. O trabalho é ineficiente porque não há crítica explícita aos procedimentos estéticos em si, e por isso, embelezar atores já belos não faz sentido. Caso a escalação dos "feios", feita por Rich Delia (Clube de Compras Dallas), tivesse uma trupe, de fato, feia, faria sentido, mas não é o que ocorre.
Edward Shearmur compôs a trilha sonora, mas o trabalho não surpreende. Tratando-se de uma obra de ficção científica, os temas, especialmente os dedicados aos personagens, são muito importantes. Chato, porque eu gosto do trabalho de Sheamur, especialmente em Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, de 2004.
O filme é dirigido por McG, diretor de filmes como Panteras (2000), Panteras: Detonando (2003) e O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009). É um profissional experiente, com muitos créditos e tudo mais, porém não conseguiu entregar um bom filme. Em parte, o grande desafio que ele teve foi o roteiro ruim e falta de coragem da produção em tocar nos assuntos mais espinhosos para proporcionar um produto mais bem acabado e com objetivos mais claros.
Feios é mais um filme ruim lançado em 2024. E veja bem, nós já tivemos excrecências como Madame Teia e Donzela. Passe longe.
Marlo George assistiu, escreveu e é lindo
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