"Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro (...) Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira", diz os trechos iniciais do conto "O Espelho", de Machado de Assis (1839-1908).
O que o texto estudado à exaustão por alunos que prestarão vestibular é a explicação mais básica da psicologia sobre id, ego e superego, sobre o que cada ser humano representa para seus similares, o que ele se torna por conta da convivência e o que ele realmente é, de fato, quando ninguém está olhando. A partir desse estudo de caráter, o filme "A Verdadeira Dor" traz algumas amostras do resultado do que acontece do encontro entre a culpa judaica e depressão misturada com bipolaridade.
Chamar o roteiro escrito pelo próprio Jesse Eisenberg (vencedor do prêmio de roteiro do Sundance Film Festival) - que também dirige e coestrela - de "dramédia" seria pura preguiça, uma vez que a trama flerta com o "road movie" e um "coming of age" mais existencialista, lidando com assuntos pesados como depressão e até mesmo a possibilidade de atentar contra a própria vida por parte de um dos personagens. O problema é que o roteiro se perde num desnecessário palavrório que vai de nada a alhures, porém não um lugar que, como audiência, queira-se realmente estar ou assistir. É como presenciar uma discussão na casa de amigos e ficar sem jeito de pedir para ir embora dali.
Kieran Culkin - ganhador do prêmio Golden Globes de Melhor Ator Coadjuvante (mesmo sendo, de fato, o real protagonista) e indicado ao Oscar de Melhor Coadjuvante - faz o personagem sarcástico, irônico e irritante que ele faz na maioria dos filmes e séries que participa (assista a série "Sucession", se acha essa declaração um exagero). Mas, independente disso, tem alguma verdade em sua performance - mesmo que seu personagem nem mesmo evolua com o passar de sua jornada, sem nada realmente interessante ocorrendo com ele.
O restante do elenco está meramente operante, sem maiores arroubos de performance, tendo oportunidade apenas de reagir ao que veem e aprendem durante a viagem - Jennifer Grey (sim, de "Dirty Dancing - Ritmo Quente" e "Curtindo a Vida Adoidado") que tem ascendência judia, se emocionou bastante em algumas locações como o museu em Majdanek (um centro educacional fundado em 1944 e que, anteriormente, foi um campo de concentração nazista), que teve de ser contida por Eisenberg, uma vez que ela não estava conseguindo se conter...
Não precisa ser da religião judaica para entender que o que foi feito com judeus por todos os oficiais da SS foi algo deplorável. Assim também como não precisa ser muito inteligente para perceber que a reclamação dos personagens de "A Verdadeira Dor" parece mais algo ensinado por ancestrais e que, na verdade, reside mais na palavra, sem muita importância, com alguma comédia (bem tímida e raquítica) mas facilmente esquecível - assim como esse filme. Assista e tire suas próprias conclusões.
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