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CRÍTICA [CINEMA] | "Último Alvo", por Marlo George

A memória da infância ecoa no discurso inicial de "Último Alvo", onde Thug, personagem de Liam Neeson, compartilha uma experiência comum: a pressão paterna pela revanche, após a derrota em uma briga de rua com outros garotos. Para não "levar desaforo pra casa". Essa identificação imediata, para aqueles que carregam histórias semelhantes, cria uma expectativa de um herói estereotipado, forjado na testosterona e na violência urbana. No entanto, o filme surpreende ao transcender o gênero de ação, mergulhando em temas profundos e relevantes. Aquele que parecia invencível, moldado nas ruas implacáveis da Costa Oeste americana, é confrontado com a fragilidade humana, após a descoberta de um inimigo inesperado e implacável.

Escrito por Tony Gayton (Cálculo Mortal), equilibra ação e emoção ao retratar um ex-boxeador e gangster em busca de redenção, confrontando uma doença degenerativa. A trama convida à reflexão sobre a fragilidade humana, explorando a jornada interna do protagonista em meio à confusão mental. A importância social da obra é inegável, convidando o público a refletir sobre a realidade de milhões que enfrentam doenças degenerativas. "Último Alvo" ressalta a necessidade de empatia e compaixão, mesmo quando o indivíduo doente teve um passado problemático. A única gafe do roteiro é um momento em que acontece uma "lacrada" (que "veio do nada", vale ressaltar), mas a inconveniência ganha, devidamente, o menosprezo de Thug.


Liam Neeson
entrega uma performance magistral em "Último Alvo". O ator, conhecido por seus papéis de ação, demonstra sua versatilidade ao interpretar um personagem complexo e vulnerável. Neeson transmite com maestria a angústia e a frustração de um homem que luta contra a perda de suas memórias, ao mesmo tempo em que busca redenção por seus erros passados. Sua atuação é um dos pontos altos do filme, elevando-o a um patamar superior, mesmo se tratando de uma produção barata para os padrões da indústria, tendo custado cerca de 30 milhões de dólares.

A atuação em "Último Alvo" é marcada pela proeminência de Neeson, que se destaca em meio a um elenco menos expressivo. Ron Perlman, apesar de ser um nome conhecido, tem uma participação breve e demonstra uma performance apática. Os demais atores não conseguem criar um impacto significativo, resultando em um filme onde a presença de Neeson se sobressai de forma notável.

A fotografia de "Último Alvo", sob a direção do norueguês Philip Remy Øgaard, eleva o filme com composições visuais que exploram a beleza e a melancolia da paisagem urbana. Øgaard usa cores frias e tons dessaturados, ressaltando o isolamento do protagonista. A paisagem urbana, com edifícios e ruas desertas, reflete o estado mental do protagonista. As cenas noturnas são magistralmente iluminadas, intensificando o mistério. A fotografia de Øgaard contribui para a narrativa, transmitindo emoções e subtextos, elevando a fotografia a um patamar de arte.

A trilha sonora de Kaspar Kaae transcende a mera função de acompanhamento, tecendo uma tapeçaria sonora que se funde à narrativa visual e aprofunda a experiência cinematográfica. Com melodias que refletem a jornada emocional do protagonista, Kaae cria uma atmosfera musical que ressoa com a sensação de perda, confusão e busca por redenção.

Quanto à edição de Dino Jonsäter ("O Espião Que Sabia Demais"), percebe-se uma abordagem excessivamente burocrática, onde a montagem das cenas segue um padrão previsível, carecendo de ousadia e experimentação. Acredito que um trabalho mais artístico, com tomadas mais inspiradas e transições menos convencionais, adicionaria uma camada de beleza e profundidade ao filme.

Hans Petter Moland demonstra um domínio preciso e eficaz na direção de "Último Alvo". Conhecido por "O Cidadão do Ano", Moland conduz a narrativa com segurança, criando uma atmosfera tensa e envolvente. Sua linguagem cinematográfica concisa e objetiva prioriza a clareza e a fluidez da história, alternando ação intensa com momentos contemplativos que exploram a complexidade emocional do protagonista. A câmera é utilizada de forma inteligente, ressaltando a expressividade dos atores e a beleza da fotografia, resultando em um filme coeso e impactante.

A direção de Moland também se destaca pela sensibilidade com que aborda as doenças degenerativas, utilizando a narrativa para refletir sobre a fragilidade humana. O diretor entrega um trabalho maduro e consistente, elevando "Último Alvo" a um patamar superior ao construir um filme que emociona e entretém o público.

"Último Alvo" se revela como um filme que, apesar de suas limitações orçamentárias e de elenco, consegue entregar uma experiência cinematográfica impactante. 


Marlo George assistiu, escreveu e sempre andou meio desligado...

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