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CRÍTICA [STREAMING] | "As Quatro Estações do Ano" (2025), por Kal J. Moon

Criada por Tina Fey, Lang Fisher e Tracey Wigfield, a série "As Quatro Estações do Ano" é uma dramédia que atualiza e traduz bem os anseios da geração X, principalmente no que se refere ao que significa um duradouro casamento nos confusos tempos modernos...


Educação sentimental
Quando o filme juvenil "Meninas Malvadas" foi lançado originalmente há mais de vinte anos, foi abraçado por público e crítica, sendo alçado ao posto de clássico instantâneo da cultura POP. Repleto de personagens que iam além dos estereótipos das comédias apresentadas à época - criando inesquecíveis momentos cômicos com personagens como Cady Heron, Janis Ian, Damian e, claro, Regina George (que, vale lembrar, não é parente do nosso Marlo George).

Mas o que a grande maioria das pessoas esquece é que "Meninas Malvadas" tratava de um tema seríssimo para o corpo docente da época: a prática de bullying por parte de jovens moças e toda a convivência tóxica no ambiente escolar - quem duvida, basta ter em mente que o filme foi livremente baseado nos textos do livro "Queen Bees and Wannabes", de autoria da educadora norte-americana Rosalind Wiseman, que trata, de forma acadêmica, desse problema da Terra do Tio Sam.

E o que isso tudo tem a ver com "As Quatro Estações do Ano"?! Ambas tem o dedo da roteirista e produtora Tina Fey - que também participa como atriz nas duas produções. Só que, ao contrário de "Meninas Malvadas", aqui o riso histérico e descompromissado dá lugar à reflexão: o amor existe de fato? Casais juntos há muito tempo se tornam mais amigos do que amantes? E esse conceito de "alma gêmea" é real ou falácia?


Na trama - livremente baseada no filme homônimo escrito, dirigido e estrelado por Alan Alda em 1981 (que acabou virando minissérie em 1984 - Alda aparece brevemente como um convidado de uma festa nos primeiros episódios) -, a amizade de décadas entre três casais é testada por um repentino divórcio de um dos casais, que acaba atrapalhando a tradição de viajarem juntos...

O roteiro dos oito episódios - escritos por Lang Fisher, Tracey Wigfield, Lisa Muse Bryant, Vali Chandrasekaran, Dylan Morgan, John Riggi, Josh Siegal, Matt Whitaker e da própria Fey - abrange o período de viagem de um grupo de seis amigos, que se conhecem há muito tempo, sem amarras sociais para falar umas verdades de vez em quando e todas as consequências quando se trata de seres humanos sob o constante estresse de esconder o que sentem não somente dos outros mas de seus companheiros.

Cada dupla de episódios se passa durante uma estação do ano. Iniciando na primavera (quando tudo está leve e, aparentemente, bem), passando pelo verão (quando um dos amigos já desistiu do casamento e investe numa relação com uma mulher mais nova - e como ele resolve adaptar sua vida em torno das preferências da nova companheira), chegando no outono (quando a filha de dois dos casais estão na universidade e é período de visita dos pais no campus) e encerrando no inverno (em plena comemoração de ano novo, quando um dos personagens morre e os amigos tem de lidar com o luto - e todos os problemas acerca de se despedir de um ente querido).


A trama explora bem diversos temas como traição, preocupação com a saúde, relações amorosas díspares, rotina sentimental e muito mais com diálogos muito bem burilados, além de atuações condizentes às idades (mentais) retratadas pelos personagens. É um profundo estudo de personagens - e é muito difícil não deixar sete seres imaginários um tanto superficiais ou até mesmo sem destaque por conta da quantidade de trabalho. Mas, talvez por conta da quantidade de episódios - e de roteiristas -, as situações foram bem arranjadas a ponto de a audiência realmente se importar com todas essas personas, que merecem simpatia, desprezo e, depois das resoluções, empatia.  

Todo mundo no elenco está bem, dinâmico e respondendo à altura como um time esportivo bem treinado. Mérito não somente do numeroso elenco mas também da direção de Shari Springer Berman, Lang Fisher, Robert Pulcini, Oz Rodriguez, Jeff Richmond e do próprio Colman Domingo - que dirige um dos episódios mais tocantes.


Na parte técnica, destaque para a trilha sonora original composta por Jeff Richmond (já acostumado a trabalhar com Tina Fey em projetos como o já citado filme "Meninas Malvadas" ou a série "30 Rock - Um Maluco na TV", dentre outros) - tomando como base os quatro concertos intitulados "As Quatro Estações" de autoria de Antonio Vivaldi (1678-1741) -, que praticamente emoldura cada episódio como um "quadro sonoro", caracterizando bem os humores (ou falta dos mesmos) de cada situação abordada.

E o que dizer da esperta direção de fotografia Tim Orr (do clássico "ABC do Amor" e da série recente "A Nova Vida de Toby")? As condições climáticas de cada "estação" provavelmente foram um desafio no quesito "desenho de luz" mas o que é apresentado é bem sublime e muito acima da média quando se trata de produções de streaming pois existem diversos condicionantes que, em mãos menos experientes, poderiam ser mal representados - além das belíssimas cenas de transições de cada local que os protagonistas viajaram, mostrando o melhor de cada região.


A série só tem um ponto fraco: a quantidade de episódios. Por mais que os temas abordados sejam pertinentes não somente às gerações veteranas como as novas, os acontecimentos relatados ficariam melhor se condensados em quatro episódios, enxugando alguns palavrórios desnecessários e situações que não agregam em nada à trama.

"As Quatro Estações do Ano" é gostosinho de assistir? É. Mas também é um pouco cansativo, principalmente para quem decidir por maratonar...  Trata-se de uma boa opção para quem sente saudades de bons textos em programas televisivos, que aliam bem tanto entretenimento quanto reflexão. 



Kal J. Moon odeia stand-up paddle, conhece um advogado chamado Marlo e certamente é um Kal.

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