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CRÍTICA [STREAMING] | "Rua do Medo - Rainha do Baile", por Marlo George

Novo filme da série "Rua do Medo" é um terror adolescente que despenca na originalidade e respeito à audiência

A Netflix nos apresenta (ou seria amaldiçoa?) o quarto filme da franquia "Rua do Medo", "Rua do Medo - Rainha do Baile", dirigido por Matt Palmer, com roteiro dele e de Donald McLeary. O filme, baseado na longeva série de livros do autor R.L. Stine, se arrasta com um elenco insosso e uma total falta de criatividade, mantendo a triste tradição da franquia, exclusiva da gigante dos streamings Netflix, de entregar ao público filmes muito ruins. Além disso, o longa não passa de uma cópia pobre, ensanguentada e descarada de "Meninas Malvadas", uma das mais bem sucedidas produções adolescentes dos anos 2000.

É impossível assistir a "Rainha do Baile" sem sentir um profundo déjà vu e uma indignação crescente. A trama de terror com um assassino misterioso é inerente ao gênero slasher, mas a razão do "plágio" em relação a "Meninas Malvadas" é puramente estética. O filme de Palmer busca replicar a atmosfera visual e o arquétipo dos personagens populares do clássico de 2004. As rivalidades entre as garotas que disputam o posto de rainha do baile, a hierarquia social explícita, a forma como os "grupos" são apresentados — tudo grita "Meninas Malvadas" em uma versão grotesca e malfeita, transpondo o drama colegial para o cenário de um slasher. Não há originalidade aqui; apenas uma tentativa preguiçosa de surfar na onda de um sucesso alheio, misturando o terror com clichês de ensino médio já saturados.


Vale lembrar que "Meninas Malvadas", por sua vez, foi inspirado no livro de autoajuda "Queen Bees & Wannabes", de Rosalind Wiseman, obra que trata de temas como o bullying, busca por ascensão e aceitação social à qualquer custo. Em comparação com  "Rua do Medo - Rainha do Baile", o filme dirigido por Mark Waters é bem mais pesado, mesmo que não traga nenhuma gota de sangue em suas quase uma hora e quarenta de duração. Neste sentido, "Meninas Malvadas" é um filme apavorante,  "Rua do Medo - Rainha do Baile" é só boboca.

Essa cópia descarada se estende aos próprios personagens. Lori, interpretada por India Fowler, é uma cópia literal de Cady Heron, vivida por Lindsay Lohan. Ambas são as "desajustadas intrometidas" que tentam navegar por um ambiente social hostil. O mesmo acontece com as personagens de Suzanna Son e Lizzy Caplan, que replicam as dinâmicas de Megan e Janis, respectivamente, com suas personalidades marcantes e um certo ar de rebeldia marginalizada.

Até mesmo as poderosas "Plastics" de "Meninas Malvadas"Regina George (Rachel McAdams), Gretchen Wieners (Lacey Chabert) e Karen Smith (Amanda Seyfried) — estão visivelmente representadas em "Rainha do Baile" pelas atrizes Fina Strazza, Ariana Greenblatt, Rebecca Ablack, Ilan O'Driscoll e Ella Rubin. A caracterização, os figurinos e até mesmo os maneirismos desses grupos são espelhos óbvios, demonstrando uma falta de criatividade constrangedora por parte dos roteiristas e do diretor.

Como estamos falando das atrizes, as atuações são, na melhor das hipóteses, medíocres, incapazes de transmitir qualquer emoção genuína ou de construir personagens minimamente interessantes. É como se os atores estivessem lendo as falas pela primeira vez, sem qualquer profundidade ou convicção. Nem mesmo a presença da excelente Lili Taylor (Invocação do Mal, Demolidor: Renascido) e do fanfarrão Chris Klein, da série cinematográfica adolescente "American Pie" salvam essa tragédia.

E como se não bastasse a falta de talento na tela, os figurinos são igualmente copiados de "Meninas Malvadas". A estética visual do filme, criada por Natalie Bronfman (que já tinha nos apresentado um trabalho ruim na série "Gotham Kinghts", que foi cancelada com apenas uma temporada) é tão genérica quanto o roteiro, utilizando as mesmas roupagens e estilos para tentar recriar a atmosfera de popularidade e rivalidade adolescente, mas falhando miseravelmente. É uma falta de respeito com o espectador, que merece algo mais do que uma reciclagem barata de ideias.


Porém, em meio à desolação cinematográfica, é preciso destacar o trabalho inspirado da direção de fotografia de Márk Gyõri. Antigo parceiro de Matt Palmer, Gyõri emprestou ao longa cenas com enquadramentos interessantes, que, apesar de comuns em produções de terror, se sobressaem na mediocridade geral do filme. Seu olhar estético, com uma iluminação que realça a atmosfera sombria e ângulos que buscam o suspense, é um raro lampejo de competência técnica em uma produção que, em outras áreas, se mostra amplamente deficiente. É um esforço visual notável, que tenta elevar o nível de uma obra que insiste em rastejar na mediocridade.

"Rua do Medo - Rainha do Baile" não surpreende ao dar continuidade à tradição da franquia em oferecer ao público filmes de baixíssima qualidade. A série, cujos três primeiros filmes foram dirigidos por Leigh Janiak, parece ter encontrado seu nicho na mediocridade, entregando produções que carecem de roteiro sólido, atuações convincentes e qualquer senso de originalidade. Matt Palmer, um diretor com poucos créditos e um histórico predominantemente em projetos autorais de curta-metragem, encarou o desafio de adaptar uma obra aclamada na literatura infanto-juvenil. No entanto, não conseguiu entregar um bom trabalho. Sua nova dobradinha com Donald McLeary resultou em um produto problemático e ruim.

Em suma, o filme é um exemplo claro de como uma franquia pode se esgotar e continuar a existir apenas para preencher o catálogo de um serviço de streaming com conteúdo descartável. É um filme que merece ser esquecido, e o mais rápido possível.


Marlo George assistiu, escreveu e não achou esse novo filme "tão barro"

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