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CRÍTICA [STREAMING] | "Improvisação Perigosa", por Marlo George

Prepare-se para uma mistura inusitada: imagine a intensidade de "Os Infiltrados", de Martin Scorsese, combinada com a irreverência de "Atrapalhando a Suate", clássico estrelado por Dedé, Mussum e Zacarias. O resultado dessa improvável fusão é "Improvisação Perigosa", a nova e divertida comédia de ação do diretor Tom Kingsley, baseada na história original de Derek Connolly, Ben Ashenden, Alexander Owen e Colin Trevorrow. O filme acaba de estrear no serviço de streaming Prime Video, da Amazon, e, apesar de uma divulgação discreta, se revela uma das grandes surpresas do ano, cativando com seus personagens excêntricos, situações hilárias e sequências de ação eletrizantes.

A trama segue Kat Boyles (interpretada de forma magnífica por Bryce Dallas Howard), uma comediante e professora de improviso londrina, recrutada pelo Detetive Sargento Graham Billings (Sean Bean) para aplicar suas habilidades teatrais em operações policiais secretas. Para cumprir essa missão inusitada, Kat forma um trio com dois de seus alunos: Marlon (Orlando Bloom), um ator canastrão e com pouca noção, e Hugh (Nick Mohammed), um tipo tímido e com grande falta de traquejo social. Juntos, eles se infiltram no submundo do crime, com a tarefa de ganhar a confiança de um perigoso traficante chamado Fly (Paddy Considine).

O grande trunfo da narrativa reside justamente na imprevisibilidade e nos desastres cômicos causados pela dinâmica disfuncional do trio protagonista. A falta de noção e a canastrice exagerada de Marlon, somadas à timidez e à inexperiência social de Hugh, os jogam em confusões colossais, gerando momentos de humor genuíno e imprevisível. São essas interações desastradas que impulsionam a trama, transformando situações de alto risco em gargalhadas inesperadas. Para os fãs do bom e velho humor britânico, cheio de seu próprio charme, ritmo e estilo, o filme é um prato cheio.

Além da trama envolvente e do humor peculiar, um dos pontos mais fortes do roteiro de "Improvisação Perigosa" é sua crítica afiada à escassez de oportunidades para atores. O filme revela com perspicácia, através do personagem Marlon, o lado sombrio de uma indústria que, muitas vezes, marginaliza talentos. Essa dificuldade em conseguir papéis relevantes empurra esses artistas para a necessidade de aceitar trabalhos comuns, que acabam desperdiçando suas habilidades artísticas e toda a sua valiosa experiência. Essa abordagem não só adiciona profundidade à narrativa, mas também ecoa a realidade de muitos profissionais. A luta dos personagens por reconhecimento se transforma em um comentário social impactante sobre o esquecimento que atinge aqueles que, com o tempo, acabam ficando de fora dos holofotes, sendo forçados a seguir caminhos que subaproveitam seus dons.

Bryce Dallas Howard brilha em sua atuação, entregando uma performance sem exageros e servindo de escada perfeita para o talento cômico de seus parceiros de cena. Orlando Bloom, eternamente lembrado como Legolas de "O Senhor dos Anéis", finalmente encontra um papel que explora todo o seu potencial, entregando um Marlon impagável — um ator frustrado que aproveita cada chance para exibir suas habilidades cênicas, para desespero de seus colegas. No entanto, é Nick Mohammed, que o público talvez conheça da subestimada série de super-heróis "No Heroics", quem rouba a cena. Com uma comicidade sutil e uma maestria impressionante no uso da expressão corporal e facial, Mohammed é um ator extraordinário que merece muito mais visibilidade em grandes produções.


O elenco estelar é complementado por presenças de peso, que adicionam camadas de qualidade ao filme. Sean Bean ("Game of Thrones") e Paddy Considine ("A Casa do Dragão") marcam presença com suas atuações fortes, elevando o nível da produção. A carismática Sonoya Mizuno ("A Casa do Dragão"), também do spin-off da série baseada na obra de George R.R. Martin, faz uma participação, embora pequena, como Shosh, deixando sua marca. E para completar, Ian McShane, com seu charme fatal e natural, entrega uma participação especial que evoca a vibe de "John Wick", adicionando um toque de intensidade e mistério.

Tom Kingsley, apesar de uma carreira longa, ainda não havia dirigido um grande sucesso de público, e é uma pena que "Improvisação Perigosa" possa passar despercebido em meio à enxurrada de lançamentos em streaming da temporada. A falta de uma promoção mais robusta pode prejudicar seu alcance, impedindo que o filme tenha o peso que merece na filmografia do diretor. Contudo, a qualidade do roteiro, a direção ágil e as performances excepcionais do elenco conferem ao filme todo o potencial para se tornar uma obra cult, seguindo a trilha de alguns dos clássicos do "View Askewniverse", de Kevin Smith, por exemplo, aguardando apenas encontrar seu público.


Marlo George assistiu, escreveu e já improvisou muito na vida e já esteve desesperado o bastante pra aceitar (QUASE) qualquer trampo...

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