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CRÍTICA [STREAMING] | "Lazarus" (Temporada 1), por Kal J. Moon

Criado pelo cultuado realizador Shin'ichirô Watanabe, com elenco original de voz de nomes como David Matranga, Jade Kelly, Jack Stansbury, Luci Christian, Bryson Baugus, Jovan Jackson, Annie Wild e Sean Patrick Judge, "Lazarus" é uma série animada que mais parece um pastiche do que algo minimamente original.


Apocalipse blasé
Quando foi originalmente anunciado que sairia uma nova série de animação do mesmo criador do clássico "Cowboy Bebop" (a série animada, não aquele live-action horroroso), meio mundo entrou em polvorosa com as possibilidades - e a outra metade bocejou e virou pro outro lado a fim de continuar dormindo. Mas quando se anunciou que o cineasta Chad Stahelski (dos filmes "John Wick 4" e "Bailarina") seria o ~"coordenador de sequências de ação", aquela metade acordada acendeu um imaginário alerta amarelo - também conhecido como "pé atrás". Daí, a plataforma paga de streaming Max decidiu-se pela distribuição semanal de episódios - aos domingos! -, e... bem...

Na trama, o ano é 2052. O mundo parece estar à beira de uma paz e estabilidade sem precedentes - e o analgésico Hapna, desenvolvido pelo renomado neurocientista Dr. Skinner, teve bastante a ver com isso. Difundido em todo o mundo, sem efeitos colaterais conhecidos, diz-se que Hapna libertou a humanidade da dor. Até que Skinner desaparece repentinamente da face da Terra. Em 2055, ele ressurge como um profeta responsável por inúmeras mortes e anunciando o fim da civilização. Hapna é projetado com um efeito fatal e retroativo, que se manifesta três anos após a ingestão, mesmo por aqueles que o tomaram apenas uma vez.


Restam apenas trinta dias até que a humanidade esteja condenada à extinção. A única maneira de salvar o mundo é obter a cura que só Skinner conhece. Para isso, será extremamente necessário encontrá-lo primeiro. "Lazarus" é uma equipe de cinco agentes reunidos de vários cantos do mundo para fazer exatamente isso. Eles podem salvar a humanidade? E qual é o verdadeiro propósito de Skinner?

Pela trama descrita acima, fica claro que se trata de uma espécie de parábola bolada rapidamente em tempos de pandemia, para extrapolar em cima de todo o clima de terror que a humanidade passou naquela quase meia década de incerteza. O resultado não foi o esperado. Além de diversos movimentos de narrativas propositais para rememorar o já citado "Cowboy Bebop" - pelo menos três episódios são fortemente baseados na idolatrada série lançada em 1998. 


Mas, parando um pouco para pensar, sem qualquer emoção ou afetividade envolvida, nenhum trabalho anterior ou posterior de Watanabe teve êxito de audiência ou popularidade entre o público. Somente fãs mais ardorosos de suas ideias sabem de fato do que se trata obras como "Capricórnio", "Space Dandy" ou "Carole & Tuesday" - a grande maioria teve mais contato com "Samurai Champloo", aquele curta da antologia "Animatrix" ou aquele outro curta da antologia que fez parte do lançamento do filme "Blade Runner 2049"...

(e, vale ressaltar, mesmo "Cowboy Bebop" só virou sucesso após sua distribuição nos Estados Unidos - e, consequentemente, atingindo meio mundo)


Isto posto, "Lazarus" é um arremedo preguiçoso da obra mais laureada de seu criador. Mais ou menos como uma fanfic que se passa no mesmo universo só que estrelada por outros personagens (e nem adiantou ter um grupo realmente diverso, com um afrodescendente com papel de destaque ou uma personagem LGBT). Mas nada tem qualquer substância ou real importância. Ninguém tem carisma - nem mesmo Axel Gilberto - que, apesar das suspeitas, não é revelado em nenhum momento que o ex-prisioneiro praticante de parkour seria brasileiro (a inspiração de seu nome provavelmente veio do músico de jazz Axel Hagen e do músico brasileiro João Gilberto) - e a trama é bem repetitiva ao longo de, pelo menos, os cinco primeiros episódios. Somente a partir de metade da temporada é que a narrativa consegue ir para algum lugar melhor e dar alguma recompensa à sua ávida audiência.

A impressão que dá é que a premissa já estava pronta e chamaram Watanabe para trabalhar num projeto que foi rejeitado para outra mídia - há como enxergar um filme que foi abandonado ainda no roteiro mas salvo em modelo de animação por conta de custos de produção. O último episódio traz exatamente o que se acha que vai acontecer desde o primeiro - com o bom e velho gancho para uma (desnecessária) continuação.


Para não dizer que nada se salva, a trilha sonora composta pelos venerados músicos de jazz Kamasi, Floating Points e Bonobo é um primor, valendo cada segundo de exibição - e, facilmente, entra em qualquer playlist de aficionados pelo ritmo preciso de notas e acordes bem encadeados. Destaque também para a bela canção de encerramento de cada episódio, interpretada pela obscura banda The Boo Radleys.

O mesmo vale para a apurada direção de arte comandada por Miho Sugiura (de "Jujutsu Kaisen 0"), que criou um moderno mundo bem crível - ainda que pareça uma versão revista e atualizada do que Jun'ichi Higashi fez em "Cowboy Bebop". Por diversas vezes, a audiência pode se perder prestando mais atenção ao cenário do que necessariamente no que está acontecendo na trama.


Infelizmente, "Lazarus" acaba sendo mais "Cowboy Bebop" para quem já conhece - e sente saudade - "Cowboy Bebop" do que uma nova e interessante série que possa trazer novos públicos para consumir essa vertente de animação. É aquele tipo de entretenimento que pode assistir com um celular na mão que não vai perder nenhum detalhe muito importante. Na dúvida, recuse imitações e consuma apenas o produto original para evitar contraindicações. Desligue a TV e vá ler um livro.




Kal J. Moon sempre desconfiou que um remédio para acabar com todos os males deveria se chamar "panaceia"...


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