A Disney+ e a Marvel Studios finalmente tiraram da gaveta a série "Coração de Ferro", baseada nos personagens criados por Brian Michael Bendis, Eve Ewing, Kevin Libranda e Mike Deodato Jr. para os quadrinhos. Anunciada em 2020 e com filmagens concluídas em 2022, a série da heroína Marvel deveria ter sido lançada em 2023, mas acabou sendo adiada para 2024 e, posteriormente, remanejada para lançamento este ano. Esse cronograma caótico gerou dúvidas significativas sobre a efetivação do projeto, levantando a questão se a série seria de fato lançada ou, de vez, cancelada pela Marvel Studios.
Os motivos dos adiamentos jamais foram revelados, e não é possível afirmar se eles se deram por problemas relacionados a outra produção da Marvel Studios, "Armor Wars". Esta, inicialmente anunciada como uma série em 2020, passou por diversas mudanças e agora será lançada como um filme – apesar de também terem circulado, recentemente, rumores sobre seu cancelamento. Há indicações de que "Coração de Ferro" teria uma ligação visceral com "Armor Wars", mas, na ausência de uma declaração oficial da Marvel Studios, isso permanece no campo da especulação. O que podemos confirmar, no entanto, é o lançamento da produção baseada na heroína Riri Williams, que já está disponível, completa, na Disney+.
A trama de "Coração de Ferro" apresenta a história de sua super-heroína titular, a jovem Riri Williams, interpretada por Dominique Thorne (conhecida por "Se a Rua Beale Falasse" de 2018). Riri é retratada como um gênio mirim no setor tecnológico que se envolve em grandes encrencas pelas ruas de Chicago. Sua jornada disfuncional começa após ser expulsa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) por vender trabalhos de conclusão de curso (TCC) para outros alunos, sendo inclusive acusada de plágio.
Como se trata de uma "menina prodígio e inteligentíssima", Riri acaba recorrendo a outras práticas criminosas, como furto, associação criminosa, contrabando e estelionato, entre outras "travessuras", para concluir a construção de uma nova armadura. Inicialmente, essa armadura seria usada para atos criminosos, uma premissa que desvia significativamente do arquétipo heroico tradicional. Embora a personagem de Dominique Thorne seja levemente parecida com a pupila de Tony Stark que conhecemos nos quadrinhos, tanto na aparência quanto na prática de crimes (furto, no caso das HQs), ela parece ser mais uma espécie de "ferramenta" para a destilação de ideologias políticas progressistas. A série parece aproveitar-se da condição de Riri como uma menina pobre, preta e periférica para validar teses questionáveis.
Se a intenção era mostrar uma história de superação, a Marvel Studios acaba nos apresentando uma série que parece querer validar teses como a da "lógica do assalto", atualmente propagada por certos intelectuais e políticos, inclusive no Brasil. Essa abordagem é, no mínimo, controversa e enfraquece qualquer mensagem positiva que a série pudesse transmitir.
Outro ponto extremamente problemático é a forma como a série tenta descreditar Tony Stark, interpretado no MCU pelo lendário Robert Downey Jr. A personagem principal tenta invalidar, desdenhar ou subestimar o trabalho magnífico realizado pelo super-herói fundador do MCU no cinema, descrevendo-o como um sujeito que, apesar de ter "apenas colaborado" com sua área de atuação (o que é uma mentira deslavada), só conseguiu o que conseguiu por ser um homem bilionário. Tal análise, especialmente partindo de uma garota que os demais personagens insistem em nos dizer ser genial como Riri Williams, faz transbordar pela telinha a inveja, a soberba e a antipatia da garota. Tudo isso é despejado pelos episódios iniciais através de diálogos bobocas, reflexões imaturas e frases de efeito de empoderamento feminino vazio, que soam completamente forçadas.
Qualquer espectador que assistiu aos filmes "Homem de Ferro" (2008) e "Homem de Ferro 2" (2010) sabe da importância de Tony Stark para o desenvolvimento das tecnologias que criou para construir suas armaduras — as mesmas nas quais a personagem invejosa baseia as que ela mesma construiu. Fica claro também a corrida incessante que diversos inimigos, tanto das indústrias Stark quanto dos Vingadores, empreenderam para conseguir construir uma arma tão formidável, falhando miseravelmente. Além disso, também fica bem evidente que Stark era um gênio desde a mais tenra idade, e sua fortuna em nada ajudou nisso. Qualquer menina gênio, interessada no legado de Tony Stark neste universo inventado, teria acesso a essas histórias — não em filmes do MCU, pois eles não estariam disponíveis para ela, mas através de biografias, documentários ou aulas no MIT. Mas a personagem parece escolher uma versão inventada por sua própria cabeça, conveniente com seu ativismo político (em seu quarto há propaganda política que corrobora este aspecto de sua personalidade) e com sua crença exacerbada em suas próprias capacidades. Tudo é bem patético porque a decisão dos roteiristas de fazer uma espécie de retcon forçado transformou a personagem em uma militante deslumbrada. Além disso, o trabalho de Thorne, enquanto atriz, está aquém do esperado.
Riri se alia a uma gangue de malfeitores liderados pelo vilão Capuz, interpretado por Anthony Ramos. Este insiste, o tempo todo, em dizer que a gangue (abaixo) é formada por pessoas "muito bonitas" — o que pode não refletir a realidade, uma vez que personagens como Fúria (Eric André), Palhaça (Sonia Denis), Sanguessuga (Jaren Merrell), John (Manny Montana) e a dupla Jeri (Zoe Terakes) e Roz (Shakira Barrera), conhecida como Irmão Sangue, estão longe de serem visualmente atraentes. As atuações de todo o grupo são muito, muito ruins. Talvez possamos responsabilizar a direção de elenco, a cargo de Sarah Finn, uma antiga colaboradora da Marvel Studios e da Lucasfilm, que vem colecionando elencos ruins em produções dos dois estúdios há anos.
Porém, o elenco tem duas boas surpresas. Alden Ehrenreich (Han Solo: Uma História Star Wars) como Joe McGillicuddy tem uma reviravolta interessante, sendo de longe o melhor personagem da série, embora não consiga salvá-la da canastrice geral. O comediante Sacha Baron Cohen (da franquia Borat) faz uma participação especial, mas sua personagem, apesar de interessante, serve apenas para causar burburinho, confirmando memes de internet já antigos sobre a aparição da figura que ele defende.
Em meio a tantos deslizes, é justo reconhecer que algumas cenas de ação em "Coração de Ferro" são bem legais. Os momentos em que a armadura de Riri é utilizada em combate ou perseguições conseguem entregar o espetáculo visual esperado de uma produção Marvel. A fluidez dos movimentos e a complexidade dos designs das armaduras são pontos altos que, por instantes, nos lembram o potencial que a série tinha. No entanto, esses lampejos de brilho são insuficientes para elevar a qualidade geral da obra. A equipe de efeitos visuais mandou bem, mas acredito que parte do trabalho já estava pronto, uma vez que a Marvel Studios apresenta armaduras tecnológicas em seus filmes desde 2008.
Tecnicamente, a trilha sonora original, composta por Dara Taylor, que apesar de ter mais de 10 anos de experiência e mais de 50 créditos em sua carreira (nenhum de destaque), apresenta temas insossos e genéricos. A direção de fotografia é competente e foi registrada pelo novato Ante Cheng e pela experiente Alison Kelly.
A direção dos episódios ficou a cargo de Samantha Bailey, conhecida por outras séries como "Cara Gente Branca" e "Brown Girl", e Angela Barnes, de "Atlanta". Essa escolha pode, em parte, explicar a exploração excessiva de uma agenda woke presente na série da Marvel. O trabalho, no geral, é pífio, resultando em uma série muito ruim e decepcionante.
Marlo George assistiu, escreveu e não pode afirmar que cultura é poder
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