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CRÍTICA [STREAMING] | "A Última Showgirl", por Kal J. Moon

Esnobado pelo circuito comercial brasileiro, dirigido por Gia Coppola, estrelado por Pamela Anderson e nomes como Dave Bautista, Brenda Song, Kiernan Shipka, Jason SchwartzmanBillie Lourd e a vencedora do Oscar Jamie Lee Curtis, o filme "A Última Showgirl" toca no delicado (e atual) tema do etarismo no showbiz, mas tentando aliar uma abordagem mais artística do que o costumeiro...


O jogo do 'perde-perde'
É curioso que Hollywood, de vez em quando, tenha o costume de fazer um comeback de astros e estrelas em papeis que geralmente não lhe seriam oferecidos - fato que chama a atenção da mídia especializada e, claro, dos júris das concorridas premiações do mercado audiovisual. Alguns desses medalhões voltam à ativa justamente por conta dessas investidas de jovens cineastas e da arriscada aposta de alguns estúdios em filmes de baixíssimo orçamento mas com algo mais a oferecer do que efeitos visuais vultosos ou frases de efeito.

O filme "A Última Showgirl" chamou a atenção nas premiações mais recentes por trazer de volta a atriz e modelo Pamela Anderson interpretando uma personagem que era "a sua cara" - mas a versão atual e não aquela que povoou o imaginário coletivo desde que apareceu em clipes de bandas como Cinderella e Aerosmith (falamos disso AQUI), além, claro, do seriado "Baywatch - S.O.S. Malibu".


Interpretar uma personagem que meio que traduz a atual condição de quem protagoniza não é nenhuma novidade - filmes como "O Lutador" (2008), o recente "A Substância" (2024) e o vindouro "Jay Kelly" (2025) já fizeram exatamente isso com Mickey Rourke, Demi Moore e o vencedor do Oscar George Clooney, respectivamente, com uma trama que nada mais era do que uma paráfrase da carreira de cada intérprete. E é nessa área que "A Última Showgirl" falha miseravelmente...

Na trama, Shelly é uma veterana dançarina de Las Vegas (EUA) que precisa planejar seu futuro quando seu show é encerrado abruptamente após 30 anos de duração. Além disso, quer reatar seus laços afetivos com sua filha - já maior de idade e com quem não convive desde a infância - e, quem sabe, viver um relacionamento afetivo duradouro com o homem que parece ser o único que realmente se importa com ela...


O roteiro de Kate Gersten (de séries de relativo sucesso como "The Good Place" e "Schmigadoon!") foca na difusa questão: o que uma artista do entretenimento faz quando não há mais espaço para se apresentar por conta de sua idade? Não existem respostas corretas mas - assim como dito numa crucial fala de "A Substância" - a medida de quantidade de tempo para homens e mulheres permanecerem sob o holofote do showbiz é completamente desproporcional. Homens que exibem cabelos brancos são chamados de "charmosos" enquanto que mulheres não devem vacilar na tintura capilar se quiserem aparentar menos idade que "deveriam" para garantir o valor do aluguel...

O problema principal do roteiro de Gersten não é o conteúdo mas, sim, a forma. Com pouquíssimos conflitos que realmente valham a pena à sua protagonista, a trama trata de detalhes tão íntimos que, talvez, somente quem já tenha passado por situação semelhante consiga se identificar e até torcer por um bom desfecho.


Mas o ponto positivo desse emaranhado que o roteiro traz é que, por mais que a protagonista se esforce, como ela própria diz, é um jogo que nunca terá como ganhar - tenta ser amorosa com a filha e até a incentiva a estudar o que deseja (fotografia) em vez do "emprego da moda" (designer gráfico) mas só recebe reprimendas por conta de tê-la abandonado no passado - algo que aconteceu há muito tempo mas que ainda está marcado em seu íntimo; tenta se aproximar romanticamente do técnico de som do show em que se apresenta mas, mesmo que seja, secretamente, o pai de sua filha, não quer ser mais do que seu amigo; tenta se candidatar a uma audição num novo espetáculo de dança mas é rejeitada por conta de sua idade e também por seus movimentos antiquados - frente ao que é apresentado atualmente em matéria de arrasta-pé. 

A direção de Gia Coppola (de clipes de artistas POP como Carly Rae Jepsen Halsey, além de obscuros filmes como "Palo Alto" e "As Sete Faces de Jane" - e também neta de um dos maiores diretores da História do Cinema) segue um caminho que mistura uma atmosfera teatral, quase documentarista e algo aprendido em videoclipes (mas que não orna tão bem, gerando um resultado artístico híbrido porém menos comercial - e, por isso mesmo, difícil de digerir). E isso acaba se refletindo, em parte, na performance de seu elenco.


A começar por Pamela Anderson, que foi ovacionada por boa parte da crítica na época das premiações - além de lhe garantir uma indicação ao cobiçado Globo de Ouro de Melhor Atriz em 2025 -, por conta de, finalmente, receber um papel que dissesse algo diferente de frases fúteis ou que nem necessitassem ser ditas por conta de sua beleza corporal. OK, a atriz realmente entrega algo minimamente decente em termos de atuação mas, em muitos momentos, parece mais perdida que a personagem - e não de uma forma interessante -, revelando que faltou algum pulso por parte da diretora. Alguns momentos parecem realizados por amadores em matéria de dramaturgia. Na busca por um pretenso realismo, acabou chegando a um arremedo próximo do que foi realizado recentemente em "Anora", por exemplo...

O mesmo também pode ser dito da vencedora do Oscar Jamie Lee Curtis, que interpreta a melhor amiga da protagonista e também é mais ou menos um reflexo sombrio que lhe espera se não agir rapidamente para mudar seu status quo - uma mulher que outrora já foi linda mas atualmente mora em seu próprio carro pois perdeu a casa e pertences para a jogatina. Curtis está muito "solta" e parece improvisar bastante em vez de entregar uma performance digna de nota - e olha que a personagem pedia algo um pouco mais caprichado.

Brenda Song, Kiernan ShipkaBillie Lourd fazem o que podem com o pouco que lhes foi oferecido - mesmo assim, são bem funcionais com a proposta. E Jason Schwartzman (do recente - e superestimado - filme "Mountainhead") é responsável pela melhor fala do roteiro - justamente a que abre os olhos da protagonista em relação à passagem do tempo e que, por tabela, lhe tira da alienação que o showbiz traz.


Talvez o grande destaque depois de Anderson seja mesmo Dave Bautista (que surpreendeu no recente "Batem À Porta"), talvez o melhor ator que a WWE entregou. O que ele traz - um misto de melancolia, preocupação e um pouco de culpa - com tão pouco que lhe foi oferecido pelo roteiro faz valer a pena a curta duração da película. A vasta cabeleira à la Kenny Rogers também ajudou na caracterização e na composição do segundo melhor personagem da produção.

Também chama a atenção a direção de fotografia de Autumn Durald Arkapaw (do recente filme "Pecadores"), que usa uma composição cromática baseada em tons róseos e verdes - algo que foge ao ar de Las Vegas e aproxima da cafonice de Miami -, trazendo também bastante "câmera na mão" para capturar o "realismo" das cenas, focando bastante em close-ups para captar a emoção de cada membro do elenco e também abusando do granulado para emular aquela atmosfera de narrativa antiquada.


O figurino projetado pela dupla Jacqueline Getty (de "Viagem a Darjeeling") & Rainy Jacobs (de "O Diário de Noel") é condizente com a proposta, sendo perfeitamente apreciado apenas na cena final da trama. Destaque também para a direção de arte da dupla Nicholas Faiella (do filme "A Discussão") e da estreante Lisa Medina - aliada à cenografia de Faiella -, que traz toda a decadência do que, um dia, já foi considerado chique (como, por exemplo, a sala de TV da protagonista ou o camarim das dançarinas, que parece cheirar a mofo).

Ainda que verdadeiramente esforçado, "A Última Showgirl" parece a 'prima pobre' do já citado "A Substância", com temas muito próximos e propostas bem semelhantes. Vale como curiosidade mas dá para entender porque não avançou muito nas premiações. Havia potencial mas falhou justamente na execução. Pena.




Kal J. Moon acha que está velho demais para essa m&rd@ toda... Mas o show tem que continuar!



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