A aguardada segunda temporada de Gen V, spin-off do universo de The Boys, começou sob a promessa de manter a selvageria, a sátira social e a profundidade temática que tornaram a série original um fenômeno. No entanto, para quem acompanhou os seis primeiros episódios, a jornada foi, infelizmente, marcada pela estagnação, pela dispersão de foco e por um tom que, por vezes, beirou a repetição cansativa de fórmulas.
Essa estagnação era sentida porque, a cada episódio, a trama parecia dar um passo para frente e dois para trás. O foco se dispersava demais: ora estávamos investigando um mistério, ora pulávamos para um drama pessoal que não tinha o mesmo peso, e isso cansava. A sensação era de que a série estava patinando, repetindo o ciclo de "descobrir o segredo da Godolkin" sem nunca realmente se comprometer com um perigo iminente, o que é bem frustrante.
A sátira social que permeou grande parte da temporada se revelou particularmente truncada nos primeiros episódios. A crítica social prometida tornou-se, em muitos momentos, burra, exagerando em clichês de forma previsível e apoiando-se pesadamente em um viés político de esquerda, flertando com extremismos que exigiam pouca reflexão do espectador. Além disso, o timing do lançamento foi inconveniente: ao mostrar, logo no episódio de estreia, cenas de violência política que, pela forma como foram construídas, pareciam justificar a agressão dependendo do lado polarizado, a série escorregou em uma ambiguidade moral perigosa, especialmente considerando ecos de incidentes reais, como a recente agressão envolvendo o ativista de direita Charlie Kirk, morto com um tiro no pescoço, dias antes do lançamento da série no serviço de streaming Prime Video.
A narrativa, então, sofreu com uma sensação de "enchimento". A exploração do ambiente da Universidade Godolkin, embora visualmente vibrante, falhou em apresentar mistérios genuinamente envolventes ou antagonistas que conseguissem ameaçar a narrativa com a mesma eficácia dos Supes da Vought. As dinâmicas entre o grupo principal restante – incluindo Jordan, Emma e os demais –, pareceram frequentemente presas em loops de desconfiança e revelações que demoraram a se materializar, diluindo o ritmo já lento. É sabido que a trágica morte do ator Chance Perdomo, que interpretava Andre Anderson, forçou uma reescrita significativa do roteiro, com os produtores confirmando que vários episódios pré-escritos tiveram que ser descartados. Essa necessidade de reestruturação, embora motivada por uma perda real e respeitosa, acabou gerando cenas de drama em torno da ausência de Andre que se mostraram deveras forçadas e cansativas.
Felizmente, quando tudo parecia perdido, os dois episódios finais da temporada entregaram a redenção merecida. Os roteiristas finalmente pareceram ter encontrado o motor narrativo necessário, abandonando a hesitação e mergulhando de cabeça nas consequências das tramas secundárias. A maneira como os arcos de personagens anteriormente dispersos convergem foi brilhante e surpreendente.
As reviravoltas introduzidas nos capítulos finais foram executadas com precisão cirúrgica. Elas não apenas chocaram, mas se encaixaram perfeitamente com o lore estabelecido, recontextualizando as ações dos personagens anteriores e expondo camadas de manipulação que estavam sutilmente plantadas desde o início. A conclusão para o mistério central da temporada foi madura e fria, um verdadeiro acerto de contas inteligente e intrigante.
Enquanto a primeira metade nos deu Supes perdidos, os dois últimos episódios nos entregaram a conclusão inteligente que estávamos esperando: Gen V não foi apenas sobre jovens Supes descobrindo seus poderes; foi sobre como o sistema os usa, os quebra e os descarta. A forma como os elementos narrativos se fecharam – especialmente no que tange ao destino de alguns protagonistas e as implicações políticas para o universo de The Boys – foi executada com uma sagacidade que faltou à maior parte da temporada.
Jaz Sinclair, como Marie Moreau, foi uma atriz de potencial, mas entregou uma performance notavelmente fraca nesta temporada, parecendo desmotivada frente ao material escrito. Em contraste, Lizze Broadway como Emma Meyer, a “Grilinha”, manteve o bom trabalho estabelecido no ano anterior, equilibrando bem os conflitos internos da personagem. Maddie Phillips, por sua vez, como Cate Dunlap, demonstrou ser uma atriz versátil e em constante evolução, assumindo maior peso dramático. O ponto alto consistente da série, desde a primeira temporada, foi a dupla London Thor e Derek Luh como Jordan Li; a semelhança física e a sincronia de performance foram excelentes, fazendo com que realmente parecessem ser a mesma pessoa em corpos diferentes. Já Asa Germann, como Sam Riordan, foi visivelmente mal aproveitado; ele é um bom ator, mas foi claramente prejudicado por um roteiro que não soube capitalizar seu arco.
O maior destaque absoluto desta temporada foi, sem dúvida, Sean Patrick Thomas no papel de Polaridade. Seu personagem foi muito bem desenvolvido, e o ator foi magnífico ao transmitir o luto e a complexidade paterna. Também merece menção especial Hamish Linklater como Dean Cipher; seu trabalho, especialmente nos dois episódios finais, foi simplesmente estupendo na construção da ameaça final. Por outro lado, as participações especiais de Erin Moriarty (Annie January), Jessie T. Usher (A-Train), Valorie Curry (Espoleta) e Susan Heyward (Mana Sábia) pouco acrescentaram à trama principal, servindo mais como meros acenos ao público. A única exceção interessante foi a aparição de Giancarlo Esposito. A dele foi genuína, ocorreu de forma orgânica na trama, e impactou de verdade o rumo que a temporada tomou, o que fez toda a diferença.
A segunda temporada de Gen V foi, no fim das contas, redimida pela sua reta final. Os capítulos derradeiros foram complexos o suficiente para revalidar todo o potencial do spin-off, deixando o espectador não apenas chocado, mas genuinamente satisfeito com a forma como as peças finalmente se encaixaram. A explosão de qualidade e inteligência dos dois episódios finais realmente revalidou o potencial do spin-off. Porém, mesmo com essa redenção, a gente não pode esquecer que a maior parte da temporada foi aquela caminhada arrastada, onde o potencial satírico foi ofuscado por dramas adolescentes sem muito peso e platitudes políticas dispensáveis e inconvenientes.
Marlo George assistiu, escreveu e não gosta de supes!
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