Desde a exibição do primeiro episódio da segunda temporada de "Pacificador", nosso editor Marlo George e este que vos escreve compartilhamos áudios sobre o andamento da série, criamos teorias e avaliamos as decisões que o diretor, roteirista, produtor executivo e co-CEO da DC Studios James Gunn está tomando em relação ao DCU. Começamos bem empolgados mas, com o passar dos episódios, os ânimos oscilavam entre "ah, agora vai" e "pô, James Gunn tá enrolando para contar essa história" - sempre apontando fatos que serviriam para absolvê-lo ou condená-lo naquela CPI imaginária.
A verdade é que, depois do escândalo que levou o "Cabeça Branca" a sair da Marvel Studios e ser cooptado para a Warner Bros. a peso de ouro, o trabalho do cultuado (e odiado) cineasta passou a ter uma inquestionável variação de qualidade. Desde "O Esquadrão Suicida" - que, lançado ainda durante a pandemia, teve recepção dividida por parte do público (nós desaprovamos!) -, passando por "Guardiôes da Galáxia Vol. 3", "Comando das Criaturas" e o filme "Superman" - que não foi minimamente lucrativo como alardearam na época e, novamente, teve recepção dividida (também detestamos!) -, nenhum produto audiovisual do "novo" DCU (que, curiosamente, carrega os mesmos vícios que eram praticados - e duramente criticados - no "antigo" DCU) está levando essas propriedades intelectuais ao tal "próximo movimento" de fato, parecendo mais soldados em compasso de espera pela nova ordem de seu comandante para atacar os flancos inimigos.
Não podemos ser desonestos: Gunn teve uma senhora - embora manjada - ideia ao brincar com o já combalido conceito de multiverso e dimensões paralelas, conseguindo que esse pano de fundo servisse como veículo para falar, novamente, da relação pai e filho que o personagem Chris Smith / Pacificador tanto precisava para crescer enquanto ser humano. E também discutir temas como amizade, controle governamental sobre prisioneiros, relações interpessoais abaladas e até mesmo consequências do luto, tudo embrulhado num programa com personagens vestindo roupas coloridas, com armas extravagantes e portais que levam a mundos diferentes da vida real.
Um tópico abordado constantemente na "CPI": oito episódios era muito para contar aquela história. Cortando tudo o que não se fazia de fato necessário à trama (que pode ser resumido na personagem Adebayo Waller, um estorvo narrativo desde a primeira temporada), poderia ser feito um filme ou quem sabe reduzir a meros quatro a cinco episódios. Mas o "plano" era manter o público cativo por mais oito semanas após o lançamento do filme do Homem de Aço, especulando, criando teorias e consumindo digitalmente os produtos relacionados à série. E, resumindo, Gunn parece o cara certo para ter as ideias mas não para executá-las. Tanto que os melhores episódios além do primeiro são justamente os que não tem Gunn na direção - destacam-se não somente pela ótima direção de coreografia de ação como maior fluidez narrativa (mérito de Greg Mottola, Peter Sollett e Althea Jones, que dividiram a direção com Gunn pois a segunda temporada foi filmada ao mesmo tempo que o filme do último kryptoniano).
O mesmo pode ser dito da performance entregue por Robert Patrick (eterno T-1000 de "O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final"), que interpreta uma versão "bondosa" de seu personagem na primeira temporada e também tem um texto muito mais rebuscado para mostrar que não é somente um coadjuvante de luxo e pode roubar a cena quando há oportunidade - o que nos remete ao improviso no final do primeiro episódio e ao discurso motivacional no sétimo episódio, encerrando magistralmente sua participação na produção (e também foi legal vê-lo dizer o bordão da clássica franquia que o deixou famoso).
Mas, mesmo que tenha sido peça fundamental para a principal virada de roteiro do episódio mais comentado - totalmente baseado no livro "O Homem do Castelo Alto", de Philip K. Dick (1928-1982) -, vale salientar que a atriz é a única afro-americana de destaque no elenco e diversidade não se instaura somente pela presença de afrodescendentes na produção mas, sim, se seus personagens tem real importância na trama (e não, dar a tal importância apenas no último episódio não configura diversidade mas, sim, preguiça).
Infelizmente, usuários da internet que se identificam com aquele comportamento errático e desprezível o elegeram como "o melhor personagem". Isso se não contarmos o total desperdício do ator Tim Meadows (do clássico "Meninas Malvadas"), que virou uma piada repetitiva em todas suas aparições - e, o plot completamente descartável do personagem interpretado por Michael Rooker (o Yondu de "Guardiões da Galáxia"). Pois é. Já as participações especiais serviram mais para estabelecer conexões (forçadas) com o já citado filme "Superman" do que necessariamente para fazer a trama seguir adiante...
Sobre o polêmico último episódio, que abre margem para muitas especulações - e o próprio Gunn comentou bastante sobre isso AQUI e AQUI -, bem... Em vez de apenas encerrar o (último?) ciclo da série, preferiu-se apontar na direção do futuro do Universo Cinematográfico DC, pegando inspiração numa obscura minissérie em quadrinhos mas modificando sua origem e objetivos - como é costumeiramente feito em adaptações oriundas da nona arte.
A segunda temporada de "Pacificador" tem qualidades técnicas aprimoradas em relação à primeira, traz uma nova playlist de clássicos obscuros (ou não) do hard rock e seus múltiplos subgêneros (o melhor "achado", de longe, foi "A Shot At Redemption", da banda H.E.A.T.) - que deve atrair somente a seguidores do estilo - mas entrega muito pouca evolução em relação àqueles personagens e ao próprio Universo Cinematográfico DC. Como resultado da apuração para a "CPI", declaramos James Gunn culpado de todas as acusações - com apresentação de provas incontáveis e não meras convicções.
Kal J. Moon já depenou e cozinhou um galo, gostaria de jogar James Gunn no Planeta Salvação e entrar pelos portais para procurar a versão do "Antigo Testamento" do celebrado cineasta...
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