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CRÍTICA [STREAMING] | "Pacificador" (Temporada 2), por Kal J. Moon

Escrito e codirigido por James Gunn, estrelado por nomes como  John Cena, Danielle Brooks, Jennifer Holland, Freddie Stroma, Steve Agee, Nhut Le e Robert Patrick - dentre MUITAS participações especiais -, a segunda (e última?!) temporada da série "Pacificador" toca em temas importantes, aponta para o futuro do Universo Cinematográfico DC mas falha miseravelmente em entregar uma história com um mínimo de coerência...


CPI do 'Cabeça Branca'
Desde a exibição do primeiro episódio da segunda temporada de "Pacificador", nosso editor Marlo George e este que vos escreve compartilhamos áudios sobre o andamento da série, criamos teorias e avaliamos as decisões que o diretor, roteirista, produtor executivo e co-CEO da DC Studios James Gunn está tomando em relação ao DCU. Começamos bem empolgados mas, com o passar dos episódios, os ânimos oscilavam entre "ah, agora vai" e "pô, James Gunn tá enrolando para contar essa história" - sempre apontando fatos que serviriam para absolvê-lo ou condená-lo naquela CPI imaginária.

A verdade é que, depois do escândalo que levou o "Cabeça Branca" a sair da Marvel Studios e ser cooptado para a Warner Bros. a peso de ouro, o trabalho do cultuado (e odiado) cineasta passou a ter uma inquestionável variação de qualidade. Desde "O Esquadrão Suicida" - que, lançado ainda durante a pandemia, teve recepção dividida por parte do público (nós desaprovamos!) -, passando por "Guardiôes da Galáxia Vol. 3", "Comando das Criaturas" e o filme "Superman" - que não foi minimamente lucrativo como alardearam na época e, novamente, teve recepção dividida (também detestamos!) -, nenhum produto audiovisual do "novo" DCU (que, curiosamente, carrega os mesmos vícios que eram praticados - e duramente criticados - no "antigo" DCU) está levando essas propriedades intelectuais ao tal "próximo movimento" de fato, parecendo mais soldados em compasso de espera pela nova ordem de seu comandante para atacar os flancos inimigos.


Na trama da segunda temporada, após os comandados de Amanda Waller terem salvo o mundo de uma invasão alienígena, o vigilante Pacificador até tenta entrar na super-equipe comandada por Maxwell Lord mas é rejeitado. Enquanto isso, o paramilitar Rick Flag Sr. se junta à organização secreta A.R.G.U.S. e parte numa caçada para encontrar Pacificador e se vingar pela morte de seu filho. Em fuga, Pacificador encontra um dispositivo que pode fazê-lo viajar para uma dimensão alternativa, encontrando uma vida do jeito que sempre quis, uma versão amorosa de seu pai e irmão mas... por que parece que tudo está perfeito demais para o aprendiz de super-herói?

Não podemos ser desonestos: Gunn teve uma senhora - embora manjada - ideia ao brincar com o já combalido conceito de multiverso e dimensões paralelas, conseguindo que esse pano de fundo servisse como veículo para falar, novamente, da relação pai e filho que o personagem Chris Smith / Pacificador tanto precisava para crescer enquanto ser humano. E também discutir temas como amizade, controle governamental sobre prisioneiros, relações interpessoais abaladas e até mesmo consequências do luto, tudo embrulhado num programa com personagens vestindo roupas coloridas, com armas extravagantes e portais que levam a mundos diferentes da vida real.


Tudo o que foi condensado no conturbado primeiro episódio encerrou se com um surpreendente (e emocionante) desfecho, garantindo uma promissora segunda temporada e criando um novo séquito de fãs internet afora. Mas James Gunn "do Novo Testamento" não desaponta e, quando não decepciona na entrada, o faz na saída, com estilo - pelo menos, nisso há uma coerência de sua parte...

Um tópico abordado constantemente na "CPI": oito episódios era muito para contar aquela história. Cortando tudo o que não se fazia de fato necessário à trama (que pode ser resumido na personagem Adebayo Waller, um estorvo narrativo desde a primeira temporada), poderia ser feito um filme ou quem sabe reduzir a meros quatro a cinco episódios. Mas o "plano" era manter o público cativo por mais oito semanas após o lançamento do filme do Homem de Aço, especulando, criando teorias e consumindo digitalmente os produtos relacionados à série. E, resumindo, Gunn parece o cara certo para ter as ideias mas não para executá-las. Tanto que os melhores episódios além do primeiro são justamente os que não tem Gunn na direção - destacam-se não somente pela ótima direção de coreografia de ação como maior fluidez narrativa (mérito de Greg Mottola, Peter Sollett e Althea Jones, que dividiram a direção com Gunn pois a segunda temporada foi filmada ao mesmo tempo que o filme do último kryptoniano).


Dentre as atuações, o destaque óbvio é de John Cena, muito mais à vontade ao reprisar o personagem - e, vale destacar, com um texto melhor para trabalhar, deixando de lado muitas das piadinhas para falar de assuntos mais sérios e maduros -, mostra-se que melhorou muito como ator e já pode ser chamado de veterano pelos colegas. Jennifer Holland (de "Brightburn" e diversos filmes DC)  também não decepciona como algo mais que o interesse romântico do protagonista mas o texto não lhe permite entregar muito mais que boas cenas de ação e algum material dramático.

O mesmo pode ser dito da performance entregue por Robert Patrick (eterno T-1000 de "O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final"), que interpreta uma versão "bondosa" de seu personagem na primeira temporada e também tem um texto muito mais rebuscado para mostrar que não é somente um coadjuvante de luxo e pode roubar a cena quando há oportunidade - o que nos remete ao improviso no final do primeiro episódio e ao discurso motivacional no sétimo episódio, encerrando magistralmente sua participação na produção (e também foi legal vê-lo dizer o bordão da clássica franquia que o deixou famoso).


Momentos emocionantes não faltaram nessa segunda temporada e a atriz Danielle Brooks (do recente "Um Filme Minecraft") - que interpretou a já citada Adebayo - entregou pelo menos dois, ainda que um deles um mero desvio de roteiro para justificar a principal reviravolta do último episódio. Entenda: a atriz é capaz mas sua personagem era um instrumento ambulante de exposição, servindo para deixar bem claro o que parte do público poderia não ter entendido (como, por exemplo, o funcionamento do artefato que abria os portais ou qual era sua real ideia de empreendimento de negócio).

Mas, mesmo que tenha sido peça fundamental para a principal virada de roteiro do episódio mais comentado - totalmente baseado no livro "O Homem do Castelo Alto", de Philip K. Dick (1928-1982) -, vale salientar que a atriz é a única afro-americana de destaque no elenco e diversidade não se instaura somente pela presença de afrodescendentes na produção mas, sim, se seus personagens tem real importância na trama (e não, dar a tal importância apenas no último episódio não configura diversidade mas, sim, preguiça).


O restante do elenco ou está correto ou beira a caricatura, como é o caso de Freddie Stroma (de "Bridgerton") e sua versão "Deadpoolizada" do personagem Vigilante - antes de falar que "adaptação é assim mesmo, dããããã" (e comer uma colheirada nojenta de cereal babujado), procure a minissérie "A Morte do Vigilante" e entenda porque tratá-lo praticamente como um adolescente hiper-violento com problemas com a mãe não é o melhor resultado em matéria de transposição para outra mídia. O ator entrega o que o roteiro e o diretor quer.

Infelizmente, usuários da internet que se identificam com aquele comportamento errático e desprezível o elegeram como "o melhor personagem". Isso se não contarmos o total desperdício do ator Tim Meadows (do clássico "Meninas Malvadas"), que virou uma piada repetitiva em todas suas aparições - e, o plot completamente descartável do personagem interpretado por Michael Rooker (o Yondu de "Guardiões da Galáxia"). Pois é. Já as participações especiais serviram mais para estabelecer conexões (forçadas) com o já citado filme "Superman" do que necessariamente para fazer a trama seguir adiante...

Sobre o polêmico último episódio, que abre margem para muitas especulações - e o próprio Gunn comentou bastante sobre isso AQUI e AQUI -, bem... Em vez de apenas encerrar o (último?) ciclo da série, preferiu-se apontar na direção do futuro do Universo Cinematográfico DC, pegando inspiração numa obscura minissérie em quadrinhos mas modificando sua origem e objetivos - como é costumeiramente feito em adaptações oriundas da nona arte.


Tudo em seu "movimento final" é altamente questionável, gerando um gancho que não é lá tão atraente assim e nem muito criativo. É como alguém que está cozinhando um galo para o almoço: vai demorar a ficar pronto e o resultado vai depender da fome de quem espera e do talento de quem prepara o prato. Mas, claro, faz tudo parte de um "plano maior"...

A segunda temporada de "Pacificador" tem qualidades técnicas aprimoradas em relação à primeira, traz uma nova playlist de clássicos obscuros (ou não) do hard rock e seus múltiplos subgêneros (o melhor "achado", de longe, foi "A Shot At Redemption", da banda H.E.A.T.) - que deve atrair somente a seguidores do estilo - mas entrega muito pouca evolução em relação àqueles personagens e ao próprio Universo Cinematográfico DC. Como resultado da apuração para a "CPI", declaramos James Gunn culpado de todas as acusações - com apresentação de provas incontáveis e não meras convicções.




Kal J. Moon já depenou e cozinhou um galo, gostaria de jogar James Gunn no Planeta Salvação e entrar pelos portais para procurar a versão do "Antigo Testamento" do celebrado cineasta...

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