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CRÍTICA [CINEMA] | "Superman" (2025), por Kal J. Moon

Escrito, produzido e dirigido por James Gunn, estrelado por nomes como David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, María Gabriela de Faría, Anthony Carrigan, Isabela Merced, Edi Gathegi, Nathan Fillion e Skyler Gisondo - dentre MUITOS outros, além de algumas participações especiais (tanto em cena quanto somente as vozes, inclusive confirmando algumas que eram somente rumores) -, “Superman” é um filme superlativo - para o bem e para o mal...


Olhe... para tudo quanto é canto
Algo que muitos fãs de histórias em quadrinhos detestam é o conceito de “universo de bolso”. Trata-se de quando autores resolvem reiniciar a cronologia sem considerar eventos canônicos ou importantes para os personagens ao longo de décadas a fim de torná-los mais atrativos para novos públicos. O problema não é resetar os personagens sob essas condições. O real empecilho para os fãs é que as mudanças não duram muito tempo e logo, logo, as coisas que não eram mais canônicas voltam a ser, como se nada tivesse acontecido. O mesmo pode-se dizer do “novo” universo cinematográfico DC, iniciado pela série animada “Comando das Criaturas” e seguido agora por esse novo filme “Superman”.

Na trama - livremente adaptando os personagens criados por  Jerry Siegel (1914-1996) & Joe Shuster (1914-1992) e que, estranhamente, não foi divulgada em NENHUM material promocional até agora -, Superman impede um conflito entre duas nações estrangeiras, causando um embaraço geopolítico para os Estados Unidos e gerando uma resposta direta de um super-ser que diz representar o tal país atacado (além de acabar abalando seu relacionamento amoroso com Lois Lane).


Com o vazamento de um comprometedor vídeo que diz respeito ao real motivo do Homem de Aço ter sido enviado ao planeta Terra, a desconfiança e desaprovação do povo de Metrópolis é notória, fazendo com que o governo dos Estados Unidos emita um mandado de prisão contra o super-herói - e tudo, claro, é um plano de Lex Luthor. Mas o que ele ganha com isso? E pior: que problemas podem acarretar a falta de Superman no mundo?

Desde o anúncio de que James Gunn (do recente "O Esquadrão Suicida" e da série "Pacificador") seria o diretor e consequentemente roteirista do filme, criou-se desconfiança a respeito de sua capacidade em contar uma boa história com o maior super-herói de todos os tempos. E parte dessa desconfiança se deve que o humor e “jeito Gunn” não parece combinar com Superman - talvez com a Liga da Justiça cômica, aquela com Gladiador Dourado, Besouro Azul, Flama Verde, Dama de Gelo, Soviete Supremo... Mas Superman?!

E embora o roteiro escrito por Gunn tenha alguns acertos, o resultado é inconsistente e inconstante em boa parte do tempo. Mas, vamos aos acertos... Superman já estar estabelecido e atuante - assim como outros super-seres - é um grande acerto. Ainda que tudo possa parecer mais com uma continuação de “Smallville” - tocaremos nesse assunto adiante -, é como, para quem nunca viu um gibi, filme ou série desses personagens, se o “universo de bolso” já estivesse em pleno funcionamento há algum tempo (300 anos, para ser mais exato).

Porém, mesmo com toda a osmose narrativa de que tudo “já tá por aí”, parte do roteiro teve de largar mão do “mostre, não conte” pois determinadas cenas exigiam justamente a tal explicação didática para quem não sabe qual é a origem do personagem principal ou suas motivações. É isso torna o filme bem acessível para audiências mais jovens (como crianças e adolescentes) mas um tanto enfadonho para públicos mais maduros.


(Por exemplo, a devoção dos assistentes de Lex Luthor, com torcida da parte de alguns quando alguns desastres acontecem às suas frentes, parece bem inumano - por mais que sejam pessoas muito bem pagas para executar seus trabalhos, causa bastante estranheza ver pessoas comemorando quando vê partes das cidades onde moram serem destruídas, por exemplo... Se fossem robôs sem sentimento, até faria algum sentido mas pessoas que não são terroristas ou integrantes de milícias?)

Desde discurso de vilão sobre seu plano maligno (praticamente uma atualização do que é mostrado nos filmes clássicos e em séries de TV) até verbalização das motivações do herói. Se o filme se assumisse totalmente infantil, até daria para entender. Mas a trama tenta discutir geopolítica como um adolescente que acabou de descobrir como o conflito armado no Oriente Médio é prejudicial às pessoas que moram onde há guerras - ou seja, de forma rasa e superficial.


E para quem reclamava da falta de importância dada às consequências por Superman nos filmes dirigidos por Zack Snyder, vale lembrar que tem cenas no novo filme em que o personagem desarma (com visão de calor) diversos dos asseclas HUMANOS de Luthor numa altura que provavelmente matou ou aleijou-os... Outra coisa: por que diabos todo e qualquer cidadão de Metrópolis não é afastado das redondezas quando acontece alguma catástrofe ou embate no centro da cidade? Tem um fucking kaiju sendo enfrentado por Superman e um monte de pessoas em volta olhando, sem correr do perigo iminente e nem retiradas do local pelas autoridades...

Todavia, duas cenas são bem emocionantes no filme (ambas no terço final): uma, que fala sobre a esperança de civis que sofrem nas guerras; e outra, a cena que encerra a trama (que, de certa forma, muda bastante da dinâmica de Superman em relação às suas origens - e ao som de uma canção com participação de Iggy POP).


(Detalhe: a maior reviravolta da trama saiu diretamente da série animada "Minhas Aventuras com o Superman")

Além disso, a gama de personagens em tela justamente para trazer essa sensação de novo universo totalmente funcional causa algumas distrações que não agregam tanto assim à trama. Tem uma cena específica com a participação da Gang da Justiça (o protótipo de uma futura Liga da Justiça) que poderia ser um telefonema ou chamada de vídeo. Com um ajuste de roteiro, o resultado seria o mesmo. Isso sem contar que a melhor piada do filme - sobre haterismo em redes sociais - foi "livremente inspirada" num trecho do livro "O Guia do Mochileiro das Galáxias" - que, por sua vez, foi surrupiada na fase escrita por Grant Morrison em "Homem-Animal".


(só pra ter uma ideia: tem uma cena, perto do final do terceiro ato, em que Perry White diz a Lois para irem a campo enquanto ela explica o grande plano do vilão e White chama Jimmy, a própria Lois, Steve Lombard e um outro que estava ali perto - sendo que esse último só aparece nessa cena, mesmo que a audiência não faça a menor ideia de quem seja e qual a sua importância na "missão")

E falando em distrações, Krypto é algo que está na tela por motivos comerciais - brinquedinhos para serem vendidos assim como Baby Groot também cumpriu essa missão ao final do primeiro “Guardiões da Galáxia”. Sim, ele salva a pátria em alguns momentos - um bem constrangedor - mas não traz muito à trama, abarrotada de distrações. Faltou alguns ajustes e, como filme, é um tanto esquizofrênico em matéria de “tom”.

(Mal comparando, é como se seguisse a toada de “Aquaman 2” e “The Flash” enquanto intenção e tom - ainda que esse novo filme “Superman” seja um pouquinho superior a esses dois filmes em matéria de qualidade de roteiro, mas só um pouquinho).

O filme tem alguns momentos de problema de edição - com duas cenas que se repetem -, além de uma trilha sonora inconstante (composta pela dupla David Fleming - da série "The Last of Us" - e John Murphy - de "Guardiões da Galáxia Vol. 3"), que ora acerta - principalmente no terço final - mas tropeça na maior parte do tempo, parecendo um tanto cafona e deslocada, como se estivesse com medo de ousar. A direção de fotografia de Henry Braham (do recente filme "Matador de Aluguel") é funcional, na medida do possível do caos visual proposto - mas nada marcante. 

Quanto ao elenco, a grande maioria está bem esforçada. David Corenswet (do recente filme "Twisters" e da série "Grandes Hits") entrega o que pode com o roteiro fornecido e não chega aos pés da melhor interpretação do personagem - Christopher Reeve, claro - mas também não decepciona - como Brandon Routh, claro. Não é uma performance hiper marcante entretanto também não compromete.

Rachel Brosnahan, (da série "Maravilhosa Sra. Maisel" e do recente filme "Operação Vingança") por sua vez, entrega uma Lois Lane que se assemelha bastante ao que Elizabeth Tulloch fez na série “Superman & Lois”. Está bem correta e é mais que uma “donzela indefesa” ou "interesse romântico" - mas é um erro dizer que as outras intérpretes da personagem tinham apenas essas facetas nos filmes ou séries. A tal cena em que Lois entrevista Superman (que, infelizmente, está em um dos trailers) é, talvez, a melhor dinâmica entre o protagonista e sua principal coadjuvante. Começa harmoniosa e segue para o conflito de personalidade. Ainda que bem escrito, tem alguns problemas de coesão no fim das contas - justamente por conta do que motiva a tal discussão.

Já o Lex Luthor interpretado por Nicholas Hoult (dos filmes "Jurado Nº 2" e "Nosferatu") é a versão 2.0 do que foi mostrado na já citada série de TV “Smallville” - magistralmente interpretado por Michael Rosembaum (que faz uma participação especial fazendo a voz de um dos capangas do Luthor no novo filme. Como dito anteriormente, é como se fosse a versão atualizada daquele personagem. Porém, o ator entrega uma performance convincente - ainda que o personagem não seja lá muito bem desenvolvido.

Tem também a Engenheira (interpretada por María Gabriela de Faría, do filme "Exorcismo Sagrado" e da série "Deadly Class"), que é só uma super-capanga de Luthor - e espécie de "devota" da "causa" anti-heroística do vilão. Mas só. É outra personagem rasa com grandes poderes e visual, mas utilizada apenas como ferramenta para um fim específico em vez de algum conflito razoavelmente plausível...

O restante do numeroso elenco está bem e entrega o minimamente necessário em favor do entretenimento. Mas o grande destaque vai para Edi Gathegi, (de filmes como "X-Men: Primeira Classe" e "Vingança & Castigo") que interpreta o Sr. Incrível. O personagem não só tem as melhores cenas de ação como é o melhor escrito e desenvolvido em cena - que fez com que o ator entregasse uma performance digna de nota, com diversas sutilezas em seu comportamento frio e calculista (uma vez que é muito inteligente para se importar com determinadas coisas mundanas - e o contraste está justamente nesse conflito).

Anthony Corrigan (da série "Barry") também representa bem com sua versão do anti-herói Metamorfo - pena que tem pouquíssimo tempo de tela... E é bem estranha aS mudançaS feita no personagem Jimmy Olsen (interpretado por Skyler Gisondo, da série "The Righteous Gemstones") - que acaba reverberando de forma significativa - e importante na trama - para a personagem Eve Teschmacher (interpretada por Sara Sampaio, da série "Billions"). Nathan Fillion (da finada série "Recruta") não faz feio como o Lanterna Verde Guy Gardner (apesar de aparecer comendo sucrilhos com um copo de leite - tem hora que parece que Gunn faz esse tipo de coisa só para irritar...) mas é só mais um personagem - ao lado da Mulher-Gavião, interpretada por Isabela Merced (de "Madame Teia") - para mostrar que Superman não pode estar em todos os lugares (pelo menos, os efeitos dos poderes do Lanterna Verde esquentadinho são bem convincentes - ainda que não pareça com construtos de luz mas algo como textura de vidro fosforescente).


(Um detalhe técnico da versão legendada em português: o personagem Mr. Terrific teve seu nome traduzido como "Senhor Incrível", certo? Então, por que cargas d'água as armas que ele usa foram traduzidas como "esferas-T" e não "esferas-I"?)

Como segundo pontapé no aguardado tal “novo” universo cinematográfico, é só um mais do mesmo com alguns (poucos) ingredientes diferentes. É um filme “bobinho” e nada memorável, que pode agradar audiências mais jovens - ou menos exigentes. Não é maravilhoso porém também não é detestável. Talvez, no fim das contas, esse seja seu maior acerto. Dá pra ver - mas, talvez, num dia de promoção nos cinemas (ou, quem sabe, no conforto do lar).


Kal J. Moon quase sempre é incompreendido, não sabe assobiar bem e ninguém acreditava quando ele dizia ser "punk"...

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