Escrito, produzido e dirigido por James Gunn, estrelado por nomes como David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, María Gabriela de Faría, Anthony Carrigan, Isabela Merced, Edi Gathegi, Nathan Fillion e Skyler Gisondo - dentre MUITOS outros, além de algumas participações especiais (tanto em cena quanto somente as vozes, inclusive confirmando algumas que eram somente rumores) -, “Superman” é um filme superlativo - para o bem e para o mal...
Algo que muitos fãs de histórias em quadrinhos detestam é o conceito de “universo de bolso”. Trata-se de quando autores resolvem reiniciar a cronologia sem considerar eventos canônicos ou importantes para os personagens ao longo de décadas a fim de torná-los mais atrativos para novos públicos. O problema não é resetar os personagens sob essas condições. O real empecilho para os fãs é que as mudanças não duram muito tempo e logo, logo, as coisas que não eram mais canônicas voltam a ser, como se nada tivesse acontecido. O mesmo pode-se dizer do “novo” universo cinematográfico DC, iniciado pela série animada “Comando das Criaturas” e seguido agora por esse novo filme “Superman”.
Na trama - livremente adaptando os personagens criados por Jerry Siegel (1914-1996) & Joe Shuster (1914-1992) e que, estranhamente, não foi divulgada em NENHUM material promocional até agora -, Superman impede um conflito entre duas nações estrangeiras, causando um embaraço geopolítico para os Estados Unidos e gerando uma resposta direta de um super-ser que diz representar o tal país atacado (além de acabar abalando seu relacionamento amoroso com Lois Lane).
Com o vazamento de um comprometedor vídeo que diz respeito ao real motivo do Homem de Aço ter sido enviado ao planeta Terra, a desconfiança e desaprovação do povo de Metrópolis é notória, fazendo com que o governo dos Estados Unidos emita um mandado de prisão contra o super-herói - e tudo, claro, é um plano de Lex Luthor. Mas o que ele ganha com isso? E pior: que problemas podem acarretar a falta de Superman no mundo?
Desde o anúncio de que James Gunn (do recente "O Esquadrão Suicida" e da série "Pacificador") seria o diretor e consequentemente roteirista do filme, criou-se desconfiança a respeito de sua capacidade em contar uma boa história com o maior super-herói de todos os tempos. E parte dessa desconfiança se deve que o humor e “jeito Gunn” não parece combinar com Superman - talvez com a Liga da Justiça cômica, aquela com Gladiador Dourado, Besouro Azul, Flama Verde, Dama de Gelo, Soviete Supremo... Mas Superman?!
E embora o roteiro escrito por Gunn tenha alguns acertos, o resultado é inconsistente e inconstante em boa parte do tempo. Mas, vamos aos acertos... Superman já estar estabelecido e atuante - assim como outros super-seres - é um grande acerto. Ainda que tudo possa parecer mais com uma continuação de “Smallville” - tocaremos nesse assunto adiante -, é como, para quem nunca viu um gibi, filme ou série desses personagens, se o “universo de bolso” já estivesse em pleno funcionamento há algum tempo (300 anos, para ser mais exato).
Porém, mesmo com toda a osmose narrativa de que tudo “já tá por aí”, parte do roteiro teve de largar mão do “mostre, não conte” pois determinadas cenas exigiam justamente a tal explicação didática para quem não sabe qual é a origem do personagem principal ou suas motivações. É isso torna o filme bem acessível para audiências mais jovens (como crianças e adolescentes) mas um tanto enfadonho para públicos mais maduros.
Desde discurso de vilão sobre seu plano maligno (praticamente uma atualização do que é mostrado nos filmes clássicos e em séries de TV) até verbalização das motivações do herói. Se o filme se assumisse totalmente infantil, até daria para entender. Mas a trama tenta discutir geopolítica como um adolescente que acabou de descobrir como o conflito armado no Oriente Médio é prejudicial às pessoas que moram onde há guerras - ou seja, de forma rasa e superficial.
E para quem reclamava da falta de importância dada às consequências por Superman nos filmes dirigidos por Zack Snyder, vale lembrar que tem cenas no novo filme em que o personagem desarma (com visão de calor) diversos dos asseclas HUMANOS de Luthor numa altura que provavelmente matou ou aleijou-os... Outra coisa: por que diabos todo e qualquer cidadão de Metrópolis não é afastado das redondezas quando acontece alguma catástrofe ou embate no centro da cidade? Tem um fucking kaiju sendo enfrentado por Superman e um monte de pessoas em volta olhando, sem correr do perigo iminente e nem retiradas do local pelas autoridades...
(Detalhe: a maior reviravolta da trama saiu diretamente da série animada "Minhas Aventuras com o Superman")
Além disso, a gama de personagens em tela justamente para trazer essa sensação de novo universo totalmente funcional causa algumas distrações que não agregam tanto assim à trama. Tem uma cena específica com a participação da Gang da Justiça (o protótipo de uma futura Liga da Justiça) que poderia ser um telefonema ou chamada de vídeo. Com um ajuste de roteiro, o resultado seria o mesmo. Isso sem contar que a melhor piada do filme - sobre haterismo em redes sociais - foi "livremente inspirada" num trecho do livro "O Guia do Mochileiro das Galáxias" - que, por sua vez, foi surrupiada na fase escrita por Grant Morrison em "Homem-Animal".
E falando em distrações, Krypto é algo que está na tela por motivos comerciais - brinquedinhos para serem vendidos assim como Baby Groot também cumpriu essa missão ao final do primeiro “Guardiões da Galáxia”. Sim, ele salva a pátria em alguns momentos - um bem constrangedor - mas não traz muito à trama, abarrotada de distrações. Faltou alguns ajustes e, como filme, é um tanto esquizofrênico em matéria de “tom”.
(Mal comparando, é como se seguisse a toada de “Aquaman 2” e “The Flash” enquanto intenção e tom - ainda que esse novo filme “Superman” seja um pouquinho superior a esses dois filmes em matéria de qualidade de roteiro, mas só um pouquinho).
O filme tem alguns momentos de problema de edição - com duas cenas que se repetem -, além de uma trilha sonora inconstante (composta pela dupla David Fleming - da série "The Last of Us" - e John Murphy - de "Guardiões da Galáxia Vol. 3"), que ora acerta - principalmente no terço final - mas tropeça na maior parte do tempo, parecendo um tanto cafona e deslocada, como se estivesse com medo de ousar. A direção de fotografia de Henry Braham (do recente filme "Matador de Aluguel") é funcional, na medida do possível do caos visual proposto - mas nada marcante.
Quanto ao elenco, a grande maioria está bem esforçada. David Corenswet (do recente filme "Twisters" e da série "Grandes Hits") entrega o que pode com o roteiro fornecido e não chega aos pés da melhor interpretação do personagem - Christopher Reeve, claro - mas também não decepciona - como Brandon Routh, claro. Não é uma performance hiper marcante entretanto também não compromete.
Rachel Brosnahan, (da série "Maravilhosa Sra. Maisel" e do recente filme "Operação Vingança") por sua vez, entrega uma Lois Lane que se assemelha bastante ao que Elizabeth Tulloch fez na série “Superman & Lois”. Está bem correta e é mais que uma “donzela indefesa” ou "interesse romântico" - mas é um erro dizer que as outras intérpretes da personagem tinham apenas essas facetas nos filmes ou séries. A tal cena em que Lois entrevista Superman (que, infelizmente, está em um dos trailers) é, talvez, a melhor dinâmica entre o protagonista e sua principal coadjuvante. Começa harmoniosa e segue para o conflito de personalidade. Ainda que bem escrito, tem alguns problemas de coesão no fim das contas - justamente por conta do que motiva a tal discussão.
Já o Lex Luthor interpretado por Nicholas Hoult (dos filmes "Jurado Nº 2" e "Nosferatu") é a versão 2.0 do que foi mostrado na já citada série de TV “Smallville” - magistralmente interpretado por Michael Rosembaum (que faz uma participação especial fazendo a voz de um dos capangas do Luthor no novo filme. Como dito anteriormente, é como se fosse a versão atualizada daquele personagem. Porém, o ator entrega uma performance convincente - ainda que o personagem não seja lá muito bem desenvolvido.
Tem também a Engenheira (interpretada por María Gabriela de Faría, do filme "Exorcismo Sagrado" e da série "Deadly Class"), que é só uma super-capanga de Luthor - e espécie de "devota" da "causa" anti-heroística do vilão. Mas só. É outra personagem rasa com grandes poderes e visual, mas utilizada apenas como ferramenta para um fim específico em vez de algum conflito razoavelmente plausível...
O restante do numeroso elenco está bem e entrega o minimamente necessário em favor do entretenimento. Mas o grande destaque vai para Edi Gathegi, (de filmes como "X-Men: Primeira Classe" e "Vingança & Castigo") que interpreta o Sr. Incrível. O personagem não só tem as melhores cenas de ação como é o melhor escrito e desenvolvido em cena - que fez com que o ator entregasse uma performance digna de nota, com diversas sutilezas em seu comportamento frio e calculista (uma vez que é muito inteligente para se importar com determinadas coisas mundanas - e o contraste está justamente nesse conflito).
Anthony Corrigan (da série "Barry") também representa bem com sua versão do anti-herói Metamorfo - pena que tem pouquíssimo tempo de tela... E é bem estranha aS mudançaS feita no personagem Jimmy Olsen (interpretado por Skyler Gisondo, da série "The Righteous Gemstones") - que acaba reverberando de forma significativa - e importante na trama - para a personagem Eve Teschmacher (interpretada por Sara Sampaio, da série "Billions"). Nathan Fillion (da finada série "Recruta") não faz feio como o Lanterna Verde Guy Gardner (apesar de aparecer comendo sucrilhos com um copo de leite - tem hora que parece que Gunn faz esse tipo de coisa só para irritar...) mas é só mais um personagem - ao lado da Mulher-Gavião, interpretada por Isabela Merced (de "Madame Teia") - para mostrar que Superman não pode estar em todos os lugares (pelo menos, os efeitos dos poderes do Lanterna Verde esquentadinho são bem convincentes - ainda que não pareça com construtos de luz mas algo como textura de vidro fosforescente).(Um detalhe técnico da versão legendada em português: o personagem Mr. Terrific teve seu nome traduzido como "Senhor Incrível", certo? Então, por que cargas d'água as armas que ele usa foram traduzidas como "esferas-T" e não "esferas-I"?)
Como segundo pontapé no aguardado tal “novo” universo cinematográfico, é só um mais do mesmo com alguns (poucos) ingredientes diferentes. É um filme “bobinho” e nada memorável, que pode agradar audiências mais jovens - ou menos exigentes. Não é maravilhoso porém também não é detestável. Talvez, no fim das contas, esse seja seu maior acerto. Dá pra ver - mas, talvez, num dia de promoção nos cinemas (ou, quem sabe, no conforto do lar).
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