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CRÍTICA [STREAMING] | "Stranger Things" (5ª Temporada - Volume 2), por Marlo George

A segunda leva de episódios da temporada final de "Stranger Things" revela um descompasso rítmico preocupante que compromete o momentum dramático construído anteriormente. A estrutura narrativa deste volume expõe uma fragilidade no roteiro, operando quase inteiramente como um "episódio de transição" dilatado em três horas de conteúdo. Do ponto de vista técnico, o uso excessivo de subtramas de baixa voltagem dramática dilui a urgência apocalíptica que a série exigia nesta reta final. Em vez de avançar com o lore ou aprofundar a mitologia do Mundo Invertido, os episódios se perdem em uma progressão estagnada onde o conflito central parece em pausa, resultando em uma experiência que, apesar de tecnicamente polida na fotografia e no design de som, carece de substância e densidade temática.

A maior falha estrutural destes episódios reside na utilização de diálogos puramente expositivos para resolver arcos de personagens que já haviam alcançado sua maturação emocional. O exemplo mais latente é a polêmica sequência envolvendo Will Byers (Noah Schnapp, abaixo); ao optar por um monólogo didático sobre sua sexualidade, o roteiro ignora a regra fundamental do show, don't tell (mostre, não conte). Uma vez que o subtexto já havia sido explorado sutilmente no Volume 1 — leia nossa crítica neste link —, a decisão de explicitar o óbvio através de um discurso verborrágico soa redundante e artificial. 


Essa escolha subestima a inteligência do espectador e quebra a imersão diegética, transformando o que deveria ser um momento de catarse em uma peça de roteiro funcionalista. E assim sendo, mais uma vez, essa exposição terá, certamente, um propósito tático: preparar o terreno para que a vulnerabilidade emocional de Will se converta, no final, em uma arma contra a mente coletiva do Mundo Invertido, fechando o ciclo iniciado na primeira temporada. Seria genial, se esta já não fosse a conclusão do Volume 1 desta mesma quinta temporada.

No que diz respeito ao ritmo das cenas de ação, nota-se que, embora visualmente impressionantes e executadas com o alto padrão de efeitos visuais (VFX) da Netflix, elas carecem de peso dramático real, pois ocorrem em um vácuo de consequências. A direção opta por espetáculos pirotécnicos que funcionam como distrações para uma trama essencialmente vazia, onde os riscos parecem mitigados por diálogos pueris. 


Curiosamente, em meio a um elenco veterano que parece operar no piloto automático, a única força motriz capaz de ancorar a atenção é a jovem Nell Fisher (acima). Interpretando Holly Wheeler, a atriz mirim demonstra um domínio cênico impressionante, utilizando microexpressões que conferem à sua personagem uma relevância inesperada. Sua atuação orgânica sugere que Holly pode ser a "âncora" de esperança ou o elemento surpresa necessário para forçar os protagonistas a decisões extremas no clímax.

Este volume falha em sua missão de preparar o terreno para o épico final agendado para o dia 31 de dezembro, às 22 horas. A escolha de lançar esses episódios como um "meio de caminho" revelou-se um erro de cadência, pois o clima de urgência foi substituído por uma sensação de cansaço narrativo e falta de revelações significativas sobre a trama. O problema do lore vazio cria uma pressão imensa sobre o episódio final, que precisará converter essa estagnação em uma aceleração súbita para explicar a natureza definitiva do mal em Hawkins. Para que a série recupere sua dignidade narrativa, o desfecho terá de abandonar os diálogos bobos e retornar ao terror sombrio, possivelmente culminando em um sacrifício heroico que dê sentido ao tempo de tela desperdiçado nestes capítulos de Natal.

Resta agora observar se o capítulo final conseguirá corrigir o curso dessa trajetória errante ou se recorrerá a soluções convenientes e sem base lógica para encerrar o fenômeno cultural.


Marlo George assistiu, escreve e... [ALERTA DE PIADA INTERNA] quer saber o que diabos é "Strogonoff Simone"?

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