Roteiro: Brian K. Vaughan
Arte: Tony Harry
Arte-final: Tony Harry (com Jim Clark)
Cores: JD Metler
Ed. Panini Comics | R$ 21,50 | 172 págs. | Vertigo |
(Desaconselhável para menores de 18 anos)
Trecho:
"Finais felizes são uma mentira. Só existem certos períodos felizes. Se você acompanhar qualquer história até o fim, sempre vai encontrar a mesma coisa. Remorso. Dor. Perda. É por isso que gosto das revistas de super-heróis. Mês após mês, eles seguem em frente. Não importa quantas coisas terríveis possam acontecer, sempre existe uma chance para consertar o que está errado. Na falta de um último ato, essas histórias não tem como virar tragédias. Talvez por isso também as chamem de comics. Mas no mundo real não existem batalhas sem fim, certo? Cedo ou tarde, alguém ganha. E TODOS OS OUTROS PERDEM." (Mitchel Hundred)
Resenha: Acompanho essa história em quadrinhos desde 2005, quando foi publicada pela primeira vez no Brasil. O traço hipnótico, realista e, ao mesmo tempo, estilizado de Tony Harris me atraíram instantaneamente. E a história do primeiro arco - adequadamente intitulado "Estado de Emergência" - era boa demais para não acompanhar de quando em vez. Afinal, eu não precisaria comprar todo mês para saber como seriam as próximas desventuras no gabinete do ex-super-herói-agora-prefeito de Nova York. Seria como acompanhar uma temporada de seriados feitos pela BBC, autocentrados mas que formavam um arco maior e mais abrangente de histórias.
Quando saíram os arcos seguintes, confesso que fiquei um tanto insatisfeito. Primeiramente porque a arte oscilava demais. Eu não havia percebido que muitos personagens pareciam um tanto vesgos - pode reparar - e muitas páginas, finalizadas pelo próprio Tony Harris, mesmo que baseadas em fotografias (ele usava amigos para posarem como alguns personagens, como explicam os extras da primeira edição), podem ter sido feitas com muita pressa e sem o mesmo cuidado dispensado no primeiro arco. Como a revista saía mensalmente nos EUA, imagino que, após o estrondoso sucesso do primeiro arco, as coisas se complicaram pro artista. Desenhar os mesmos personagens por anos a fio (quase uma década!) não deve ser tão divertido quanto parece... O texto também parecia um tanto cansado neste sentido. Mesmo que ainda me divertia ver os embates políticos de Mitch com seu vice-prefeito, num caldeirão de referências que iam de seriados de TV a fatos históricos completamente embasados, ao final da leitura vinha aquele sentimento comum de que, talvez, o próximo arco pudesse melhorar.
Sabe quando acompanhamos uma história por causa dos personagens e não exatamente por conta da trama? Quantas vezes não fizemos isso com Lost, [H]ouse ou mesmo Arquivo X? Pois é. Ex-Machina me trazia este tipo de desconforto. Mas, apesar de tudo, eu ainda estava curioso por conta do motivo de que 2005 era amaldiçoado pro personagem e o que ele havia feito de tão misterioso para ter ganho a eleição. Embora eu não tenha concordado com nenhuma das soluções absurdas propostas e efetuadas pelo autor Brian K. Vaughan (que já trabalhou nos gibis dos X-Men e no seriado Lost), tenho a ligeira sensação de que ele não queria terminar a saga de forma óbvia.
Mesmo que ele tenha ganho o prêmio Eisner (considerado o Oscar dos quadrinhos mundiais) pelo primeiro arco, isso não o credencia quando o assunto é terminar de forma satisfatória uma história. O que me interessava na série era o quão "pé no chão" poderia ser e que me fazia gostar de ler sobre política (e entender!) sem que isso fosse algo tedioso. Mas a trama se distanciava disso desde o terceiro e quarto arco, trazendo a fantasia comum dos quadrinhos, supostamente ambientada num mundo próximo do real, suspendendo sua crença, a cada arco, de que tudo ali poderia realmente acontecer...
O desfecho forçado de muitos personagens do consolidado elenco de apoio foi uma das decisões mais desafortunadas que já vi numa série desse porte. Não foi à toa que ele trabalhou em Lost. Aqui, ele se perdeu também... O final da série - que é uma espécie de recomeço - não redime ninguém e nos traz o amargor de ter visto algo que poderia ser precioso aos olhos de admiradores de boas histórias - sejam elas em quadrinhos ou não - tornar-se apenas mais uma grande perda de tempo.
Que pena. Ficam os ótimos diálogos, referências improváveis, personagens formidáveis e uma saudade como se alguém muito próximo tivesse partido recentemente. E nada preencherá o vazio pois não me deixarei enganar novamente...
No final, Kal J. Moon matou TODO MUNDO e tornou-se presidente DO MUNDO! E MORTE AOS INFIÉIS!!!
Trilha Sonora: "I'd Rather Go Blind" (Etta James)
3 Comentários
Nunca tinha ouvido falar e adorei o texto que você postou, tipo é vdd
ResponderExcluirhttp://ladydarkangel13.blogspot.com.br/
Gostei muito e até me fez repensar em comprar as edições de luxo capa dura. Para mim a arte nos quadrinhos é fundamental uma ruim ou apenas que não me agrada me atrapalha muito na leitura. Não é um livro, é acima de tudo arte de quadrinhos.
ResponderExcluirSó uma consideração a mais. Não acho que o fato do tempo do artista numa publicação possa interferir na qualidade de sua arte. Existem muitos exemplos. Vou citar apenas a arte do Mark Buckingham em Fábulas.
Fala, John. Então, como eu já trabalhei por anos fazendo histórias em quadrinhos (no Brasil e no exterior), num ritmo insano e literalmente fabril de trabalho, posso dizer que, sim, o tempo de um artista trabalhando num título apenas pode "engessá-lo" artisticamente falando. E em "Ex-Machina" isso fica bem claro quando os prazos de Tony Harris estoura e tem que se colocar outro artista "convidado" para fazer algumas histórias "avulsas" (aquela encheção de linguiça básica que tem em qq título mais longevo). Quando Harris retorna após o término do da participação do artista convidado, a própria arte reflete o enorme cansaço do artista em relação ao texto e à temática do quadrinho. Pode ser que ele não estivesse estimulado como no primeiro arco? Pode. Mas também pode ser o desânimo de uma série que provavelmente se estendeu por mais tempo do que deveria. Mas nunca saberemos ao certo... (KJM)
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