Atenção! O Rogério Saladino é o de camisa preta!

1. Você foi o editor da antiga Dragon Magazine no Brasil. Como foi a experiência e como você chegou ao cargo?

Rogerio Saladino: Na verdade, foi uma história engraçada. Eu trabalhava numa assessoria de imprensa, e uma colega minha era amiga de um editor na Abril que estava desesperado porque ele tinha que editar uma revista de RPG (a Dragon Magazine), que estava programada, e não entendia absolutamente nada do assunto. Essa colega comentou com o amigo dela que me conhecia, e que eu “sabia tudo desse tal de RPG”, e me indicou para ser entrevistado com esse editor. Na época, eu comprava os exemplares da Dragon Magazine que conseguia encontrar, e devorava a revista. Na entrevista, o editor (Marcelo Alencar) gostou de mim e ficou imensamente feliz de saber que eu conhecia a revista que a Abril ia publicar, e me contratou como responsável por ela. Eu aprendi muito sobre como ser um editor nessa época. O Marcelo Alencar é um tremendo profissional (hoje ele faz parte da comissão responsável pelo HQ Mix, entre outras coisas) e eu sou muito grato a ele.

2.Depois disso você foi parar na Dragão Brasil, revista responsável por ter erguido o publico do RPG por um bom tempo, e por ter criado franquias duradouras e de sucesso. Como é a sensação de ter participado desse momento único do RPG nacional?
RgS: O engraçado é que, ainda trabalhando na Dragon Magazine, eu conheci o Marcelo Cassaro, que já era o responsável pela Dragão Brasil. Nunca fui muito naquelas de criar uma rivalidade com revistas concorrentes, e o Cassaro conhecia o pessoal da redação da Abril, e eles me apresentaram a ele. Conversamos e um já gostava bastante do trabalho do outro, então a relação era de respeito e amizade. Quando eu saí da Abril, o Cassaro me convidou pra trabalhar com ele, o que eu aceitei na hora. Eu tenho muito orgulho de ter participado desse época, onde eu trabalhei com profissionais incríveis, onde podemos desenvolver uma linha editorial, um estilo de revista próprio, que tem (até hoje) um verdadeiro exército de fãs, e o mais legal de tudo, é que acabamos não apenas tendo fãs, mas criando amigos, uma comunidade de jogadores de RPG que não se sentiam sozinhos, desamparados, que tinham na revista um amigo que também jogava RPG e falava do assunto. Acho que a sensação de ter trocentos amigos espalhados pelo Brasil inteiro é uma das melhores sensações que eu guardo dessa época.
3.Hoje a franquia mais famosa derivada da Dragão Brasil, o cenário multimídia Tormenta,  está nas mãos (muito competentes) de uma outra equipe. Você ainda participa do processo de criação e desenvolvimento do cenário?
RgS: Sim, claro! Nós decidimos tudo referente a Tormenta juntos, se não em reuniões, por e-mail ou mensagens. O pessoal da Jambô, em especial o Guilherme e o Rafael são totalmente corretos e profissionais, certamente a melhor editora com quem trabalhamos. Nada é feito sem consultar a gente, e nós temos sempre a liberdade de sugerir, falar, opinar e vetar o que achamos melhor. O respeito e a consideração que a equipe Jambô tem com a gente tem que ser sempre lembrado e elogiado.
4) Como foi a formação da tríade (Cassaro/Trevisan/Saladino) e a origem da Dragão Brasil?
RgS: O Cassaro começou a revista sozinho, e pouco tempo depois, o Trevisan foi conversar com ele, mostrando um fanzine que ele fazia com o desenhista Evandro Gregório (agora conhecido no mercado internacional como Greg Tochinni). O Cassaro gostou dos textos e do fanzine, e viu que o cara tinha potencial e começou a pedir matérias, artigos e parecidos para o Trevisan. Em pouco tempo, o Trevisan já parte da equipe mais constante da DB. Um pouco depois, acho que um ano ou mais ou menos isso, eu saí da Dragon Magazine e fui convidado pelo Cassaro pra fazer parte da equipe. Os que mais escreviam e com mais constância (e faziam outras funções da revista) eram nós três, então acabou meio que ficando “o Trio”.
 5) Dos projetos de quadrinhos derivados dos artigos da DB, qual a sua preferida?
RgS: É impossível deixar de falar de Holy Avenger, um projeto nacional que chegou a marcas históricas no quadrinho brasileiro, e que é um dos projetos que até hoje ainda é lembrado com muito carinho por muitos fãs, não apenas os de RPG, mas os de quadrinhos, de mangás e outros. É uma obra que vai ficar por muito tempo ainda, acredito eu.
6) Existe alguma possibilidade de vermos o Katabrok novamente em alguma outra forma além dos livros de Tormenta? Quadrinhos talvez?
RgS: Na verdade tem, sim. O problema principal sou eu, que não tenho tido lá muito tempo pra escrever alguma coisa. O pessoal da Jambô está aberto pra qualquer coisa desse tipo. Na verdade, eles já me cobraram mais de uma vez algum projeto meu com o Katabrok, eu é que ando muito sem tempo livre pra fazer algo decente envolvendo o personagem. Mas quem quiser matar saudades dele, eu recomendo ficar atento ao jogo Desafio dos Deuses, o primeiro jogo de computador de Tormenta, que será lançado em breve, que terá uma surpresa envolvendo o personagem mais atrapalhado de Arton.
 7) Hoje você é o editor de títulos de peso como X-Men e Homem-Aranha. Como foi que chegou a esse posto e como é trabalhar com personagens tão famosos e queridos?
RgS: A editora Mythos estava contratando gente para trabalhar na redação de super-heróis para a Panini, a quantidade de títulos da Marvel e da DC tinha aumentado e os editores que já trabalhavam com as revistas estavam sobrecarregados. Eu fiz os testes e participei do processo de seleção que eles fizeram para selecionar os candidatos, e passei. Comecei trabalhando como editor assistente, ajudando o pessoal a editar as outras revistas, e aprendendo como é a rotina da coisa, os procedimentos e tudo que envolve a edição de uma revista americana para sua versão nacional. Basicamente, eu fui treinado pra ser editor, e quando a Panini foi aumentando a quantidade de revistas, eu fui designado como editor de alguns títulos. Como eu já tinha alguma experiência em editar revistas, me foi passado títulos considerados mais queridos, com um público mais exigente. Afinal, eu já tinha trabalhado com um público tão exigente quanto.
8) Qual a sua visão sobre o mercado de quadrinhos e RPG atualmente?
Eu estou meio afastado um pouco, com contatos esporádicos e um tanto distantes, mas não consigo ficar totalmente de fora… afinal, ainda é o meu hobby favorito e tudo mais.
Na minha opinião, o mercado hoje me parece bem maduro. Temos muito poucos “booms” momentâneos ou modas passageiras, mas temos uma certa estabilidade de produção. Editoras se fixaram com suas linhas e produtos sólidos, e temos uma boa quantidade de editoras independentes, com lançamentos alternativos e muitos projetos pessoais. Quando um mercado tem várias editoras independentes, é uma bela indicação que temos uma produção nacional inteligente e original, o que é ótimo para dar uma identidade ao RPG brasileiro.
O RPG ainda não é o hobby mais conhecido do grande público no Brasil, mas eu acredito, que mesmo todos os problemas que as editoras enfrentam pra publicar seus lançamentos, estamos numa fase onde temos todo o potencial de crescermos de maneira muito sólida, de fincar as bases para tornar o RPG uma área forte e conhecida dentro da cultura nerd.
Evidente que ainda tem muita coisa a se melhorar, mas acho que estamos no caminho certo, e quem estiver disposto a trabalhar direito e com dedicação vai conseguir bons resultados.
9)O que podemos esperar da Panini em termos de quadrinhos para essas franquias que você tem trabalhado? Pode liberar algum spoiler sobre lançamentos futuros que serão feitos pela editora?
RgS: Bom, agora em julho começará Batalha do Átomo, o evento mutante do ano, que vai sair inteiro da revista X-Men, onde vai mudar muita coisa para os X-Men, e colocar bases para tudo que vai acontecer com os heróis mutantes nos próximos meses. É roteiro do Brian M. Bendis, um escritor excelente, que revitalizou os Vingadores e que promete fazer o mesmo com os X-Men. Teremos ainda mais uma Coleção Histórica Marvel, desta vez dos Vingadores, também em quatro edições e com caixa. E ainda mais outras novidades que eu não posso revelar, mas que vai deixar muito leitor beeeem feliz.
10) Existe algum projeto autoral seu no momento? Seja em quadrinhos ou RPG?
RgS: Na verdade, tem sim. Mas como eles (sim, são mais de um) estão ainda bem no começo, eu quero esperar um pouquinho mais para falar alguma coisa, ainda mais que alguns podem demorar um pouco pra saírem. Eu estou devendo algumas coisas de RPG para a Jambô, que eu prometo escrever já uns dois ou três anos. E ainda estou organizando alguns textos meus, para fazer um livro de contos de terror (uma das minhas grandes paixões), mas é uma coisa beeeem devagar, que eu faço no meu eventual tempo livre.
11) Uma pergunta de fã, agora. Existe alguma possibilidade da Panini lançar as revistas de Star Wars no Brasil?
RgS: Pergunta curiosa… não é muito da minha área, mas o que eu posso dizer é que os fãs podem esperar novidades de quadrinhos de Star Wars pela Panini ainda este ano.
12) O publico tanto dos quadrinhos quanto do RPG é muito exigente. Enquanto uns adoram o trabalho feito, outros criticam muito. Esse é o caso da Panini em fóruns e grupos na internet. O que você tem a dizer ao publico em geral sobre o trabalho da Editora Panini com quadrinhos no Brasil?
RgS: Eu tento, na medida do possível, ter contato com o povo que comenta em fóruns, grupos e sites, pra conhecer a opinião dos leitores. Infelizmente, não tenho muito tempo livre e conhecer, ler e responder pra todo mundo é quase impossível... Mas faço o que posso. Meu perfil do Facebook é público, e tento ser o mais acessível possível.
A gente aqui trabalha feito doidos pra deixar as revistas da melhor forma para o leitor, em todas as etapas da produção editorial, com tudo que está ao nosso alcance. Ouvimos os pedidos e reclamações, e repassamos para as cabeças que decidem, insistindo e brigando em alguns pontos quando nos é permitido. Nós também somos fãs de quadrinhos, também gostamos dos personagens, das histórias clássicas e antigas e o que nos faz feliz é ver um bom produto nas bancas, que vai agradar os leitores.
Uma das coisas que me dá mais prazer neste trabalho é quando eu vejo alguém lendo (no ônibus, metrô, em livrarias ou na rua) uma revista que eu editei. Espero continuar vendo isso por um bom tempo ainda!
Desde já agradeço e parabenizo todo o seu trabalho e carreira! Principalmente os fases como editor da Dragon MAgazine, da qual eu era um grande fã, e da atual fase com os quadrinhos Marvel!
Jorge Caffé