Um dos hypes mais delicados que Hollywood ainda sustenta é o das adaptações literárias destinadas a um público mais jovem.

Se por um lado temos um livro fenômeno de vendas em que seria burrice não criar um produto relacionado em outra mídia para repetir o êxito de arrecadação, por outro lado temos, na grande maioria dos casos, textos sem a profundidade necessária para dar vida a esses personagens na telona.Principalmente quando se trata de histórias românticas - tendo vitoriosas exceções como "A Culpa É das Estrelas".

Só existem duas soluções possíveis neste caso. Ou adapta-se de forma muito fiel ao livro original - criando uma obra medíocre dramaticamente falando mas agradando aos fãs - ou tem-se a ousadia de mudar o que não funciona no cinema, criando, assim, algo que todas as audiências podem apreciar sem ofender a inteligência do espectador.

Mas como Hollywood não tem usado muito a criatividade ultimamente, temos "Se Eu Ficar", baseado no bestseller publicado em 2009 por Gayle Forman, estrelado por Chloë Grace Moretz e dirigido por RJ Cutler  - em seu primeiro longa - que ilustra bem o exemplo acima.



Como Gayle Forman acompanhou de muito perto a produção dos roteiros, temos um filme que segue, na medida do possível, bem de perto, a trama do livro. E isso é bem ruim quando muitas situações não funcionam num filme, onde tudo fica numa escala muito maior do que a imaginação do leitor e acabaria formatando-o a um público muito específico.

Mesmo assim, algumas alterações -em relação ao livro - tomadas pela roteirista Shauna Cross (de "Garota Fantástica") tornaram a trama ainda menos palatável a quem curte um bom filme. Por exemplo, quando Mia e sua família sofrem o acidente, vemos a protagonista machucada de forma um tanto quanto superficial com alguns arranhões e contusões enquanto que no livro temos descrições detalhadas de fraturas expostas e que ela até precisaria de uma cirurgia plástica no rosto - "isso se ela tiver sorte", como diz um dos médicos.



Pode ser que tal decisão tenha sido tomada para reduzir a classificação etária do filme, vai saber... Mas isso criou o principal problema da adaptação: perdemos a gravidade do que aconteceu e achamos que está tudo relativamente bem, uma vez que ela está "somente" em coma.


"Quando optaram por "poupar" o espectador das cenas mais drásticas em favor do excesso de situações amorosas adolescentes, terminaram por sepultar o pouco interesse do espectador comum pela trama."

Chloë Grace Moretz estrela sua segunda adaptação literária - esteve antes em "Carrie - A Estranha", baseado na obra de Stephen King - e se dedicou de fato ao papel, inclusive tendo de aprender, em apenas três meses, a tocar um violoncelo. Pena que a personagem não tenha a profundidade dramática que a atriz poderia desempenhar de forma melhor, desperdiçando sua ótima composição.

Já o ator Jamie Blackley (de "Branca de Neve e o Caçador") convence como um integrante de banda de rock e até se arrisca na guitarra e no vocal.

(Foi criada uma banda exclusivamente para o filme - Willamette Stone - cujas canções lembram Switchfoot e tiveram supervisão musical de Simon Tong, que já tocou com Gorilaz e Blur)

Mas certamente agradará o público alvo.


Kal J. Moon está tão indeciso quanto Mia. Melhor não ficar...

Sinopse:
Mia Hall (Moretz) acreditava que a decisão mais difícil que enfrentaria em sua vida seria ter que escolher entre seguir seus sonhos na escola de música Juilliard ou trilhar um caminho diferente para estar com o amor de sua vida, Adam (Blackley). Mas o que deveria ter sido um passeio despreocupado com sua família muda tudo repentinamente e agora sua própria vida está em jogo. Quando se vê entre a vida e a morte, Mia tem pela frente apenas uma decisão que irá determinar não somente seu futuro, mas também seu destino. 



Lançamento: 04/09/2014
Direção: R.J. Cutler
Roteiro: Shauna Cross (baseado no romance de Gayle Forman)
Elenco: Chloë Grace Moretz, Mireille Enos, Jamie Blackley, Joshua Leonard, Liana Liberato, Aisha Hinds e Stacy Keach
Distribuição: Warner Bros. Pictures