Ousadia é privilégio de poucos, mas quando esta qualidade está relacionada ao diretor Richard Linklater, esta toma nova dimensão e se torna, porque não dizer... exclusiva.

Após ter entregue ao mundo a trilogia "Antes do Amanhecer" (1995), "Antes do Por do Sol" (2004) e "Antes da Meia-Noite" (2013), estrelada por Ethan Hawke e Julie Delpy, Linklater nos brinda novamente com um obra incomum, que durou 12 anos para ser produzida e que já levou (até o momento) 10 prêmios, entre eles o Urso de Ouro do Festival de Berlin.

"Boyhood: Da Infância à Juventude", longa filmado em apenas 45 dias entre maio de 2002 e (pasmen) agosto de 2013, finalmente entra em cartaz e nos mostra que existe espaço em Hollywood para projetos corajosos. Pena que não é apenas com coragem e ousadia que se sustenta um bom filme. Pela longevidade do processo de produção, este drama nos permite acompanhar a evolução dos jovens atores Ellar Coltrane e Lorelei Linklater. Assistir seu crescimento natural e amadurecimento artístico em 165 minutos é um dos pontos altos da produção, assim como a química entre Ethan Hawke e Patricia Arquette, que vai aumentando conforme a fita vai se desfazendo.


Porém, até mesmo por retratar os 10 anos entre a infância e a juventude de Mason (Coltrane), o filme deixa a sensação de que estamos assistindo à uma compilação de registros familiares enfadonhos. O roteiro não aproveita bem os ganchos para situações conflituosas. Algumas cenas são dispensáveis, uma vez que não agregam nada à compreensão da história ou à motivação das personagens. Assim sendo, "Boyhood: Da Infância à Juventude" não passa de um filme sem atrativos no que diz respeito à trama principal. Além disso, a duração do filme deixou em mim a impressão de que eu passei 12 anos na poltrona do cinema. O longa é tão longo (desculpem-me o trocadilho), que se parece com uma versão do diretor. Merecia mais um corte para deixá-lo mais enxuto.

Cheio de referências à cultura pop (algumas já obsoletas como a que cita "Star Wars VII") e com uma pegada indie que pode agradar hipsters e a garotada entre 16 e 19 anos, estas, que vivenciaram na carne o mesmo tempo que Mason, "Boyhood: Da Infância à Juventude" não é a obra-prima que prometia ser, mas pode encontrar seu lugar entre uma parcela inesperada dos fãs da sétima arte.



Marlo George assistiu, escreveu e está velho demais (e saudosista de menos) pra curtir este tipo de filme.

Sinopse: Com produção de Cathleen Sutherland e Richard Linklater, o longa de ficção faz uma viagem épica e intimista pela infância do personagem Mason e expõe as mudanças que acompanham a vida do menino, dos 6 aos 18 anos. Os primeiros amores, os conflitos em família, a mudança de escola e o sentimento constante de desgosto e admiração são alguns dos temas retratados no filme que é considerado a nova sensação no cinema dos Estados Unidos. Estreia em 30 de outubro no Brasil.