É possível rir MUITO assistindo um documentário sobre o cinema turco? Bem, o diretor Cem Kaya prova que sim com seu filme "Remake, Remix, RipOff", que está na programação do Festival do Rio 2014.


A fina arte da cópia velada
Quando este documentário se inicia, de maneira burocrática e severamente educativa, o espectador pode até pensar que entrou na sala errada ou que talvez seria bem mais razoável assistir algo do gênero na tela de sua TV.

Porém, poucos minutos depois, pode-se perceber que há uma rica ironia ao se contar a trajetória do cinema turco como uma reinvenção a partir do que era feito nos EUA durante as décadas de 1960 e 1980.

Pagar direitos autorais a fim de produzir uma adaptação? Besteira! O negócio era manter a rica indústria cinematográfica turca a partir da cópia, transformando tudo numa história que acabava se misturando à cultura daquele país.

Versões quase "suecadas" de Star Trek, Tarzan, Rambo - que tinha nomes como "Rampage" ou "Ramo" -e Drácula, dividia espaço com adaptações de "A Queda da Casa de Usher", "O Morro dos Ventos Uivantes", dentre outros clássicos.

Tudo feito às pressas, à toque de caixa, como se não houvesse amanhã. O resultado? Sucesso imediato! Famílias inteiras iam aos cinemas, esperavam horas nas filas para assistir, semanalmente, o que era produzido às centenas.

Aos nossos olhos, talvez seja bizarro assistir um filme onde o mocinho era um heroi cujo traje era uma mistura dos uniformes do Superman (logotipo no peitoral e capa), Batman (cinto de utilidades com logotipo e capuz) e Fantasma (sunga listrada) que luta contra um vilão vestido de Homem-Aranha... Mas para aquele público, isso era a maior diversão pois era dessa forma "torta" que chegava a cultura que vinha de fora. Era como se tudo passasse no liquidificador antes, com fortes doses de tempero local, para que pudesse ser digerido pela audiência.

Uma das histórias mais  impressionantes contadas neste documentário é a do diretor que ROUBOU uma cópia do filme "Star Wars - Episódio IV" durante a madrugada, copiou tudo e produziu um filme inteiro com os efeitos  especiais desenvolvidos por George Lucas e companhia. O filme chamou-se "The Man That Saved The World" e foi uma das maiores bilheterias do cinema turco. Quando perguntado sobre o motivo do roubo, o diretor diz, simplesmente, que "se eu pedisse, eles não iriam me emprestar".

(Com resultados risíveis, que beira o cinema trash, o filme acabou. no circuito independente dos EUA e virou tese de mestrado numa universidade, onde o diretor pode contar um pouco de sua experiência na produção daquela verdadeira pérola)

O documentário ainda conta sobre as trilhas sonoras de filmes ocidentais incorporadas em muitos clássicos turcos. A vencedora foi a inconfundível peça de "O Poderoso Chefão", repetida à exaustão em cenas que não tinham nada a ver com o filme original. Este documentário é diversão garantida que não pode ser encontrada na TV. Afinal, cinema - ainda que turco - ainda é a maior diversão.




Kal J. Moon nem quer imaginar sua cópia no
cinema turco... Seria, no mínimo, bizarro!



Estreia: Festival do Rio 2014
Direção: Cem Kaya
>>> O diretor CEM KAYA é um dos convidados do Festival do Rio 2014

Sinopse: Entre as décadas de 1960 e 1970, a Turquia ostentava o título de um dos maiores polos produtores de cinema do mundo, apesar de sua indústria de cinema sofrer de um déficit criativo crônico: a falta de roteiristas. A fim de manter o fluxo de filmagens, produtores turcos copiavam roteiros e argumentos de produções internacionais. Assim, para qualquer título de sucesso, como Tarzan, Drácula ou Star Trek, passou a existir uma versão turca. Este documentário nos apresenta a época de ouro do cinema popular turco, quando os diretores deviam ser rápidos e os atores resistentes.