Um filme sobre relacionamentos humanos.

No ano passado fomos surpreendidos pelo maravilhoso filme do diretor Spike Jonze, "Ela", que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original. O longa retrata o estilo de vida dos terráqueos em um futuro não muito distante, no qual o "relacionamento amoroso" de um homem com uma máquina é possível por conta dos avanços tecnológicos. Alguns anos antes, em 1993, pudemos ver a excentricidade do sexo virtual praticado por Sylvester Stallone e Sandra Bullock em "O Demolidor", de Marco Brambilla.

Em ambos os casos, a tecnologia interferiu na vida das personagens para "melhorar" suas relações sociais. No primeiro provendo uma parceira ideal para o anti-social Theodore e no segundo evitando a contaminação por contato pessoal entre John Spartan e Lenina Huxley.

Porém, "Ela" e "O Demolidor" apresentam como cenário uma Terra futurista. "Homens, Mulheres & Filhos", ao contrário, se passa no presente, mas aborda, de modo realista, o mesmo tema: Como a tecnologia pode atrapalhar os relacionamentos humanos.


Jason Reitman, que já tinha nos presenteado com "Juno" (2007), mostra mais uma vez à que veio com um filme cheio de astros hollywoodianos e novos talentos, mas que é inegavelmente protagonizado por celulares, smartfones, IPads, IPods e outras bugigangas que nos conectam no mundo virtual. O modo como a tecnologia vem, aos poucos, tendendo à criar barreiras entre as pessoas é tratado com primor no roteiro, que é assinado pelo diretor e por Erin Cressida Wilson, baseado no romance de Chad Kultgen.

Narrado pela atriz vencedora do Oscar por "Retorno a Howards End", Emma Thompson, o longa conta a história de várias famílias desfuncionais que tem seu cotidiano afetado pelo uso irresponsável da tecnologia. Donna Clint (Judy Greer), uma atriz frustrada, expõe sua filha, Hannah (Olivia Crocicchia), na internet, explorando sua juventude e sensualidade em busca de quinze minutos de fama. Já Patricia Beltmeyer (Jennifer Garner) é uma mãe super protetora que controla a vida virtual de Brandy (Kaitlyn Dever) ao ponto de impedir que a filha se envolva com qualquer pessoa que não tenha sua prévia aprovação.

Don Truby (Adam Sandler) e Helen Truby (Rosemarie DeWitt), um casal com problemas de comunicação, vê a solução para sair da rotina em relacionamentos extra conjugais, arranjados através da internet. Eles estão tão afundados em seus próprios dilemas, que fazem vista grossa para os do filho, Chris (Travis Tope), um rapaz popular no colégio que tem problemas de impotência, após anos masturbando-se em frente ao computador.

Dean Norris interpreta Kent Mooney, um treinador de futebol americano que tem de lidar com a falta de interesse de Tim (Ansel Elgort) pelo esporte, por estar mais interessado em um MMORPG. Já J.K. Simmons precisa lidar com a bulimia de sua rebenta Allison (Elena Kampouris), incentivada por uma rede social de conteúdo nada saudável.


O interessante em "Homens, Mulheres & Filhos" é o modo como atores veteranos sedem voluntariamente espaço para que brilhem os novos talentos. Todos os atores juvenis destacam-se no filme, enquanto o elenco estelar com competência serve de escada para lançá-los a um alto nível de atuação. Apesar disso, não posso deixar de render-me à Adam Sandler, que está inspiradíssimo e nos entrega um personagem coerente, após anos de interpretações com cara de "mais do mesmo". Se a pretensão é alcançar uma indicação ao Oscar, pode ser que seja frustrada, mas não posso deixar de reconhecer o seu valor neste filme em particular.

"Homens, Mulheres & Filhos" é um longa com assinatura de diretor e de envergadura inconteste. Trata de um assunto atual sem perder o foco, apesar da trama entrelaçada.

Se se tornará um clássico ou se ficará datado? Só o tempo dirá...


Marlo George assistiu, escreveu e sabe como se usa um celular, mas ainda não aprendeu a usar as três conchas.