O diretor Adam McKay, conhecido por dirigir filmes cômicos estrelados por Will Ferrell, como "Tudo por um Furo", "Quase Irmãos"  e "Os Outros Caras", deixa de lado a comédia, e sua estrela favorita, para nos apresentar o drama  biográfico "A Grande Aposta", longa baseado no livro de Michael Lewis "The Big Short: Inside the Doomsday Machine" que tem como pano de fundo a "bolha" imobiliária que assustou os Estados Unidos quase uma década atrás.

No filme conhecemos Michael Burry (Christian Bale), sujeito antissocial e imprevisível que encontra um novo meio de criar uma especulação financeira através do sistema imobiliário americano. Visionário e ousado, Burry faz uma aposta arriscada, comprometendo quase que totalmente o capital da empresa em que trabalha em uma jogada que só ele acha que vai dar certo. A manobra de Burry é notada por Jared Vennett (Ryan Gosling), que a repassa para uma outra empresa de Wall Street, liderada por Mark Baum (Steve Carell). Com proporções apocalípticas, mas com possibilidade de gerar lucros fenomenais, Baum decide entrar na parada e deste modo as peças são colocadas na mesa e o jogo começa.

Muito bem escrito pelo diretor e por Charles Randolph, o roteiro ousa ao tratar de um tema complicado como o sistema imobiliário e financeiro estadunidense com um certo toque de bom humor, que é uma das marcas de McKay.  Quando pensamos que tudo o que está sendo dito pelas personagens soa confuso, eis que o diretor nos brinda com a presença de uma celebridade hypada, como Margot Robbie, Selena Gomez, entre outras, para nos explicar de modo curriqueiro, e bem mastigado, tudo aquilo que nos parecia complicado demais. Isto torna mais fácil a compreensão do tema proposto, especialmente para o público de fora dos EUA.

A edição dá ao filme o ritmo frenético de um filme de ação, mas em "A Grande Aposta" não há explosões, lutas ou outros efeitos especiais. Há manobras, brigas por debaixo dos panos e maquiavelismos. Também não há heróis ou vilões. Há interesses.


Ryan Gosling, que narra o filme, não está bem e novamente não convence. Sinceramente, não sei como ele conseguiu sustentar a carreira até hoje, uma vez que sempre foi limitado dramaticamente. Por outro lado, Steve Carell novamente convence como ator de filmes dramáticos, como o fez em Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo, mostrando maturidade artística . Está possivelmente em seu melhor momento da carreira.

Brad Pitt também faz parte do elenco, vivendo o bancário aposentado Ben Rickert, um papel pequeno, mas conveniente para Pitt, que entre além de atuar, produziu o filme. Aparece pouco, mas demonstra mais uma vez que é igual ao vinho. Quanto mais envelhece, melhor ator ele se torna.

Mas todas as atenções se voltam para Christian Bale, que exagerou na tinta mas entregou seu personagem com uma verdade raramente vista. Não sei não, mas sinto cheiro de Oscar no ar.

O filme traz também participações de Marisa TomeiHunter BurkeKaren Gillan.

Com trilha sonora original esperta, "A Grande Aposta" é recomendadíssimo.



Marlo George assistiu, escreveu e  também ouve "Master of Puppets" para se concentrar.