Com um atraso de dois anos chega aos cinemas brasileiros a versão live-action de Black Butler: O Mordomo de Preto (Kuroshitsuji), mangá de Yana Toboso que é publicado no Brasil pela editora Panini. Com distribuição da Sato Company, o longa será exibido em cinemas selecionados.


Co-produzido pela divisão japonesa da Warner Bros. Pictures e dirigido por Kentarô Ohtani (Nana) e Kei'ichi Sato (Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário), Black Butler: O Mordomo de Preto traz a mesma história do mangá, porém com algumas diferenças.

A adaptação se passa em um futuro próximo, em um cenário distópico e high-tec, enquanto nos gibis de Toboso a trama se desenvolve em pleno século XIX. Em um mundo futurista a presença do demônio Sebastian Michaelis (Hiro Mizushima) é menos assustadora do que em um passado distante. Há até uma citação de que a família Genpo é uma dinastia que remonta ao século XIX, mas isso não é bem desenvolvido no roteiro. Levar a trama para 2020 talvez tenha sido, em parte, mais interessante para os produtores em termos de orçamento, pois uma direção de arte em estilo vitoriano é cara e mais propensa a falhar ao contextualizar aquele período histórico, porém, tive também a impressão de que a intenção era aproximar este filme de franquias bem sucedidas em termos de bilheteria como Jogos Vorazes, Maze Runner e Divergente. O problema é que o público deste tipo de filme (indubitavelmente os fãs do mangá e de cinema asiático) não é o mesmo que curte as peripécias de Katniss, Thomas ou Tris, ou seja, o público comum dos cinemas, que possivelmente torceria o nariz ao assistir um filme falado em japonês.

Outra divergência digna de nota é o fato de a personagem protagonista ter tido seu gênero alterado. No filme ela é Shiori Genpo, já na história original ele é Ciel. Não tenho essa informação, mas talvez esta decisão tenha sido tomada para evitar cenas de homossexualidade latente entre Ciel e Sebastian, que chegam a ocorrer no mangá e no anime, e até mesmo a insatisfação de parte do público pela sua ausência, uma vez que, de maneira análoga, não há qualquer tensão amorosa/sexual entre Shiori e o demônio.


Apesar do acerto ao usar a estética anime, que irá agradar os otakus (fãs de cultura pop japonesa) e o excelente trabalho dos dublês que proporcionam cenas de ação que nada devem aos longas de Hollywood, o filme peca fatalmente em seu roteiro que é uma verdadeira bagunça. A trama é totalmente desenvolvida em pouco mais de uma hora de filme, porém a conclusão é longa, levando mais ou menos 40 minutos, sendo seguida de um encerramento sonolento e igualmente longo. Tendo em vista a fonte, o roteiro deveria ter sido muto melhor escrito, desenvolvendo as relações de parentesco entre Ciel e Shiori, o que justificaria a mudança de cenário e até mesmo a história pregressa de Sebastian, que acaba aparecendo no filme apenas como um demônio que negocia favores em troca de almas e que fica fazendo pose e beicinho.

Equivocado, longo, piegas e com elenco blasé, Black Butler: O Mordomo de Preto irá agradar os fãs do gênero, em especial aqueles que se sentem carentes deste tipo de produção nos nossos cinemas, mas desapontará certamente o restante do público.


Marlo George assistiu, escreveu e fica confuso vendo tanta gente andrógena nos filmes asiáticos de hoje em dia. Que saudade do Kurosawa...