Capa e páginas de "Bravos"
(Orago Digital / Divulgação)

Uma fantasia medieval repleta de bom humor, perigos mil, ação vertiginosa embrulhadas numa aventura - ou não? - estrelada por uma raposa chamada Albuquerque e um sapo chamado Lourenço. É isso mesmo, produção?

Sim, é essa mesma a descrição de "Bravos", nova história em quadrinhos criada por Victor Moura que estreia no selo Orago Digital - da Editora Orago - em parceria com a plataforma Social Comics.

E conversamos com ele, criador dessa nova saga, sobre suas desventuras pelos quadrinhos digitais, a vida, o universo, o infinito e além...

Poltrona POP: Como surgiu a ideia da trama de "Bravos"?
Victor Moura: Queria fazer um traço mais solto, mais 'cartoon', pra dar uma variada e experimentar mais. Procurei escrever algo que me permitisse isso. Toda história que faço começa com os personagens e, no caso, eles já existiam separadamente em trabalhos meus não-publicados. Resolvi juntá-los na mesma narrativa e achei que funcionaram muito bem. Depois, foi só fazê-los seguir a trama e deixar que eles mesmos me mostrassem o caminho. Em termos visuais e narrativos, há muita inspiração no gênero de fantasia medieval e em animações que com toda certeza foram parte (consciente e inconsciente) da formulação da história. Desde animações mais 'mainstream' dos anos 1990 e atuais até a dinâmica de Cheburashka e Gena, personagens da literatura e animação soviética.
"(...) Social Comics tem potencial para exportar nossa produção da mesma forma
que a produção estrangeira é trazida até nós
" (Victor Moura)

Victor Moura
(Foto: Acervo pessoal)
PP: O que diferencia "Bravos" de outras fantasias medievais das histórias em quadrinhos?
Victor: A fantasia medieval é uma roupagem divertida de se trabalhar. Ela ambienta e ajuda a definir o tom da história. Mas em termos de personagens, conceitos e narrativas, acho que entendemos que são todas bem diferentes. No caso de Bravos, creio que essa diferença esteja em termos uma narrativa que briga consigo mesma para desconstruir a ideia de aventura. E, também, para contrastar o visual e o tom - leves com conceitos mais densos - que buscam questionar ordem, poder e bravura. Os personagens Lourenço (sapo) e Alburquerque (raposa) vão guiar os leitores por esse universo, aprofundando para além do conflito superficial e mergulhando em questões mais densas de forma bem humorada. Nessa primeira etapa da história, veremos como ambos reagem frente aos conflitos apresentados.
PP: Ter um trabalho autoral em histórias em quadrinhos significa, muitas vezes, acumular funções além do roteiro ou desenho. Como você administrou isso para publicar essa história?
Victor: É um trabalho bem puxado, sim. Mas me acostumei a fazer desse jeito. É um ponto positivo da produção de quadrinhos, na verdade. Apesar de ser um trabalho exaustivo - e até bastante isolador -, é uma ótima forma de contar uma história precisamente como você quer fazê-lo. Administrar isso é complicado. Basicamente trabalhar 24h por dia - ora no texto, ora na arte. É um dos motivos pelo qual não escrevo o roteiro. Sei onde quero ir com o argumento, mas não gosto de detalhar para que eu também seja surpreendido enquanto faço e me divirto descobrindo coisas novas a cada página. Assim não fica óbvio ou maçante em momento algum.
PP: Publicar em plataformas digitais - como a Social Comics - pode significar o futuro da viabilidade de publicação dos quadrinhos criados por autores brasileiros?
Victor: O futuro dos quadrinhos brasileiros é difícil de prever por depender de questões sócio / econômica / estruturais. Mas o Social Comics é certamente uma ferramenta que possibilita uma viabilidade sem precedentes na distribuição. A produção de quadrinhos aqui SEMPRE teve um potencial incrível. Você pega os artistas da década de 1970 e fica maluco com a qualidade do trampo. Mas, embora a produção seja boa, a distribuição passa pelos gargalos que todos nós sabemos. Gargalos que impedem que quem produz fora do escopo comercial atinja o público, chegue às lojas etc... E não por questões qualitativas, é claro, mas por questões de mercado. É uma complicação que atinge vários setores de produção nacional, não só o de quadrinhos. E acho que temos que nos esforçar para não cair na caricatura de que esse problema não tange as questões sistêmicas do controle dessa distribuição. Em minha opinião, é aí que mora a relevância do Social Comics - que tem dado grande apoio ao quadrinista independente. Esse formato de publicação pode cobrir a distribuição e fazer com que o público tenha acesso ao que é produzido de fato. E não só a parcela do que é produzido e que atinge o grande público - porque tem formas de investir - invasivamente em todo tipo de propagandas e acordos que permitam que, a cada curva que você faça pela cidade, esteja a vista um banner gigante do produto. Ou que o mesmo seja visto em todas as prateleiras das grandes lojas porque sustenta financeiramente acordos que não permitem abertura para quem não pode bancar essa competição de investimentos. Há aí um forte potencial de democratização da distribuição. O Social Comics tem potencial até para exportar nossa produção da mesma forma que a produção estrangeira é trazida até nós. Levando nosso conteúdo não só para o país inteiro, mas também para o resto do mundo.
PP: O que o leitor NÃO pode esperar de "Bravos"?
Victor: Obviedades. O leitor vai se deparar com um esforço genuíno para não cair no óbvio. Seja pelo conteúdo ou até mesmo pela forma como o conteúdo é apresentado e desenvolvido. O leitor disposto a enxergar as entrelinhas vai ter aí mais uma camada de diversão.
A Equipe Poltrona POP agradece a Victor Moura e à Editora Orago pela entrevista.
Lembrete: A primeira edição de "Bravos" - assim como "Édipo" (de Osmarco Valladão) e "Camera Obscura" (de Marcelo Salaza e cia)  será disponibilizada na Social Comics, plataforma digital de histórias em quadrinhos, a partir do dia 13/08/2016. Fiquem ligados!