Diálogos afiados, inspirados no humor. Romance. Direção de fotografia impecável. Eficiente direção de atores. Trilha sonora incidental com pitadas de jazz. E, claro, muitas provocações ao judaísmo e ao cristianismo.
Deliciosamente ordinário
Os roteiros que Woody Allen entrega em seus filmes tem um quê de literário, ainda que estranhamente familiar. Aqueles seres esquizofrênicos, preocupados com a aparência e falando nervosamente feito uma metralhadora giratória bem que poderiam ser aquele seu conhecido. Ou, quem sabe, poderiam ser até mesmo você...
Na trama, vemos que, à procura de mais oportunidades na vida, Bobby (Jesse Eisenberg) troca o trabalho com o pai em Nova York por Hollywood, onde terá uma oportunidade com o tio Phil (Steve Carell). Logo ele se apaixona pela charmosa assistente do tio, Vonnie (Kristen Stewart). Ao descobrir que ela já está envolvida com outro homem, Bobby volta para Nova York onde conhece a linda socialite Veronica (Blake Lively). Tudo parece caminhar bem para Bobby até Vonnie chegar inesperadamente a Nova York...
(Resumindo: é aquela velha história de rapaz conhece moça, se apaixonam mas não ficam juntos pois um deles prefere o conforto a viver um grande amor - algo digno de novela das seis, certo?)
(Resumindo: é aquela velha história de rapaz conhece moça, se apaixonam mas não ficam juntos pois um deles prefere o conforto a viver um grande amor - algo digno de novela das seis, certo?)
Mesmo com uma trama simples como essa, foi um filme bem problemático para Allen. Foi o primeiro filme do diretor capturado de forma inteiramente digital - e isso afeta radicalmente o aspecto visual de muitas cenas, ainda mais com uma história que se passa entre as décadas de 1930 e 1940. Também foi o primeiro filme sem o produtor-executivo Jack Rollins - morto em 2015 aos 100 anos de idade -, que gerenciou a carreira de Allen e colaborou com ele por mais de 45 anos.
Woody Allen precisou substituir, às pressas, Bruce Willis por conta - dizem - de seu comportamento e sua incapacidade de memorizar falas. O substituto é ninguém menos que o sempre competente Steve Carell...
Falando nisso, "Café Society" tem uma escolha bem estranha de elenco. A começar por Jesse Eisenberg, que até convence no conjunto mas ainda se prende a trejeitos ~semi-teatrais e grunhidos agudos (e irritantes) da mesma forma que seu Lex Luthor em "Batman V Superman".
Allen ainda fez questão de escolher - ou foi forçado, vai saber (ela nem fez teste para o papel) - Kristen Stewart para ser disputada entre dois homens (De novo? Sério mesmo?).
Ainda assim, Allen cumpre tudo o que promete. É um filme bem mais simples - talvez para testar novas formas de contar histórias, talvez pelo cansaço... Porém, ainda é um legítimo exemplar do material que estamos acostumados a assistir vindo desse senhor roteirista e diretor. Não, não é um clássico, não deve concorrer a prêmios, mas cumpre o papel de entreter.
No fim das contas, é o mesmo Woody Allen de sempre: sarcástico, mordaz, romântico, contemplativo... Porém, um pouco mais triste. E, ainda assim, muito engraçado. Irônico, não?
Kal J. Moon vive cada dia como se fosse o último. Um dia, ele estará certo...