Novo filme da franquia "Cinquenta Tons" traz pouco sexo e ousadia

Em primeiro lugar, não li os livros de E.L. James. Não sou parte do público alvo e a única experiência que tenho no universo criado pela autora foi o terrível primeiro filme da franquia Cinquenta Tons, lançado em 2015. O novo filme, que está invadindo os cinemas essa semana, traz um pouco mais do mesmo e deve agradar aos fãs dos livros. Mas infelizmente não me agradou.

Cinquenta Tons Mais Escuros, apesar do tremendo esforço do roteiro em tentar criar situações
― e apresentar novas personagens ― que ameacem o romance do casal protagonista, não passa de um filme previsível. Anastasia Steele e Christian Grey, que novamente são vividos por Dakota Johnson e Jamie Dorman, iniciam sua nova aventura do ponto onde o primeiro filme terminou e o desfecho desta sequência intermediária (o último filme da série será lançado no ano que vem) eu matei nos primeiros 15 minutos de exibição.


Se esta sequência tem alguma serventia é a de criar um background maior para os personagens principais. Christian Grey tem todos seus demônios, vícios e amarguras expostos neste filme. Isso humanizou um pouco mais a sua persona, que até então me parecia um personagem sem conteúdo. Outro ponto explorado na trama é a indecisão de Steele em relação à retomar um relacionamento com o magnata, propondo-lhe um novo acordo, enquanto sombras do passado de Grey retornam para tornar o caminho romântico do casal mais escuro.

Em Cinquenta Tons Mais Escuros pude ver que Grey é bem mais que apenas um pervertido e Steele algo além de uma princesinha virginal. Esse foi o ponto alto do filme. Certamente o aprofundamento das personagens se deu de maneira tão bem sucedida pelo fato do roteirista, Niall Leonard, ser marido da escritora dos livros, E.L. James. Ambos devem conhecer estes personagens muito bem e sua proximidade deve ter rendido discussões que possivelmente acabaram no script do filme. Só para constar Leonard não caiu no projeto de paraquedas. Ele tem uma carreira longa e já escreveu para diversas séries de TV, e alguns longa-metragem, porém, nada digno de nota.

Mas isso não quer dizer que o roteiro seja bom, longe disso. Sem diálogos interessantes, cenas de sexo sem imaginação e as já citadas sacadas previsíveis, Cinquenta Tons Mais Escuros é mais entediante do que excitante.


O elenco de modo geral atua no automático, apesar do reforço adicionado por Kim Basinger, que está muito bem. James Dorman está bem mais solto e experiente que no filme anterior, mas ainda está longe de ser considerado um ator talentoso.

Dakota Johnson continua bonitinha, mas não apresentou um bom trabalho. Ela até tinha me convencido no primeiro filme, mas dessa vez não rolou. Já Rita Ora tem pouco tempo de tela e com suas poucas linhas não dá pra analisar bem sua performance. Foi prejudicada pelo roteiro ruim.

Acho que o grande problema dessa franquia está justamente no escândalo que foi provocado quando da publicação do primeiro livro. Eu disse isso, em 2015 na minha crítica de Cinquenta Tons de Cinza, e vou repetir: Esses dois filmes não são capazes de incomodar os mais puritanos e nem de saciar o desejo dos mais sacaninhas. Isso acontece porque ambos foram produzidos, possivelmente à pedido das produtoras envolvidas, para entreter e excitar jovens adultos, ao invés de assustar e escandalizar todo o público. A sensação que tive é a de um produto pasteurizado, sem aquele toque de mestre, que a obra original parece ter, pra ter causado tamanho frisson. A falta de material mais quente, apelativo e provocante do filme original, já tirou muito do interesse do público nesta sequência. Agora, com a mudança de direção e roteiro, era a hora de mostrar que o casal Christasia do cinema é tão, ou mais, "safadinho" que o dos livros.

Cartucho queimado. E o próximo longa deve seguir a mesma linha, pois já está pronto e carrega o mesmo DNA.



Marlo George assistiu, escreveu e quer ver a versão do Abdellatif Kechiche, assim que fizerem um remake dessa franquia. Pode ser que convença.